Por enquanto, apenas o futuro trevo com a SC-281 começa a ganhar silhueta. As obras dos 14 quilômetros iniciais do contorno viário da Grande Florianópolis licenciados pelo Ibama começaram nesta quinta-feira pela manhã no Km 215,2 na área rural de São José. Por causa de apenas 28% do traçado liberado para as máquinas, as tão esperadas obras do contorno despertam desconfiança da população sobre a conclusão dos prazos.

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A maior parte dos 50 quilômetros de todo o complexo ainda aguarda a emissão da Licença de Instalação do órgão ambiental para começar a ser desenhada. Dos 14 quilômetros iniciais, o foco foi concentrado num trecho de quatro quilômetros entre as localidades de Granja Macedo e Pedreira Cedro. A área tem projetos sem necessidade de readequação e a maior parte dos lotes já foi desapropriada.

Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS

Primeiro, a obra deve avançar gradativamente a partir do trevo rumo ao norte. Segundo o gerente de planejamento da Autopista Litoral Sul, Marcos Guedes, a previsão é concluir os quatro quilômetros iniciais em aproximadamente oito meses. Paralelamente, as frentes de trabalho se concentram do outro lado da rodovia estadual para dar seguimento ao trecho de 10 quilômetros restantes.

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No conjunto, estão previstos dois viadutos, quatro pontes e a rótula de interseção com a rodovia estadual. No limite entre São José e Palhoça, quatro túneis ainda precisam de ajustes nos projetos. O conjunto tem 24 meses para ser concluído.

– Temos a licença até o túnel dois. Até a obra chegar lá, nós temos um tempo para finalizar os projetos e entregar – calcula.

Ontem pela manhã, operários faziam o levantamento topográfico no Km 215, no futuro trevo, e trabalhavam na implantação de cercas – para evitar que o gado invada o canteiro. Durante o próximo mês, máquinas serão vistas no local, preparando o aterro e a movimentação do solo para abrir o futuro desvio.

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Perto da obra, às margens da SC-281, casas já foram demolidas para dar lugar às pistas. Elas são parte das 144 desapropriações necessárias no trecho já liberado pelo Ibama. Segundo a Autopista, 41 lotes já foram negociados e outros 40 estão em fase de negociação.

Mas o início das obras do acesso à via pela BR-101 ainda é incerto. Ninguém arrisca prazo para a liberação da Licença de Instalação para o trecho de 28 quilômetros entre a BR-101, em Governador Celso Ramos, e São José e a etapa de sete quilômetros em Palhoça.

(Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS)

Otimista e realista:

Duas visões sobre o começo das obras

:: OTIMISTA

Na mais otimista previsão, pelo menos três anos são necessários até que os usuários possam circular pelos 50 quilômetros do Contorno Viário da Grande Florianópolis. O gerente de Planejamento da Autopista Litoral Sul, Marcos Guedes, afirma que o prazo contratural da obra será cumprido na expectativa de que as licenças do Ibama e da Funai sejam expedidas nos próximos quatro meses.

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Mas Guedes reconhece que o limite de três anos pode ser apertado. A Autopista Litoral Sul aguarda o aval da Funai para que o Ibama emita a licença e finalmente libere toda a obra. A empresa espera que em quatro meses o restante do contorno tenha autorização para receber as máquinas.

De todo o trecho, o gerente reconhece que os 14 quilômetros liberados até o momento têm menos problemas, porque não apresentam desníveis consideráveis no solo.

O trecho de Palhoça é o mais complexo, devido aos seis túneis que ainda precisam ser aprovados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Em Biguaçu, a execução da obra pode ser mais lenta devido à necessidade de estabilizar o solo argiloso.

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– Nossa meta é fazer dentro do prazo contratual: três anos. Só que tem os túneis, que são bem mais complexos – pontua Guedes.

A ANTT foi procurada pela reportagem para responder sobre os prazos previstos no contrato e a aplicação de recursos na obra, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

:: REALISTA

Ao ter todos os licenciamentos em mãos, concluir todo o Contorno Viário da Grande Florianópolis em três anos é possível. A avaliação é do engenheiro Ricardo Saporiti, consultor da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) e autor de estudo sobre as vantagens e urgências do complexo viário. Mas o prazo só é realista se não houver mais imprevistos daqui para frente.

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– O prazo é viável desde que não haja mais complicações administrativas, falta de licenciamentos do Ibama, da Funai. Só que tem que ter dinheiro e todas as licenças – pondera.

Para o engenheiro, será um grande avanço se for possível executar em 24 meses o trecho entre o Rio Inferninho (Biguaçu) e o acesso a São Pedro de Alcântara (SC-281), que permitirá um desvio do movimento intenso do perímetro urbano de São José. O trecho mais crítico, no entanto, é o de Palhoça, que sofreu alteração no traçado e terá seis túneis.

Saporiti compara ainda a construção das seis estruturas ao Túnel do Formigão, em Tubarão, na BR-101. A preocupação do engenheiro será o custo das alternativas, e ele suspeita que poderá haver aumento da tarifa de pedágio para compensar os investimentos. Com pouco mais de 900 metros de extensão, o túnel no Sul do Estado está orçado em R$ 57 milhões.

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Para Alisson Micoski, secretário-geral da Associação dos Usuários de Rodovias de Santa Catarina, três anos é muito tempo.

– Esta obra já foi paga e deveria ter sido entregue. A gente lamenta que uma obra vital esteja em atraso e vai começar a conta-gotas – critica.

(Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS)

Foto: Alvarélio Kurossu/Agência RBS

:: COMO FOI ATÉ AGORA

? Licenciamento ambiental: Desde agosto do ano passado, quando protocolou o Estudo de Impacto Ambiental no Ibama, a Autopista Litoral Sul aguardava a Licença de Instalação para começar os 50 quilômetros do contorno viário. Somente nove meses depois foi emitida a liberação, e para o trecho de apenas 14 quilômetros de menor complexidade.

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? Mudança de Projeto: O traçado da obra sofreu várias alterações em relação à proposta original. A mais significativa foi em Palhoça, porque a prefeitura permitiu, em 2012, a construção de um condomínio residencial no traçado por onde passaria o contorno.

? Custo da Obra: Devido às alterações do projeto, o custo da obras praticamente dobrou, principalmente pela inclusão de seis túneis no trecho de Palhoça, que ainda aguardam a aprovação da ANTT. Devido ao impasse, o orçamento final dos 50 quilômetros de obras ainda não foi contabilizado pela Autopista.

? Começo conturbado: O começo das obras é reflexo da série Pedágio sob Suspeita, publicada pelo DC entre março e abril de 2013, que mostrou o faturamento abusivo da concessionária da BR-101 e o descumprimento do contrato, com a falta de execução de obras previstas na licitação. No cronograma original, a previsão de entrega das obras do contorno era fevereiro de 2012.

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