O fervor católico dos primeiros colonizadores portugueses e açorianos dão pistas da história da arte e das expressões socioculturais em Santa Catarina. Nosso litoral é pontilhado de capelas e igrejas, marcos das primeiras ocupações depois das populações indígenas. Grande parte delas são hoje tombadas pelo Estado e a restauração dessas edificações, incluindo os santos que adornavam os altares, convida a uma redescoberta do passado por meio da arte.

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Em Florianópolis, a Igreja Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão da Ilha, é um exemplo de como a pintura era também uma forma de reverenciar a religião. Erguida em 1736, passa por obras de restauração desde 2009 e na inauguração, prevista para o dia 30, moradores poderão ver vestígios de pinturas de quase cem anos nas paredes, junto com 30 imagens sacras.

– A igreja inteira era pintada. Toda a alvenaria da nave tinha uma espécie de pintura decorativa – afirma a arquiteta Mariana Nunes Elias, gestora da obra.

As pinturas são de diferentes períodos – 1915 e 1930 -, e os autores, desconhecidos. Tudo o que se sabe é por meio de relatos e investigação científica, para identificar tipos de material utilizado e composição.

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– A intenção é dar legibilidade para o conjunto e, ao mesmo tempo, evidenciar o que foi restaurado. Não interferir esteticamente na pintura – explica Mariana.

A igreja tem 400 metros quadrados e paredes de um metro de espessura. Como nos tempos da colônia não havia muito dinheiro, tudo era feito aos poucos, inclusive a decoração. No caso da igreja Nossa Senhora da Lapa, a parte interna era ornada com florais e arabescos coloridos. Em razão dos problemas de infiltração e manutenção ao longo dos anos, sobraram apenas fragmentos.

FCC tem ateliê de conservação e restauração

O Atecor, o Ateliê de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), foi criado em 1982 por Aldo Nunes, então diretor do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em princípio para conservar as obras do acervo do museu. Atualmente é responsável por conservar e restaurar obras de arte de todo o Estado, principalmente as sacras.

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– Toda a cultura tem arte, desde seu início. A história da arte catarinense é muito antiga, mas não era nada registrado. Existiam muitos artistas, mas era produção artesanal – afirma Marcelino Donizette Correia, conservador e restaurador do ateliê, para explicar as razões de o Estado ter registrado um movimento artístico forte só a partir dos anos 1950, com o Grupo Sul.

Atualmente a equipe da Atecor trabalha na restauração, entre outras obras, da imagem de Nossa Senhora das Dores, uma escultura em madeira trazida da Bahia para a Igreja São Joaquim, em Garopaba, em 1876.

O grupo também trabalha em cima de algumas obras de Martinho de Haro para reproduzir a paleta do artista.

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– São técnicas para descobrir o material que ele utilizava. A ciência aplicada à restauração evita a falsificação – explica o químico Thiago Guimarães Costa, atualmente o responsável pelo Ateliê.