Bem depois de Ingmar Bergman, muito além do Dogma 95: na terceira parte do especial sobre as melhores cinematografias do século 21, que ZH apresenta ao longo de oito semanas até o fim de fevereiro, conheça um pouco mais da produção de Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca que transcende os seus maiores clichês – e mantém a região no topo do cinema universal.

Continua depois da publicidade

Leia mais: cinema da Ásia Extrema inaugura série

E ainda: Leste Europeu é o tema da segunda matéria da série

Continua depois da publicidade

Woody Allen já afirmou que viver vale a pena, entre outras poucas coisas, por causa do cinema sueco. Ele tinha Ingmar Bergman em mente, mas uma cinematografia não se faz notar apenas por um nome (ou uma geração), ainda que se trate do maior cineasta do mundo.

A produção da Suécia, neste século 21, até ecoa a obra de seu diretor mais icônico. Mas faz mais sentido abordá-la por sua diversidade. De lá vêm exercícios de gênero os mais diversos, de comédias como Jalla! Jalla! (de Josef Fares) e Elling (Petter Næss) até a obra-prima do terror Deixa Ela Entrar (Tomas Alfredson), passando por misturas inusitadas como o thriller cômico-musical Sound of Noise (Ola Simonsson e Johannes Nilsson) e o híbrido de animação e live action a la Robert Zemeckis Metropia (Tarik Saleh).

Nikolaj Arcel e Niels Oplev, respectivamente roteirista e diretor da adaptação de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, já são realidades para além da trilogia Millennium: é Arcel quem dirige O Amante da Rainha, indicado ao Oscar de filme estrangeiro deste ano – competição que também conta com o norueguês Kon-Tiki, de Joachim Ronning e Espen Sandberg.

A unidade em meio a esse universo está na dramaturgia que esconde seus conflitos sob a aparente frieza das relações. São assim os dramas do norueguês Bent Hamer (de Factotum, adaptação de Bukowski) e do finlandês Aki Kaurismäki (do fabular O Porto), ambos presentes no Top 10 abaixo com longas luminares em sua sombria construção de figuras socialmente deslocadas _ os protagonistas de Caro Sr. Horten (de Hamer) e O Homem sem Passado (de Kaurismäki).

Continua depois da publicidade

É essa intensidade dramática que potencializa as explosões de violência nos filmes de Nicolas Winding Refn (de Bronson) e o desejo de libertação recorrente na obra de Lukas Moodysson (Bem-Vindos). Hoje, os dois desenvolvem carreiras internacionais calcadas, respectivamente, em longas como Drive e Mammoth.

Em caminhos completamente diferentes de ambos, e ainda assim distintos entre si como o inverno da Islândia e o verão do Mediterrâneo, estão o norueguês Hans Petter Moland (do melodrama redentor Uma Vida Nova), o sueco Roy Andersson (de doideiras como Vocês, os Vivos) e o dinamarquês Mads Matthiesen (de Teddy Bear, espécie de O Lutador escandinavo).

Falando em Dinamarca: pós-anos 2000, é profícua a oferta de bom cinema no país do Dogma 95. O ótimo momento deve muito ao amadurecimento da geração que chamou a atenção, na década de 1990, com sua proposta radical e marqueteira de um cinema ultranaturalista e falsamente não autoral. As fronteiras do país já foram ultrapassadas por Lars Von Trier, Thomas Vinterberg, Lone Scherfig e Susanne Bier, hoje autores de longas realizados em Hollywood, na França e na Grã-Bretanha, mas foi com produções dinamarquesas que eles alcançaram um Oscar (Em um Mundo Melhor, de Bier), uma Palma de Ouro (Dançando no Escuro, de Von Trier), outros três troféus em Cannes (A Caça, de Vinterberg) e outros quatro em Berlim (Italiano para Principiantes, de Scherfig). Tudo após a alvorada do novo milênio.

Não fosse o princípio de não repetir diretores no Top 10 abaixo, seria (ainda mais) árdua a tarefa de reduzir a 10 a lista de bons filmes da região no período.

Continua depois da publicidade

Top 10

Filmes do universo nórdico pós-anos 2000:

Canções do Segundo Andar, de Roy Andersson (Suécia, 2000)

O Homem sem Passado, de Aki Kaurismäki (Finlândia, 2002)

Para Sempre Lilya, de Lukas Moodysson (Suécia, 2002)

Dogville, de Lars Von Trier (Dinamarca, 2003)

Brothers, de Susanne Bier (Dinamarca, 2004)

Caro Sr. Horten, de Bent Hamer (Noruega, 2007)

Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson (Suécia, 2008)

O Guerreiro Silencioso, de Nicolas Winding Refn (Dinamarca, 2009)

Submarino, de Thomas Vinterberg (Dinamarca, 2010)

Headhunters, de Morten Tyldum (Noruega, 2011)

Todas as matérias da série:

7/01 Ásia Extrema

14/01 Leste Europeu

21/01 Universo Nórdico

28/01 Oriente Exótico

3/02 América Central

10/02 União das Ex-Repúblicas Soviéticas

17/02 Mundo Ibérico

24/02 Mediterrâneo Oriental