Defensor ferrenho do presidente Michel Temer (PMDB) nas denúncias por corrupção contra ele – depois de já ter ganhado os holofotes à frente da tropa de choque a favor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no processo que o cassou –, o deputado federal de primeiro mandato Carlos Marun (PMDB-MS) diz que as “posições firmes” o levaram do plenário à Esplanada dos Ministérios. Responsável pela articulação política junto ao Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo tem na aprovação da reforma da Previdência a principal missão. Gaúcho, porém radicado no Mato Grosso do Sul, Marun é formado em Direito e em Engenharia Civil. Foi vereador de Campo Grande (MS) entre 2005 e 2006, quando e foi eleito deputado estadual, exercendo dois mandatos consecutivos. Foi secretário de Estado de Habitação e das Cidades de Mato Grosso do Sul, acumulando a presidência da Agência de Habitação Popular. De passagem por SC na Fiesc, conversou com o Diário Catarinense.

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Hoje o governo admite que não tem votos suficientes para aprovar a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados e viajou por vários Estados parlamentar, defendendo a necessidade da aprovação. Qual foi a estratégia?

A estratégia foi mobilizar, nesse período de recesso, a sociedade, para que ela também faça a sua parte. Mobilizar os setores lúcidos da sociedade que sabem que não existe a mínima chance de viabilidade num país que tem um déficit diário da sua Previdência de R$ 800 milhões. Não existe a mínima possibilidade de viabilidade. Outra coisa é sensibilizar esses setores que entendo como lúcidos da sociedade a entrarem em campo, procurarem seus parlamentares, pedindo o voto favorável à reforma da Previdência. Isso está acontecendo e é o que nos traz hoje uma expectativa mais favorável em relação a essa votação.

É certo que a reforma vai para a pauta em fevereiro?

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Vai entrar em pauta no mês de fevereiro. Precisamos aprovar na Câmara ainda em fevereiro, o presidente (da Câmara) Rodrigo Maia (DEM) está imbuído desse objetivo. Vamos pautar, votar e vencer ainda em fevereiro. Não existe plano B, não existe. Em março, quando começar a ocorrer as desincompatibilizações nos Estados e na União, a pauta principal do país será as eleições e para aprovarmos uma mudança dessa magnitude, a Previdência tem que ser a pauta principal. Precisa tramitar no Senado em março, então para a Câmara o prazo é fevereiro.

Quantos votos a favor da reforma da Previdência o governo tem hoje?

Ainda nos faltam cerca de 40 votos.

Vai ser colocado em pauta em fevereiro mesmo se não forem conquistados mais esses 40 votos?

Vamos chegar ao dia da votação com condições de vencer, então não vejo a mínima hipótese de adiamento. E minha posição é que mesmo que faltem os votos, seja pautado. Até para que fique claro e transparente quem decidiu empurrar com a barriga uma situação tão emergencial como essa. O (Henrique) Meirelles disse que pode ser votado até novembro. Tenho dito que é mais fácil o Sargento Garcia prender o Zorro do que nós votarmos a Previdência em novembro.

Mesmo em partidos da base de apoio ao governo Temer não há consenso sobre a reforma. Como avalia esse cenário?

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Há um receio eleitoral e isso é legitimo. Sabemos que a proximidade das eleições pode trazer alguma intranquilidade. Isso é natural, não estou falando nenhum absurdo. Agora, entendo que com as manifestações na sociedade, que esperamos que continuem, hoje o parlamentar se convença que os setores lúcidos da sociedade estão seguros da necessidade da reforma. E que votar a favor da Previdência, ao contrário do que muitos pensam, vai é trazer votos para quem tiver coragem de fazer aquilo que o país precisa.

Se realmente houver “infidelidade” de parte da base, podem ocorrer punições?

Não sei como cada partido vai atuar em relação a isso, agora eu entendo que cada um no seu quadrado. O PMDB hoje, por exemplo, é um partido pró-reforma da Previdência. Talvez até quem é do PMDB e é contra a reforma devesse avaliar seu caminho.

Ainda há margem para concessões na reforma?

Prefiro dizer que temos dois pontos inegociáveis. O primeiro é o estabelecimento da idade mínima para aposentadoria, até porque é uma raridade um país do mundo onde hoje não exista. São cerca de 10 no mundo inteiro onde não existe, onde o cidadão no auge da sua capacidade física e mental se aposenta, como o Brasil. Isso é uma necessidade. E o outro ponto é que todos os brasileiros tenham o mesmo sistema de Previdência. Isso é inegociável. A partir daí o governo, que é um governo do diálogo, pode ouvir sugestões. Mas esses dois pontos são inegociáveis. Não é possível que existam brasileiros de primeira classe e brasileiros de décima classe. Queremos uma Previdência mais igual para todos os brasileiros.

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Isso inclui o funcionalismo público, que tem sido uma voz forte contra a reforma?

Parece que estamos em uma cruzada contra o funcionário público. Não. Entendemos que o servidor presta um serviço imprescindível ao país. Mas se o navio afundar, mesmo quem estiver no camarote, na suíte, morre afogado. Então não adianta achar “tô bem, vamos seguir nesse barco”. O navio não pode afundar e muitos funcionários públicos sabem disso. Gostei dessa frase (risos), primeira vez que uso: se o navio afundar, mesmo quem está na primeira classe vai se afogar. Tu gostaria de viajar na primeira classe do Titanic? Não, porque afundou. Então, não adianta estar na primeira classe e o navio bater num iceberg.

