Barack Obama e Raúl Castro apertaram as mãos e sorriram para as câmeras ao iniciar, nesta segunda-feira, uma reunião no Palácio da Revolução, em Havana. O encontro é considerado o ponto alto da visita do presidente norte-americano à ilha comunista.

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Essa é a primeira visita de Obama a Raúl desde que chegou a Havana, no domingo à tarde. Antes de ir para a reunião, Obama depositou flores no monumento do herói nacional cubano José Martí, localizado na Praça da Revolução. O presidente norte-americano deixou registro escrito no livro de visitas no Memorial, onde jornalistas tiraram uma foto emblemática de Obama com o rosto do líder revolucionário Che Guevara ao fundo.

O secretário de Estado americano, John Kerry, chamou de “momento histórico” ter ouvido os dois hinos juntos, em Havana, com o presidente dos Estados Unidos.

No início do encontro, Raúl e Obama cumprimentaram um a um os representantes dos dois lados. O presidente dos Estados Unidos estava descontraído, e recebeu as mesmas honras que o presidente venezuelano Nicolás Maduro, que esteve em Havana na semana passada.

Obama faz homenagem a herói cubano

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Temas sensíveis

Raúl Castro já deixou claro que não está disposto a negociar qualquer mudança em sua política, a pedido ou por pressão dos Estados Unidos, seu adversário por mais de meio século. Mesmo assim, Obama acredita que haverá uma mudança em Cuba, como declarou antes do encontro com seu colega.

– Vai ocorrer uma mudança aqui e acredito que Raúl Castro entende isso – disse Obama ao canal ABC na capital cubana, embora tenha reconhecido que isso não ocorrerá “da noite para o dia”.

– Ainda temos divergências significativas sobre direitos humanos e liberdades individuais em Cuba. Acreditamos que agora podemos potencializar nossa capacidade para promover mais mudanças – acrescentou.

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O chefe de Estado americano quer aproveitar sua viagem história para abordar francamente temas sensíveis, como o dos direitos humanos, em um ambiente ofuscado pela detenção temporária de dezenas de dissidentes cubanos – que protestavam no domingo pouco antes da chegada de Obama.

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– Temos ainda diferenças significativas sobre direitos humanos e liberdades individuais. Achamos que agora podemos potencializar nossa capacidade de promover mudanças – declarou Obama à ABC.

Recentemente, Obama se comprometeu por escrito com as Damas de Branco – cuja líder, Berta Soler, ficou detida por várias horas – a falar com Raúl sobre os obstáculos nesses temas.

Obama também se reunirá, na terça-feira, com dissidentes na embaixada, em um encontro para o qual Soler foi convidada. Ela critica Obama por fazer concessões a Raúl sem que, em troca, tenham cessado “a perseguição e violência contra opositores”.

Obama e Castro se reúnem em Havana

Reclamação

Obama, de 54 anos, e Raúl, de 84, se reuniram duas vezes desde que lançaram, no final de 2014, o processo de normalização das relações bilaterais. A primeira reunião ocorreu em abril de 2015, dentro da Cúpula das Américas, no Panamá, e a segunda, cinco meses depois, nas Nações Unidas, em Nova York.

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Raúl Castro certamente espera abordar o tema que mais preocupa Cuba em sua relação com Estados Unidos: o embargo econômico vigente desde 1962. Obama, que é favorável ao levantamento do embargo, recorreu às suas atribuições executivas para abrandar algumas das medidas que castigam os cubanos, mas o Congresso, nas mãos da oposição republicana, é o único que pode desmontar a teia de restrições.

O chanceler cubano Bruno Rodríguez, que deus cordiais boas-vindas a Obama no aeroporto, reiterou que as medidas da Casa Branca são positivas, mas limitadas.

As autoridades insistem que Obama pode fazer mais contra o embargo, depois de ter restabelecido os voos comerciais diretos, autorizado alguns investimentos importantes e facilitado as viagens dos americanos, que ainda não podem fazer turismo livremente.

– Não há dúvidas de que ainda temos muito trabalho por fazer, e parte disso é conseguir o fim do embargo – comentou o presidente dos Estados Unidos.

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– Não creio que a visita de Obama tenha um impacto imediato na política cubana, muito menos em decisões pontuais do regime em curto prazo – comentou à AFP Michael Shifter, presidente do centro de análises Diálogo Interamericano.

Farc

O presidente Obama também se reunirá com pequenos empresários dos dois países, enquanto sua esposa, Michelle, encontrará estudantes no centro cultural Fábrica de Arte.

Estas reuniões podem ser, para os dois, a chance de ouvir os cubanos. Na terça, Obama fará um discurso histórico ao povo cubano, que será transmitido ao vivo. Depois, o presidente americano irá a um jogo de beisebol, atividade que encerrará sua visita a Havana.

Durante esta segunda-feira, o secretário de Estado americano John Kerry se reunirá separadamente com os negociadores das Farc e o governo colombiano que tentam alcançar um acordo para acabar com mais de meio século de confronto armado.

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Os Estados Unidos, que financiaram por anos a luta contra a guerrilha comunista, apoiam o processo de paz da Colômbia e as gestões de Kerry podem ser definitivas agora que o diálogo parece estancado.

Veja a cobertura ao vivo da visita de Obama a Cuba

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*Com informações da AFP