O jornalista conferiu o show do percussionista no Psicodália, no Carnaval, em Rio Negrinho, e compartilhou com a coluna um relato da apresentação.

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Final de tarde de terça de Carnaval em Rio Negrinho e o Psicodália, após toda a apoteose dos dias anteriores, aguardava por Naná Vasconcelos. Seria a despedida do festival, e, sabemos ontem, dele também para os catarinenses. Apesar das intempéries técnicas do som, o percussionista pernambucano, ou melhor, o feiticeiro, promoveu seu encantamento de sublimação. Poderia aqui desfilar um imenso rosário sobre o seu currículo, mas nada que se compare ao que ele fazia. Ao recitar breves palavras sobre as maravilhas do que havia encontrado na Amazônia, Naná partiu para a ação. Regeu o público a vocalizar em um mantra e sob palmas ritmadas o som da chuva caindo sobre o leito corrente do Rio Amazonas. Catártico e poderoso. Naná foi um mestre dos sentidos, levava a música como fator de transformação sensorial. Não enxergava barreiras, assim como o maestro John Cage (1912-1992), que transformou o silêncio em música (obra 4`33).

Obrigado Naná, pela experiência de ser instrumento de sua fé!