As obras de macrodrenagem do rio Mathias tiveram uma nova etapa judicial, com a apresentação da denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra dez pessoas. O AN teve acesso ao documento e faz um resumo dos motivos pelos quais um ex-prefeito, ex-secretários, empresários e engenheiros foram denunciados.

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A denúncia do MPF se restringe ao período de assinatura do convênio e a elaboração dos projetos da obra do rio Mathias, entre 2010 e 2012, durante o governo Carlito Merss. O ex-prefeito é um dos nomes que aparecem entre os denunciados pelos crimes de responsabilidade (três vezes) e falsidade ideológica.

Segundo o procurador Mário Sérgio Ghannagé Barbosa, a prática dos crimes contra a administração pública local e federal foi “institucionalizada dentro da prefeitura de Joinville” pelo então prefeito Carlito Merss, além de ser coordenada por servidores públicos em cargos de chefia.

A denúncia aponta que a formalização do termo de compromisso firmado entre a prefeitura e a União estava em desacordo com as regras estabelecidas pelo Ministério das Cidades. Isso deu início a uma contratação onerosa aos cofres públicos, fazendo com que a população pagasse mais caro pelas obras públicas com qualidade inferior, segundo o MPF.

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Além disso, outros pontos foram descritos na denúncia: as razões que levaram a um aditivo foram consideradas insuficientes pelo Ministério Público Federal; a entrega do projeto executivo também não teria atendido as especificações contratadas na licitação; e a necessidade de algumas readequações, como apontaram técnicos da prefeitura, não teriam sido atendidas.

Para a NSC TV, Carlito afirmou que não leu a denúncia, mas que a obra não foi executada durante sua gestão. Disse também que o projeto do rio Mathias já tinha sido elaborado pela administração anterior. E ainda ressaltou que foi inocentado pela comissão da Câmara de Vereadores que investigou irregularidades nas obras.

Entenda os crimes denunciados pelo MPF:

Falsidade ideológica

A denúncia aponta que a obra de macrodrenagem do rio Mathias teria sido escolhida de forma fraudulenta pelo Ministério das Cidades para fazer parte do PAC2. Isso porque o município teria apresentado uma série de documentos como se fossem um projeto básico para execução das obras com os recursos da União.

Segundo o procurador, o Programa e Ações/Modalidade, do Ministério das Cidades, priorizava obras que tivessem projeto básico de engenharia pronto ou em estágio avançado de preparação.

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 “Tendo em vista os requisitos da fase de seleção das propostas previstos no Manual de Instruções do PAC2, conclui-se que os documentos referentes à obra do Rio Mathias apresentados pelo município ao MCidades não se caracterizavam como estudos preliminares, muito menos como projeto básico”, afirma o documento.

Quatro pessoas foram denunciadas pelo MPF pelo crime de falsidade ideológica, por terem sido apontados como responsáveis pela escolha e formulação das propostas levadas pelo município ao Ministério das Cidades.

Entre eles, estão o ex-prefeito Carlito Merss, o secretário e o coordenador executivo da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, além da diretora da Unidade de Coordenação e Projeto.

Crime de responsabilidade

O MPF apontou que os dez denunciados teriam cometido o crime de responsabilidade – alguns deles mais de uma vez. Entre eles, estão Carlito Merss, dois ex-secretários de Planejamento, Orçamento e Gestão, um ex-secretário de Infraestrutura, a diretora da Unidade de Coordenação e Projeto, a presidente da Comissão de Especial de Aquisição, um empresário e três engenheiros ligados a um consórcio de empresas.

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Na denúncia, o procurador explica que alguns dos denunciados teriam admitido “modificação contratual e obtenção de vantagem indevida” em favor de uma empresa contratada para elaborar o projeto executivo das obras do rio Mathias. 

Um dos casos teria sido a aprovação de aditivo de R$ 441 mil solicitado pela empresa para fazer complementações no projeto. No entanto, o MPF argumenta que os serviços estavam previstos no contrato original e já não haviam sido executados pela empresa.

O crime de responsabilidade ainda recaiu sobre alguns denunciados por “possibilitarem e admitirem a obtenção de vantagem indevida” no valor de R$ 2,5 milhões em favor da empresa contratada para fazer o projeto executivo do rio Mathias.

Segundo o MPF, os denunciados aprovaram o pagamento por um projeto técnico especializado de engenharia “incompleto e que apresentava diversas inconsistências, como se projeto executivo e detalhado fosse, e com planilha orçamentária superfaturada”.

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A mesma denúncia de crime de responsabilidade é atribuída a outras pessoas por terem aprovado integralmente ou participado do contrato com o consórcio responsável por acompanhar o desenvolvimento do projeto executivo e validar os produtos entregues pela empresa. Teriam sido feitos pagamentos de R$ 3,1 milhões em aditivos para o consórcio.

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