A duplicação da Rodovia Antônio Heil (SC-486), que liga Itajaí a Brusque, é um sonho antigo dos dois municípios, que com o desenvolvimento econômico e social das últimas décadas veem nos 30 quilômetros da via um caminho fundamental para o turismo e para o escoamento da produção portuária.

Continua depois da publicidade

Após anos de conversas e estudos, o Departamento Estadual de Infraestrutura de Santa Catarina (Deinfra-SC) dá um importante passo para tornar essa ideia realidade daqui a duas semanas. O orçamento preliminar aponta gastos de R$ 190 milhões para a obra.

Está prevista para 10 de outubro, em local e horário ainda indefinidos, uma audiência pública para apresentar o projeto da duplicação, concluído este mês pela empresa Prosul, de Florianópolis.

Na oportunidade, a população, técnicos e autoridades vão conhecer os detalhes do projeto, para debater ajustes e encaminhar o texto para finalização e aprovação do Deinfra. Depois disso o edital de licitação da obra vai ser lançado nos primeiros meses de 2013, aí sem prazo para início efetivo dos trabalhos na rodovia.

Certo é que a duplicação será executada com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), que injetará financiamento de quase R$ 1 bilhão para obras prioritárias de infraestrutura no Estado. O projeto integra o programa Pacto por Santa Catarina, que foi lançado em julho e teve as ações para o Vale do Itajaí e o Litoral Norte detalhadas em setembro.

Continua depois da publicidade

– Essa rodovia é extremamente importante para escoar a produção regional e a duplicação é um pedido dos próprios portos de Itajaí e Navegantes para aumentar a competitividade e diminuir os custos de logística. A Antônio Heil do jeito que está, além de prejudicar a economia portuária, afeta grande número de pessoas que usam essa via pra chegar às praias ou para fazer compras em Brusque – diz Murilo Flores, secretário executivo do Pacto por SC.

Flores observa que além da data inicial da obra ser incerta também não é possível definir a duração dos trabalhos, uma vez que existem questões que fogem ao controle da execução por parte do Deinfra.

– Não podemos prever o começo da duplicação porque apesar de não ser uma obra muito longa, são apenas 30 quilômetros, ela é complicada por estar em uma região de alta densidade populacional. Provavelmente vamos precisar fazer desapropriações em algumas áreas, e isso demanda tempo, então é um trabalho complexo – explica.

Toda a extensão da rodovia será duplicada e outro ponto que vai receber atenção do projeto é a melhoria no acesso à BR-101, que é alvo de críticas de motoristas e transportadores.

Continua depois da publicidade

O maior problema é a dificuldade do tráfego de caminhões, que por consequência acabam atrapalhando todo o fluxo no trevo entre as duas cidades e a BR. O objetivo é que, com a região duplicada e o acesso reestruturado, a ocorrência de filas diminua, reduzindo também atrasos nas entregas e o número de acidentes na via.

Enquanto a duplicação ainda não sai do papel, uma marginal está sendo construída próximo ao trevo da BR, no lado direito da via, no sentido Brusque-Itajaí. A obra é particular, feita por um consórcio de empresas que vai se instalar na região.

Quando os trabalhos estiverem concluídos, porém, o trecho será incorporado pelo Deinfra por se tratar de faixa de domínio, que obriga a doação da parte do terreno para o órgão que administra a rodovia.

Acidente e muito barulho nas margens da rodovia

Alguns moradores das margens da Antônio Heil têm dúvidas sobre os benefícios ou prejuízos caso a duplicação realmente seja executada. A preocupação é que o tráfego tenha crescimento acima do que a rodovia possa suportar, mesmo ela estando duplicada.

Continua depois da publicidade

– Não sei se é bom ou ruim duplicar, porque mesmo sendo mais seguro vai aumentar bastante o movimento – destaca Angelina Veits Martins, que mora em Itajaí há 16 anos.

Registros graves envolvendo o trânsito também são comuns. Há 15 anos Vivian Demarchi, 32, presenciou o vizinho morrer em frente da sua casa, na margem da Antônio Heil, após ele colidir com uma carreta enquanto cruzava a rodovia. Tanto tempo depois, ela considera que pouca coisa mudou – e não foi para melhor.

Desde aquele acidente, o número de veículos cresceu e as condições da estrada continuam praticamente as mesmas. O resultado, então, é o congestionamento que geralmente ocorre na rodovia, em especial na área próxima do trevo da BR-101.

– Piorou bastante de um tempo pra cá, chega 18h, 19h, fica tudo parado por aqui. Tem acidente todo dia, é uma região perigosa principalmente para os pedestres. A gente pode ficar 20, 30 minutos esperando pra atravessar a rodovia e não consegue. Acho que se construir algumas travessias corretas, duplicar a Antônio Heil é uma boa solução – avalia.

Continua depois da publicidade

Em um ponto a maioria da população concorda: o som alto dos carros, motos e caminhões é diário, e incomoda.

– Nos fundos da casa a gente não escuta tanto, mas no jardim e do lado de fora do terreno é terrível, é um barulho que perturba muito – afirma Vivian.

Duplicação deve melhorar escoamento de cargas

A melhora no trânsito de caminhões que circulam pela Antônio Heil, prevista com a duplicação, deve refletir diretamente no escoamento das cargas que saem do porto público e terminal APM de Itajaí. O diretor executivo do porto, Heder Moritz, lembra que na estrada ficam um porto seco e várias empresas de armazenagem de cargas para importação e exportação.

– Boa parte das cargas que estão ali, especialmente frigorificadas, vem para o porto – explica.

Continua depois da publicidade

Moritz destaca que essa melhora logística pode refletir até mesmo no trânsito interno da cidade nos horários de pico. Além disso, talvez seja possível diminuir o número de caminhões necessários para esse transporte, devido ao ganho de tempo:

– Isso significa ganho econômico também, mas só vamos conseguir medir isso a partir da duplicação.

O Terminal Portuário de Navegantes (Portonave) informou, por meio de assessoria, que todo o investimento em infraestrutura é importante e fundamental para poder melhorar o Complexo Portuário como um todo. Mas a rodovia não é tão usada pelo terminal como a BR-470, por exemplo.

Sócio da transportadora Dalçóquio e presidente da Dalquim, Lola Dalçóquio, diz que a Antônio Heil é uma rodovia muito perigosa, mas para ele o Estado está atrasado em termos de duplicação de várias estradas.

Continua depois da publicidade

– Já estamos 30 anos atrasados, não tem que duplicar, tem que quadruplicar. Mas se o jeito é esse, tem que fazer – comenta.

Duas mortes em um dia

Na última sexta-feira, duas pessoas morreram no trecho itajaiense da rodovia. O acidente mais grave envolveu cinco veículos no km 14 da estrada, por volta das 16h30min de sexta. Marco dos Santos, 41 anos, morador de Canoas (RS), dirigia um Renault Clio e morreu na hora.

No mesmo dia, mais tarde, por volta das 20h45min, uma batida entre um caminhão e uma motocicleta terminou com a morte do motociclista, Amauri Machado Júnior, 21 anos. O acidente foi no km 12 da Antonio Heil.

Mortes em acidentes na rodovia

2004 – 7 mortos

2005 – 8 mortos

2006 – 13 mortos

2007 – 11 mortos

2008 – 10 mortos

2009 – 8 mortos

2010 – 3 mortos

2011 – 5 mortos

2012 – 7 mortos (até 25 de setembro)