É cena comum em qualquer rodovia movimentada. Animais silvestres que lutam pela sobrevivência nos trechos de mata da região que ainda escapam da sanha da urbanização não conseguem resistir à selva do asfalto e dos carros quando precisam se afastar ou se deslocar em seu habitat. Jazem no acostamento e aumentam as estatísticas de espécies ameaçadas.
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Para que a situação não se repita em uma via muito aguardada e que promete ser de alto fluxo, as obras de prolongamento da Rua Humberto de Campos, no bairro Velha, vão contemplar sete passa-faunas, passagens sugeridas em um estudo para permitir o deslocamento de animais que vivem em trechos de mata ao redor dos dois quilômetros de extensão da nova via.
A preocupação é reforçada por registros como o da engenheira florestal Caroline Schwanke, que no fim de janeiro publicou em uma rede social fotos de uma família de animais de nome científico Cerdocyon thous que seriam vistos constantemente na região da Rua Imperatriz Leopoldina. Segundo a Secretaria de Infraestrutura Urbana são graxains – também conhecidos como lobinhos ou cachorros-do-mato -, uma das mais de 15 espécies de animais que foram apontadas no inventário de fauna da obra.
Segundo o documento, foram avistadas três espécies de morcego, paca, capivara, preá, cutia, macaco sagui-da-cara-branca, guaxinim, graxaim, serelepe e rato-de-taquara. Além disso, foram ouvidos sons de bugios e vistos rastros de gambá, tatu, cuíca-d?água e furão.
Passa-faunas serão subterrâneos e aéreos
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Segundo o engenheiro civil e fiscal da Secretaria de Infraestrutura Urbana de Blumenau, Carlos Cesar Leite, serão erguidos sete passa-faunas – cinco deles em um trecho de menos de 150 metros, entre as ruas Imperatriz Leopoldina e Flórida, onde há a maior área de mata. Dessas cinco estruturas, duas são passagens subterrâneas, túneis de 1,5 metro de diâmetro para que os animais possam cruzar os 30 metros de largura das faixas para carros e ciclistas por baixo da via. Cercas devem ser construídas para dificultar o acesso às pistas.
– Vai haver um pequeno aterro dentro da passagem para que dentro dele cresça vegetação, como se fosse o caminho natural para o animal – explica o engenheiro.
Outros três passa-faunas são da modalidade aérea, voltados aos bugios. As travessias de cabos de aço e sarrafos são fixadas em árvores com mais de cinco metros de altura nas duas laterais das pistas para permitir a passagem dos macacos de um lado a outro da área de vegetação por cima da via. Os dois últimos passa-faunas serão construídos sob a ponte do ribeirão da Velha, nas duas margens do curso d?água.
– É preciso cobrar a construção dos passa-faunas, com projeto estrutural da rodovia nesses trechos, mas também exigir outras ações como a implantação de redutor de velocidade nessas áreas e instalação e placas indicando a possibilidade de travessia eventual de animais. São medidas imprescindíveis para uma via que deve ser muito movimentada – defende Caroline.
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Os pontos com maior diversidade animal, porém, ficam na parte final da obra e, por isso, os passa-faunas ainda devem demorar para sair do papel. Por enquanto os trabalhos se concentram na finalização da terraplanagem e no início do asfaltamento do trecho de 800 metros entre as ruas Marechal Deodoro e Antônio Haffner, com término previsto até o fim do primeiro trimestre. Enquanto isso, operários tentam afugentar os animais no gogó para que eles permaneçam na mata antes do roncar das máquinas. Um especialista ambiental também visita semanalmente os trabalhos, segundo a Secretaria de Infraestrutura Urbana. A obra é orçada em cerca de R$ 40 milhões com recursos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e está cerca de 45% concluída.
Duplicação da BR-470 prevê 31 passa-faunas em 74 quilômetros de rodovia
Preocupação maior ainda existe nos 74 quilômetros da duplicação da BR-470, ainda que o avanço da obra seja praticamente restrito aos trechos de Ilhota e Gaspar. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), serão construídos 31 passa-faunas nos quatro lotes da rodovia – um aéreo para macacos e 30 subterrâneos. Em volta da rodovia já foram avistadas espécies como tamanduá, cachorro-do-mato e bugio.
As passagens buscam minimizar os impactos e riscos para a fauna, a criação de corredores ecológicos e, claro, evitar atropelamentos dos animais. Também estão previstas cercas-guias para induzir o uso dos passa-faunas pelos animais. As estruturas podem ser secas ou úmidas e podem servir também como drenagem da água.
– É um mecanismo importante para evitar o número de atropelamentos e para a manutenção do corredor faunífico – explica Geovani Warmling, da MPB Engenharia, responsável pela gestão ambiental da obra.
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Uma vez por mês, trabalhadores da duplicação da BR-470 recebem uma aula sobre proteção à fauna e flora e possíveis impactos da obra sobre os animais. Um dos passa-faunas, no Km 35,4, já foi construído.
As espécies que serão protegidas
Segundo o inventário de fauna da obra, foram identificados cerca de 15 mamíferos na área por onde passará a nova via:
– Bugio
– Paca
– Capivara
– Preá
– Cutia
– Sagui-da-cara-branca
– Guaxinim
– Graxaim
– Serelepe
– Rato-de-taquara
– Morcego
– Furão
– Tatu
– Cuíca-d?água
– Gambá