O tempo fez bem a Caio Fernando Abreu. Desde sua morte em 1994, a voz do escritor tem ficado cada vez mais viva nas mais diferentes frentes: desde pesquisas acadêmicas até as redes sociais, passando pelas prateleiras de livros e palcos.

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Caio foi um escritor capaz de não apenas conciliar influências do mundo pop e literário em seus textos, mas também foi um dos poucos que conseguiu suscitar admiração nestes dois universos. Por um lado, ganhou o respeito e a amizade de escritores como Lygia Fagundes Telles, que admirava a capacidade do autor escrever contos a partir de “matéria inacessível, intocável, impenetrável e indecifrável”, e conquistou importantes prêmios da literatura brasileira, como o Jabuti (em 1984, 1988 e 1996) e o Associação Paulista de Críticos de Arte (1990). Por outro, teve obras adaptadas para o cinema e era lido cotidianamente por milhares de pessoas que acessavam suas crônicas em jornais, nos quais falava sem pudor de seus dramas pessoais, como a convivência com a aids, doença que o matou e teve obras adaptadas para o cinema.

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Mais homenagens ainda estão previstas para setembro, mesmo mês em que o autor completaria 68 anos, com exposições e eventos em diferente pontos de São Paulo. Já na internet, o tributo ao escritor é constante. No Facebook, por exemplo, 98 páginas e 21 grupos são dedicadas ao escritor, sendo que a mais popular delas tem quase 700 mil seguidores, segundo levantamento do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic – UFES).

Nem todas mantêm o mesmo cuidado com a ortografia do que publicam, e nem sempre as frases compartilhadas são de autoria de Caio. No entanto, por mais respeito que tivessem à língua portuguesa ou à origem dos textos, não agradariam o homenageado. Pelo menos é o que pensa quem o conheceu de perto:

– Tenho certeza de que Caio odiaria essa coisa de tirarem frases dele de contexto e transformá-lo em um compêndio de trechos bonitos, de ajuda e motivação. Ele viraria um demônio e diria: “Não retalhem o que me demorou tanto para pôr um ponto final!” – diz o diretor de teatro Luciano Alabarse, que foi amigo próximo do autor.

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Com ou sem aprovação de Caio, o fato é que a internet redimensionou seu alcance e permanência. Para o professor Fábio Malini, coordenador do Labic, Caio é um dos maiores fenômenos da literatura brasileira nas redes sociais, comparável somente à Clarice Lispector:

– Caio tinha muita popularidade como cronista. Além disso, tem uma lado da sua literatura muito melancólico, o que ajuda a se difundir nas redes – avalia ele.

De olho na popularidade do escritor, a Nova Fronteira completou seu plano de publicação de Caio Fernando Abreu, que incluía três livros de contos, um volume de crônicas, dois romances, quatro antologias e dois títulos infantis. Segundo a editora, haverá reedições constantes para que a reposição seja intermitente nas livrarias. Já a L&PM mantém edições pocket de O Ovo Apunhalado (contos, 1975), Triângulo das Águas (novelas, 1983) e Ovelhas Negras (contos, 1995).

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Nas estantes das universidades, o nome de Caio também tem crescido. O escritor figura entre os mais estudados de sua geração, ao lado de nomes como o da carioca Ana Cristina Cesar e do conterrâneo João Gilberto Noll. Amanda Costa, autora de 360 Graus:Inventário Astrológico de Caio Fernando Abreu (2011), avalia que são os leitores apaixonados ajudam a levar o autor cada vez mais para a universidade.

– A gente quer pesquisar sobre o que a gente ama. A primeira vez que tentei estudar o Caio foi em 1988, quando ainda não havia pesquisa alguma sobre ele. Quando voltei, nos anos 2000, o cenário era totalmente diferente, foi um processo rápido – afirma Amanda, que fez mestrado e doutorado a respeito de escritor.

A professora Márcia Ivana Lima e Silva afirma que este é um momento em que as pesquisas sobre o autor estão cada vez mais maduras, alcançando leituras mais aprofundadas.

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– Vinte anos depois da morte do Caio, a obra se descolou do escritor. Assim, começam a ficar aparentes aspectos mais atemporais, como olhar multicultural do escritor, sua capacidade de cruzar referências pop, orientais e literárias. É salto para uma leitura cada vez mais universal de Caio.