O centro é para ser de inovação, mas a conclusão da obra em Blumenau tem esbarrado em algo que não tem nada a ver com a proposta do local: a burocracia. Com os trabalhos parados há dois meses, a empresa responsável pela construção do prédio no campus 2 da Furb alega que está sem receber e promete, se o dinheiro não chegar, abandonar a empreitada.
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Sócio da ZFM Administradora e Incoporadora, James Rafael Maul diz que o prejuízo já chega a R$ 700 mil. O valor seria referente a trabalhos que já foram adiantados mas ainda não foram depositados no caixa da empresa, além do pagamento de funcionários e do aluguel de máquinas que estão parados.
No centro do impasse estão diferenças entre as planilhas dos projetos executivo e arquitetônico da obra, que apresentariam divergências. O modelo foi copiado de uma iniciativa semelhante implantada em Barcelona, na Espanha, explica o vice-reitor da Furb, Udo Schroeder. Esse desenho, porém, não estaria de acordo com a realidade do terreno onde ficará o Centro de Inovação – em vez de plano, como o previsto, há um declive.
Isso resultou em adaptações que a incorporadora fez, o que gerou um aditivo próximo de R$ 500 mil. O valor, que teria sido prometido em dezembro do ano passado, não veio, segundo Maul. A reportagem tentou contato com a IDP Engenharia, responsável pelas planilhas, porém foi informada que nenhum técnico poderia dar respostas sobre o assunto e que um diretor da época retornaria a ligação – o que não ocorreu.
– Seguimos com o que dizia o projeto. Nossa empresa não parou, mas deveríamos ter parado a obra antes. Fomos na boa fé, na boa vontade. Nunca tínhamos trabalhado com o governo (se referindo a obras públicas) e essa bagunça toda – desabafa o empresário.
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A discordância dos projetos arquitetônico e de engenharia resultou em um efeito dominó que travou a liberação da segunda parcela de R$ 1,7 milhão – oriundos de um financiamento junto ao BNDES – que seria destinada à Furb para a retomada da obra. Como a universidade supervisiona os trabalhos, ela também é responsável por depositar paulatinamente a quantia para a empreiteira, de acordo com a evolução dos trabalhos. Schroeder, no entanto, diz não ter uma resposta do Estado para resolver o problema.
– O Estado ainda está discutindo a planilha e não passou nenhuma previsão. Eles (a empresa) estão dois meses parados e não aguentam mais. Devem nos questionar judicialmente e nós (a Furb) teremos que questionar o governo – conta.
O secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Blumenau, Emerson Antunes, afirma que desde sexta-feira as tratativas para por um ponto final no impasse se intensificaram. A projeção é de que a solução possa sair hoje.
– Amanhã (hoje) isso pode vir para frente. Se não acontecer, na quarta teremos uma reunião com o governador para que a decisão seja dele – afirma Antunes.
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Até lá, porém, a empreiteira diz que poderá deixar o canteiro de obras.
– Se não pagarem até quarta-feira (amanhã), a gente vai abandonar – reitera Maul.
Governo diz que imbróglio está para ser resolvido
Por meio de nota, a secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável afirma que vem trabalhando pela construção dos Centros de Inovação. Diz que o caso de Blumenau está bem encaminhado para ser resolvido e, segundo a secretaria de Estado da Fazenda, faltam algumas informações para fazer o pagamento à construtora.
Entre elas, diz a nota, está uma análise de possíveis pendências jurídicas entre a Furb e a construtora e mais alguns processos técnicos que estão em fase final. A secretaria afirma ainda estar dando o apoio necessário para solucionar a questão.
Obra tem prazo para ficar pronta
Com a promessa de ser um espaço para a criação de negócios, fomento ao empreendedorismo, incubação e aceleração de boas ideias, com laboratórios, salas de reunião, auditório e espaço para coworking, o Centro de Inovação corre o risco de se tornar um elefante branco. Isso porque, conforme o contrato com o BNDES (financiador da obra), os trabalhos precisam ser entregues até junho do ano que vem. O problema é que a evolução até agora foi de apenas 30% e a expectativa de terminar o esqueleto da estrutura até dezembro dificilmente irá se concretizar.
Sem previsão de liberação dos recursos – que já estão garantidos, vale destacar –, a ausência de trabalhos cria um aperto no prazo para o Estado, já que após o fim dessa primeira parte será preciso abrir um novo processo licitatório para o acabamento. Sem a renovação da verba, a tendência é de que o montante que não for utilizado retorne ao BNDES, o que desenrola um novo problema: buscar novamente recursos, relançar o edital de licitação, contratar uma nova empresa e esperá-la terminar a obra.
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O projeto prevê que o prédio tenha 4 mil metros quadrados. O investimento total é de R$ 7,8 milhões. A obra iniciou em janeiro do ano passado e deveria ter ficado pronta em janeiro deste ano. O edifício está sendo erguido ao lado de onde fica a antiga Casa Zadrozny, anexo ao Campus 2 da Furb, próximo à Praça dos Músicos – conhecida como praça da Gaitas Hering. No total, 13 centros de inovação como o de Blumenau serão construídos em Santa Catarina. Até agora, apenas o de Lages foi entregue.