Se vinhos encorpados são ideais para o frio, o mesmo parece se aplicar a livros, discos e filmes. Veja aqui o que a nova safra traz de mais promissor para o inverno.
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Livros
No universo dos livros, nada como a Festa Literária Internacional de Paraty, que começou na última quarta e termina no domingo. Claro, se você não se programou, é provável que só encontre os paralelepípedos para dormir. Solução? Ler os livros envolvidos, todos já à venda na internet.
A festa, que completa 10 anos, resgata os 110 do nascimento de Drummond (1902-1987). Do poeta, a Companhia das Letras coloca nas livrarias um total de 48 mil exemplares de quatro livros (As Impurezas do Branco, Antologia Poética, Sentimento do Mundo e José) e a Cosac Naify publica o inédito Os 25 Poemas da Triste Alegria. Drummond renegou esses versos precoces, da década de 1920, mas aí estão pela primeira vez.
Convidado da Flip, o poeta sírio de 82 anos Adonis é apontado como o grande renovador da poesia árabe do final do século 20. Às livrarias brasileiras chega Poemas, primeiro livro seu aqui.
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Também está na Flip o escritor inglês Ian McEwan (1948-), que nas suas minúcias remete aos romances clássicos do seu país e é ideal para uma tarde soterrada em cobertas. Do autor, que foi merecidamente aclamado por Reparação e Sábado, mas também cometeu o romance insuportável Amor sem Fim, chegam neste inverno Amsterdã e Serena. O primeiro, sobre vaidade e busca por fama, saiu em inglês em 1998 e ganhou o Booker Prize; o segundo, sobre espionagem, envolve o IRA e o Serviço Secreto Britânico nos anos 1970.
Talvez a presença mais ilustre da Flip, o americano Jonathan Franzen diz ser uma bobagem a conversa de “Grande Romance Americano”, mas escreveu um. As 761 páginas do Liberdade compõem um painel atual dos EUA a partir de vários personagens e garantem algo como 20 ótimas horas próximas do aquecedor. Literatura profunda, mas sem temas-que-só-interessam-ao-mundo-literário. Não à toa, o romance vendeu mais de 1 milhão de exemplares, e subindo.
Quem já o encarou tem agora, em português, Como Ficar Sozinho e Tremor. Ambos, como Liberdade, têm múltiplos temas. O primeiro compila ensaios escritos entre 2003 e 2012 (com direito a estilingadas no Facebook), e Tremor, romance, conecta ambientalismo, governos, religião, ciência.
Também agora a Cosac Naify lança João Gilberto (512 páginas, R$ 215), que revisita a trajetória do artista com textos inéditos e depoimentos de grandes nomes da música. Já A Balada de Bob Dylan, de Daniel Epstein, parte de quatro concertos (1963, 1974, 1997 e 2009) do artista para falar das suas reinvenções – do jovem cantor folk ao septuagenário tranquilo, passando pelo roqueiro, o hippie rural, o decadente e assim por diante.
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Filmes
No universo do cinema, exigentes também têm pouco a reclamar.
Na semana passada entraram em cartaz Fausto, sobre o famoso personagem de Goethe, e Para Roma, com Amor, de Woody Allen. Quem ainda não foi aos cinemas precisa torcer pela sobrevivência dos filmes à segunda semana de exibição. Outra estreia recente foi Bel-ami – o Sedutor, baseado no romance do século 19 do escritor francês Maupassant e, para garantir, com Robert Pattinson como protagonista.
Mas o principal lançamento do inverno é, sem dúvida, On the Road. Independente do resultado atingido por Walter Salles, a aura em torno do longa já justifica a corrida ao cinema. Publicado em 1957, o tão idolatrado romance sempre foi considerado intransponível para o cinema. Francis Ford Coppola, que adquiriu os direitos de filmagem, foi um dos muitos a tentar. Décadas depois, um brasileiro conseguiu – e já começou a apanhar de críticos nas primeiras exibições.
Discos
Os ouvidos também clamam por calor e densidade. A safra desta estação é uma das mais bem-aventuradas e atende a diversas necessidades de estímulos. Se você busca por algo tradicional, forte e histórico como um brandy secular, embriague-se com os veteranos Neil Young e Patti Smith. Depois de 16 anos, o Velho Neil reuniu novamente a escuderia clássica dos Crazy Horse e anunciou dois discos de inéditas para 2011, começando com Americana, coletânea de clássicos do cancioneiro norte-americano (como Oh, Suzana! e God Save The Queen) encharcados nas guitarras e em uma produção praticamente analógica e valvulada.
Senhora do punk, Patti Smith também foi ao passado e buscou em 1975 a receita do seu clássico de estreia, Horses, para compor uma obra vigorosa, carregada na força da sua poesia e na abstração. Disso resultou Banga, um álbum de fazer ferver o sangue, que privilegia o rock do qual ela se serviu e ajudou a modular nos tempos de performance no extinto CBGBs ao lado dos Ramones, Lou Reed, Television e do saudoso amante e marido Fred “Sonic” Smith, do MC5.
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Da hibernação para as pistas, os queridinhos da indietronic da banda Hot Chip chamam para dançar em In Our Heads, seu quinto álbum. O lançamento atende ao verão norte-americano, mas aqui é um convite ensolarado à movimentação (ouça Night & Day).
Para encerrar, permita-se uma produção local. É da “casa” que vem o caldo quente, denso e revigorante: Mapuche. Com o segundo álbum, Lowlands, o produtor Isaac Varzim investe ainda mais na experimentação da fusão das músicas eletrônicas e orgânicas. Um trabalho contemporâneo que mantém o fino trato e a introspecção do seu antecessor, Sanctity, com melodias sorvidas do indie e elementos sintetizados (synthpop e house). À prova de qualquer mal do frio.
6 dos melhores rótulos da safra
1. Como Ficar Sozinho: grande escritor contemporâneo, Jonathan Franzen tem aqui reunidos ensaios de 2003 a 2012.
2. Grandes Esperanças: reedição do clássico de 1860, talvez o melhor romance de Charles Dickens.
3. On the Road: Walter Salles foi o primeiro a filmar o clássico de Jack Kerouac, 55 anos depois do lançamento do livro.
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4. Para Roma, com Amor: sétimo longa-metragem de Woody Allen filmado na Europa, aposta em leveza.
5. Banga: a senhora do punk Patti Smith se inspirou no passado e carregou, nesse disco, na poesia e na abstração.
6. Lowlands: segundo álbum do projeto Mapuche, de Florianópolis, aposta em introspecção, como Sancity.