Acha válido incluir emendas, cargos e ministérios nas negociações com o Congresso nesse processo?

As emendas são impositivas, o governo tem que pagar. Até hoje não vi nenhum parlamentar da oposição abrir mão do dinheiro das emendas, e se algum fizer isso aí pode vir conversar comigo sobre esse assunto. E sobre cargos, é normal se cercar de pessoas próximas. Se você vai contratar um professor particular para dar aula para o seu filho, vai pedir indicação a um amigo ou a um inimigo?

Se ocorrer alguma concessão, mesmo assim a reforma se mantém sustentável, segundo avaliação do governo?

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Veja bem, nós pelo menos diminuímos o crescimento do déficit. Não estamos falando em zerar, em diminuição absurda do déficit, estamos falando na diminuição do crescimento do déficit porque acreditamos que cria margem, cria espaço para o país ser viável. O país como está é totalmente inviável e quem estiver falando o contrário a isso está mentindo.

A população em geral entendeu a proposta da reforma?

Se tivéssemos um grande entendimento, 100% de esclarecimento, teríamos 90% dos brasileiros a favor da reforma. Ainda não conseguimos esse nível de esclarecimento. Mas hoje já temos menos da metade dos brasileiros se posicionando contrário a ela.

Se aprovar a reforma, vai dançar de novo no plenário?

Não sei se no plenário, mas esse é meu jeito, descontraído, brincalhão. Se aprovar a reforma, vou dançar de novo para comemorar essa alegria para o Brasil.

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O senhor assumiu o trabalho de articulação em dezembro, com a principal missão de buscar os votos para aprovar a reforma. Houve avanços com a sua atuação?

O meu trabalho até agora é um trabalho de continuidade, mas vejo na sociedade um avanço muito grande na posição pró-reforma.

O senhor foi de deputado federal no primeiro mandato a ministro de Estado. A que atribui esse salto tão rápido?

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Eu avalio como consequência de uma posição clara e firme que sempre fiz questão de ter das posições, em todo o exercício da minha vida política. E no caso específico para me tornar ministro, a essas posições como deputado federal. Isso faz com que hoje eu tenha aprovação da grande maioria dos parlamentares da nossa base e respeito da oposição. Não sou uma pessoa de chicana, não sou da traição, da mentira. Sou uma pessoa clara, franca e isso traz também respeito da oposição.

Qual o seu futuro na política?

Estou à disposição do presidente Temer. Até teria uma reeleição tranquila no meu Estado, nem precisaria fazer campanha, só por telefone estaria reeleito. Mas estou disposto a abrir mão para acompanhar o Temer até a conclusão desse seu período presidencial se esse for seu desejo. A princípio não devo concorrer.

Qual a sua relação com o presidente Michel Temer?

Pessoal muito pequena, e política digamos que mais forte a partir do movimento pró-impeachment. O Temer é o melhor presidente da história do país por hora de mandato, por hora trabalhada. Tem menos de um ano e meio de mandato e já fez muitas coisas pelo país. Tenho certeza de que em breve tempo ele será bafejado positivamente pelo reconhecimento a tudo que ele tem feito.

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Ser um ferrenho defensor do Eduardo Cunha foi pior ou melhor para o senhor?

Externamente foi negativo, não há dúvida, apesar de que houve um reconhecimento muito forte por eu ter mantido minha posição, não ter virado a casaca. Mas digamos que em termos de saldo, foi negativo externamente. Internamente me tornei um deputado respeitado na Casa por ter tido disposição de fazer uma coisa que muitos achavam que era certo e não tiveram disposição de fazer. Que é que aquele processo que cassou o Cunha não deveria ter cassado.

Hoje o senhor se arrepende de ter defendido?

Não, faria de novo.

Mesmo agora sabendo de outras coisas, dele estar preso por conta da Lava-Jato?

Naquele processo, naquele processo e naquele momento, eu teria a mesma posição, aonde a atuação do Cunha foi fundamental para o impeachment (da presidente Dilma Rousseff) se estabelecer. Ele foi o grande líder do impeachment, por isso que, tem seus erros, está se explicando, se defendendo na Justiça, mas também fez coisas positivas. Uma delas foi de liderar o processo de impeachment que tirou o PT do poder.

O senhor visitou o Eduardo Cunha na prisão em Curitiba (PR) uma vez. Teve outros contatos com ele depois disso?

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Posteriormente, não tive mais contato. Muitos perguntaram se eu ia visitar ele agora no Natal. Respondo que quando era deputado, mesmo sabendo que uma visita dessas fornece munição para a hipocrisia dos meus adversários, seriam meus adversários. Mas agora como ministro, seria munição para adversários do governo, e não tenho direito de estabelecer esse tipo de oportunidade para os hipócritas.

Se não for mesmo candidato, vai atuar nos bastidores da política?

Eu sou advogado, engenheiro, é possível que consiga sobreviver. E eleição tem de dois em dois anos, faremos uma avaliação. E penso que vamos ganhar a eleição, nosso projeto político será vitorioso na eleição presidencial e quem sabe até eu possa permanecer (no ministério) já sem estar na política, sem que haja interrupção.

Com o ex-presidente Lula condenado, a tensão aumenta para o governo?

A questão do ex-presidente Lula é uma questão da Justiça e é nesse âmbito que deve ser tratada. O governo não se manifesta sobre isso.

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