A Polícia Federal (PF) e a Procuradoria da República identificaram depósitos no valor de US$ 4,8 milhões da OAS African Investments Limited na offshore (contas bancárias abertas em paraísos fiscais) Santa Thereza Services Ltd, na Suíça, controlada pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, principal investigado pela Operação Lava-Jato.

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Os depósitos – divididos em três créditos no valor de US$ 1,6 milhão cada – foram realizados nos dias 7 de maio, 11 de junho e 17 de julho de 2013 na conta da Santa Thereza. A OAS African Investments faz parte da gigante da construção OAS, responsável, por exemplo, pela construção da Arena do Grêmio.

O Ministério Público Federal e a PF localizaram documentos sobre as transferências durante buscas no escritório e na residência do executivo João Procópio Junqueira de Almeida Prado, apontado como operador do doleiro Alberto Youssef – mentor do esquema de lavagem de dinheiro, segundo a PF.

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Procurada pela reportagem, a OAS ainda não retornou às solicitações. O Grupo Sanko se manifestou por meio de nota oficial, alegando que “nenhum centavo de remessas do Grupo Sanko ao Exterior que não esteja totalmente documentado”.

Leia a nota na íntegra:

“Chega de invenções. Não há, e o comprovaremos no foro adequado, a Justiça, nenhum centavo de remessas do Grupo Sanko ao Exterior que não esteja totalmente documentado. Desde junho, investigadores anônimos buscam associar nossas empresas a contas imaginárias no Exterior, com as quais não temos qualquer relação. Mentira não vira verdade pela vontade de fontes anônimas. Não são. Mais uma vez, há um grave erro de interpretação dos documentos sistemática, seletiva e ilegalmente vazados à imprensa.

Já detectamos erros aviltantes e ridículos nesses vazamentos, que serão desmoralizados publicamente na Justiça, por nossa defesa.

Assim, esclarecemos novamente:

– Nenhuma empresa do Grupo Sanko tem ou teve, em qualquer época, conta no Exterior. Somos importadores, que pagam seus fornecedores nos bancos por eles indicados, das mais variadas bandeiras, em todo o mundo; todos esses pagamentos são corretos, tributados, registrados, acompanhados, autorizados e aprovados pelas autoridades e instituições competentes, após completa análise. Não há nenhum centavo dessas remessas que não esteja totalmente documentado.

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– Todas as remessas feitas ao Exterior são única e exclusivamente destinadas ao pagamento de fornecedores. Não há nenhum pagamento em aberto. Todas as remessas geraram a entrada dos produtos pagos no país. O câmbio é sempre fechado via Banco Central do Brasil. Todas as operações são realizadas por intermédio de bancos comerciais brasileiros, após a devida anuência, liberação e homologação do Banco Central, com conhecimento da Receita Federal. Compramos os tubos, flanges e conexões, fazemos os pagamentos, recebemos e entregamos aos clientes (sempre privados) os tubos, flanges e conexões. As remessas ocorrem da seguinte forma:

1 – Todas as operações com Swift bancário (especificando o destinatário);

2 – Todas as operações com contrato de câmbio (que comprova a origem lícita dos valores);

3 – Todas as operações têm as respectivas Comercial Invoice, Proforma Invoice, BLs Bill of Lading;

4 – Todos esses documentos são rechecados na Receita Federal do Brasil, têm registro da DI no Siscomex e Emissão da CI na Alfândega.

Confiamos na Justiça e em averiguações sérias que comprovarão nossa lisura, o que continuamente vimos repetindo desde o início.

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GRUPO SANKO

8 de outubro de 2014″

Acordo com o Ministério Público Federal

As buscas foram realizadas em julho, por ordem judicial. A Santa Thereza é uma das 11 offshores controladas por Costa, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

No acordo, o ex-diretor da Petrobras abriu mão de todos os ativos depositados em contas das offshores por ele administradas, inclusive a Santa Thereza Services Ltd. Costa já autorizou a repatriação de US$ 25,8 mi depositados na Suíça e em Cayman.

Com o executivo João Procópio Junqueira de Almeida Prado, a PF apreendeu extrato da conta da Santa Thereza no período de 8 de outubro de 2012 a 4 de março de 2013, com diversas operações em valores iguais de US$ 1 milhão cada.

Em 2011, segundo o MPF, a conta da Santa Thereza na Suíça recebeu “onze operações sequenciais” de créditos originadas da Sanko Sider. A offshore recebeu 289,74 mil da Sanko Sider entre 24 de janeiro de 2013 e 7 de fevereiro de 2014.

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– Esse valor é relacionado aos crimes de corrupção, peculato, contra o sistema financeiro e tributário – afirma a Procuradoria da República.

A PF e o Ministério Público Federal apuraram que dentro da conta da Santa Thereza no paraíso fiscal há quatro subcontas denominadas Fianca, CC, Premier e Sanko “todas controladas pela organização criminosa de Youssef e utilizadas para práticas delitivas”, segundo o MPF.

Ainda de acordo com a Procuradoria, a OAS “está diretamente envolvida com os desvios de valores e crimes contra a administração”.

No acordo de delação, Costa reconheceu que todos os valores depositados nestas contas, inclusive da Santa Thereza, são “integralmente produto de atividade criminosa”. O ex-diretor se comprometeu a contribuir para a “repatriação desses valores em benefício do país”.

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