Após um longo dia de trabalho ou uma cansativa semana, eis que você consegue aquele horário para o justo descanso. Veste o pijama, deita na cama e alguém começa a conversar alto demais na rua. ¿Ok, vou só fechar a janela¿, você pensa. Mais tarde, já no segundo estágio do sono, alguém na festa na casa do vizinho resolve abrir o porta-malas do carro e ligar aquele som alto. Você pode até ligar, gritar e pedir, mas talvez encontre solução para a irritação chamando a polícia. É a conhecida ocorrência por perturbação do sossego: a falta de educação que vira caso de polícia e tem movimentado muitas viaturas em Blumenau.

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Em determinados momentos nos finais de semana, não é nenhum exagero dizer que quase metade de todas as ocorrências em andamento atendidas pela Polícia Militar na cidade são de desordem. Seja por som alto, algazarra ou algo do tipo, é um fato recorrente que foi registrado 4.854 vezes em Blumenau entre o começo do ano e o último domingo. Apesar de o número ser menor que o de 2016 — segundo as estatísticas da PM, de janeiro a 30 de junho do ano passado, foram 7.228 —, em certo momento da última semana, das 300 ocorrências registradas em 24 horas, 124 eram de desordem, conforme o sistema da polícia.

— É o nosso dever atender qualquer tipo de ocorrência, vamos atender todas, mas é algo que impacta muito na vida do cidadão de bem que só quer descansar no fim de semana. E incomoda também o trabalho da PM que poderia estar fazendo rondas nas ruas para proteger contra assaltos e furtos. É inadmissível para a educação que metade das ocorrências atendidas sejam por som alto — destaca o comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, o tenente-coronel Jefferson Schmidt.

Por se tratar de um tipo de caso que se repete muito, há uma preocupação da Polícia Militar também com a evolução das ocorrências. A irritação que cresce a cada semana convivendo com a desordem vai gerando rixas entre vizinhos que podem evoluir para uma agressão e até, em casos extremos, tentativas de ferimentos mais graves.

– Falta bom senso, as pessoas levantam os seus direitos mas não se dão conta dos deveres também. Tem que ter educação, saber viver em sociedade. A gente nem questiona, se tiver mil ocorrências vai atender as mil, mas a polícia fica que nem barata tonta indo e voltando das casas – avalia Schmidt.

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Especialista diz que trabalhos preventivos ficam excluídos

Ao gastar horas da jornada de trabalho atendendo casos de perturbação, as guarnições da Polícia Militar acabam deixando de fazer trabalhos preventivos nas ruas – como rondas – e, além disso, aumentam os gastos da corporação com combustível.

A análise é do especialista em segurança Eugênio Moretzsohn, que vê na conscientização o caminho para amenizar o volume de casos:

— O poder público precisa arcar com os custos de campanhas educativas, chamando a atenção para a necessidade de respeito e obediência às normas que regulamentam a convivência social. Numa época em que a transgressão é mais valorizada que a obediência, não será tarefa fácil nem rápida, mas precisamos começar.

Para Moretzsohn, a Polícia Militar não deve deixar de atender esse tipo de chamado, exatamente para evitar que os conflitos se resolvam de forma bruta, ¿na bala¿, como antigamente.

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— O sujeito que faz isso acredita piamente na impunidade e, se for abordado pela PM e conduzido à delegacia, horas depois estará de volta. Isso é resultado da falência dos valores e dos péssimos exemplos, sem falar que o Judiciário tem uma porta giratória — avalia o especialista.