A obra de Euclides da Cunha faz eco na Alemanha – no centenário de sua morte, um encontro na Feira do Livro de Frankfurt, a maior do mundo no setor editorial, lembrou na última quarta-feira a importância e a perenidade de sua obra.

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Em um espaço chamado Forum Dialog, onde antes se discutiu o nacionalismo chinês diante da globalização, reuniram-se Claudius Armbruster, diretor do Instituto Luso-Brasileiro da Universidade de Colônia; o crítico literário Fábio Lucas; e Francisco Foot Hardman, professor de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp e colaborador do Estado.

– Que os escritos de Euclides são essenciais, não resta dúvida – disse Fábio Lucas para a plateia presente ao diálogo em torno do autor.

– Mas o que mais chama atenção é o fato de, com o passar do tempo, sua obra maior, Os Sertões, ser cada vez mais admirada especialmente pelo aspecto estilístico e não tanto pela análise científica.

Segundo ele, o escritor viveu o conflito entre ciência e arte que marcou a arte no início do século passado, em que um autor não podia desmerecer uma em detrimento da outra.

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– Mas, enquanto suas observações científicas foram, aos poucos, ultrapassadas, a força de sua prosa é cada vez mais valorizada, reconhecimento que começou com Monteiro Lobato, impressionado com a escrita de Euclides.

O confronto também foi destacado por Francisco Foot Hardman, que vai lançar um livro com a poesia de Euclides da Cunha.

– Há, em seus versos, uma conjunção de influências – observou.

– Primeiro, a forte presença do romantismo; depois, uma carga mais iluminista, anticlerical, revolucionária, em que busca de recuperar o cristianismo primário.

Hardman destacou ainda um curioso aspecto da poesia de Euclides, aquela que escreveu em fotos e cartões-postais – com um aparente tom de brincadeira, o escritor aproveitava o material e o reescrevia, permitindo que a progressão de seu trabalho fosse acompanhada a partir desse material.

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Já Claudius Armbruster lembrou da influência de Euclides em outros escritores. Como João do Rio que, em 1908, ao escrever sobre o avanço das favelas cariocas, comparou-as aos sertanejos de Canudos.

– A semelhança era tamanha que João do Rio até citou nominalmente Euclides.

Ele lembrou ainda do filme dirigido por Sérgio Rezende e inspirado em Os Sertões, chamado Canudos, e, especialmente da minissérie Desejos, que a TV Globo exibiu em 1990.

– Estive no Brasil nessa época e fiquei impressionado com a atenção do público em relação à tragédia – disse ele, referindo-se à trama, baseada unicamente no assassinato de Euclides de Cunha pelo amante de sua mulher, Dilermando de Assis – este também acabaria matando o filho do escritor.

Negócio

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou ontem uma parceria inédita com a Feira de Frankfurt.

– A empresa organizadora do evento vai abrir um escritório em São Paulo e sua primeira ação será um congresso sobre novas tecnologias, em março – anunciou Rosely Boschini, presidente da entidade brasileira.

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– Será no mesmo estilo do encontro realizado antes da feira, em que se discutiram todos os novos formatos de leitura.