Tenho recebido pacientes em busca de informações sobre um novo procedimento para o tratamento da obesidade. Divulgado como cirurgia bariátrica por endoscopia, está gerando um entendimento de que reproduz uma das técnicas cirúrgicas, a Gastrectomia Vertical (Sleeve), sem os eventuais riscos e dificuldades pós-operatórias.
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A mencionada ¿gastroplastia endoscópica¿, apesar de ofertada como cirurgia bariátrica, não o é. Trata-se de uma técnica que poderá complementar opções existentes para o tratamento da redução de peso, mas não substitui a cirurgia por apresentar resultados diferentes. Como afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, Caetano Marchesini, o procedimento tem comparado seus resultados ao balão intragástrico, técnica também endoscópica.
Segundo Marchesini, a restrição alimentar promovida pela cirurgia bariátrica é maior, porque parte do estômago é separada e retirada, alterando o funcionamento dos hormônios ligados à saciedade. Enquanto a perda de peso na cirurgia gira em torno de 40-50%, na técnica endoscópica em estudo, não mais que 25%. Adverte-se também que esta endoscopia deverá ser realizada sob anestesia geral e em centro cirúrgico, portanto, tendo os riscos próximos aos da cirurgia.
O Conselho Federal de Medicina manifestou que ainda não reconhece a técnica e, por enquanto, esta só pode ser realizada por protocolos de pesquisa. Que sirvam estas informações de alerta para quem busca ¿mágicas¿: o procedimento deverá ser benéfico futuramente, entretanto, apresentá-lo como alternativa à cirurgia no momento é inapropriado diante da falta de resultados a longo prazo.
A obesidade é uma doença grave, que além de afetar a autoestima, muitas vezes está por trás de um grande número de condições como diabetes, hipertensão arterial, até o aumento de alguns tipos de câncer. Isto abriu um vasto campo para a exploração comercial indevida de tratamentos que vão desde medicamentos sabidamente ineficazes a procedimentos cirúrgicos questionáveis ou proibidos. Avanços são inevitáveis, mas é preciso que se respeitem os passos da certificação científica antes de interesses mercadológicos.
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*Celso Empinotti é professor de cirurgia do aparelho digestivo da UFSC
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