Ícone da contracultura brasileira, Waly Salomão (1943 – 2003) ganha um volume com toda sua obra reunida. Conhecido como letrista, é responsável por canções como Vapor Barato (com Jards Macalé), popular na voz de Gal Costa, e Mel (com Caetano Veloso), do repertório de Maria Bethânia. Além dos livros de Waly, Poesia Total reúne letras inéditas e textos críticos de Antonio Cicero, Francisco Alvim, Heloisa Buarque de Holanda, entre outros. O resultado contextualiza historicamente a obra do poeta e dá a dimensão de seu gênio criativo. Com apenas 27 anos, Sofia Mariutti é a responsável pela edição. Em 2013, a jovem lançou compilações de sucesso de Paulo Leminski e Ana Cristina Cesar. Nesta entrevista, Sofia fala sobre a poesia de Waly e sua expectativa sobre o novo livro.
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Por que a escolha de editar a obra de Waly Salomão?
O projeto faz parte da mesma iniciativa que a Companhia das Letras teve ao lançar as obras de Leminski (Toda Poesia) e Ana Cristina Cesar (Poética). A ideia é resgatar poetas que são quase considerados clássicos, mas ainda não foram canonizados nem resgatados, estando um pouco esquecidos nas livrarias. Apesar da dimensão enorme do Waly, ele era muitas vezes lido de modo restrito, como um poeta marginal ou tropicalista… No entanto, seguiu produzindo até os anos 2000. Acho que o livro demonstra essa dimensão e coloca Waly em seu devido posto.
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O que tem de mais característico na poesia de Waly?
Nos anos 1970 e no início dos 1980, ele usa muito a prosa poética, é verborrágico. E já tem uma erudição muito grande, aparente no Me Segura Qu’eu Vou Dar um Troço (1972), que escreveu quando esteve preso no Carandiru (por porte de maconha). É um livro com um discurso muito próprio, difícil de colocá-lo numa geração ou em um movimento, é muito experimental e ousado. Depois, ele vai assumindo mais o poema em verso. Pessoalmente, acho muito rico o modo como Waly pensa o próprio eu-poeta, construindo esta voz como Sailormoon, Marujeiro da Lua… Ele se desdobra em alter egos enquanto reflete sobre o fazer poético.
Toda Poesia, de Leminski, teve grande sucesso nas livrarias. Podemos dizer que poesia vende no Brasil?
Toda Poesia teve 100 mil exemplares vendidos. Mas não acho que qualquer poesia venda. Os novos poetas têm uma vantagem a mais com as redes sociais. A poesia tem esse apelo visual, é curta, cabe bem nas redes. Leminski teve esse sucesso todo porque combinava com isso. Apesar de ter seu lado mais difícil, seus aforismos e haicais têm essa pegada mais pop. Já Waly tem menos desses poemas. Acredito que muita gente vai comprar e não ler ou enfrentar dificuldades. Mas passar por obstáculos também é bom para o leitor. Mesmo assim, acredito que o livro tem grande potencial por essa interlocução do Waly com as várias artes, podendo pegar um público de artistas e também de acadêmicos, pois é um poeta cada vez mais estudado na universidade.
Poesia Total
Waly Salomão
Poesia, Companhia das Letras, 540 páginas, R$ 46 e R$ 34,50 (e-book)
Cotação: 5 de 5 estrelas
ESPECIAL: Relembre cinco canções de Waly Salomão que fizeram sucesso nas rádios
1. Vapor Barato
Composta com Jards Macalé, a faixa ficou muito conhecida na voz de Gal Costa, ainda em 1971. Vapor Barato também foi gravada pelo própio Macalé, além de Daniela Mercury, Zeca Baleiro e a banda O Rappa.
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2. Mel
A parceria com Caetano Veloso deu nome ao álbum em que Maria Bethânia a gravou, em 1979. Caetano Veloso também gravou a faixa no disco Prenda Minha, de 1998.
3. Talismã
Outra parceria com Caetano Veloso que acabou resultando no título de mais um disco de Maria Bethânia, em 1980.
4. Assaltaram a Gramática
Foi composta ao lado de Lulu Santos e ficou muito popular na interpretação de Os Paralamas do Sucesso no álbum O Passo do Lui (1984).
5. Memória da Pele
Muito conhecida na voz de Maria Bethânia, a composição foi feita com João Bosco. Em 1991, a faixa entrou em Zona de Fronteira, disco de João Bosco com parceria de Waly e Antonio Cícero.
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