Em fileira, 32 pilares de concreto se agigantam de dentro das águas paradas da Lagoa do Imaruí, no Sul do Estado. Em volta, dezenas de balsas com nome de mulheres se aglomeram para equilibrar guindastes e caminhões-betoneira, enquanto outras tantas embarcações menores circulam com homens em serviço, num vai-e-vem que dura o dia todo.
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É ali, no meio de todo esse alvoroço, que nasce um novo cartão-postal para Santa Catarina.
A construção da Ponte Anita Garibaldi, em Laguna, tão esperada pelos catarinenses, chega este mês à metade do prazo previsto para ser concluída, em maio de 2015. São 36 meses definidos em contrato; 18 já passaram. Se o que está no papel for cumprido, ainda há dois verões de muita paciência pela frente: a maior obra em andamento hoje no Estado é também um dos maiores gargalos da duplicação da BR-101 Sul, o que justifica a importância da travessia de 2.817 metros.
É ali, naquele mesmo ponto, que o trânsito afunila a cada véspera de feriado ou início de temporada, amontoando turistas em congestionamentos sem fim.
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Pressionada pelos caos, a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) já fala em antecipar a entrega da obra. Quer ver tudo pronto até o fim de 2014, seis meses mais cedo. Se acontecer, os motoristas estão prestes a encarar, agora, o último dos verões engarrafados de Santa Catarina. Mas falar em adiantamento ainda é tabu para os empreiteiros que estão à frente da construção.
– Nunca sabemos o que vamos encontrar pelo caminho. Por mais que seja planejada, uma obra de engenharia assim sempre se depara com um ou outro empecilho – explica o diretor de infraestrutura de uma das empresas do Consórcio Ponte de Laguna, Luis Gustavo Zanin.
Enquanto isso, a obra não para. Em um ano e um mês de trabalho, 48% já foi concluída. A outra metade está na mãos dos mais de 1,5 mil funcionários que se revezam em três turnos para erguê-la num processo quase artesanal.
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Vista de fora, a ponte virou o xodó dos lagunenses e não sai dos holofotes. Uma vez por mês, recebe visitantes de todas as partes do país. É tanta gente curiosa que em novembro o número de visitas subiu para quatro. A agenda já está cheia até junho de 2014 e a fila de espera só cresce.
– É uma obra magnífica de engenharia. Tudo ali é curioso, a fabricação de aduelas tão pesadas no canteiro de obras, a logística para embarcá-las e colocá-las na posição e até o modelo final, estaiado, que são poucos no Brasil. Isso tudo chama muito a atenção. É histórico – comenta o engenheiro professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rui Medeiros.
Em outubro, ele percorreu os 400 quilômetros que separam Curitiba, onde mora, de Laguna, só para ver de perto o andamento da obra. Reuniu imagens e vídeos de todo o método construtivo, que passou a usar em sala de aula. Em 2014, pretende voltar: quer levar os alunos para uma aula expositiva, assim que os cabos da parte estaiada começarem a ser instalados. Quer oportunizar um momento histórico também para eles.
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No Facebook, uma página dedicada à obra expõe fotos e comentários mensais sobre o andamento das obras, assim como um site criado e alimentado exclusivamente por moradores. Não há como contestar: a construção da Ponte Anita Garibaldi é um momento épico para o Estado, uma nova Hercílio Luz nascendo debaixo do nariz dos catarinenses.
Nem a presidente Dilma Rousseff resiste àquela megaestrutura.
– Eu também quero ir lá ver a ponte – deixou escapar a jornalistas do Grupo RBS na última semana, ao anunciar uma nova vinda ao Estado no fim do mês.