O clima de apreensão se transformou rapidamente em tristeza na pequena casa rosa de madeira da Rua Pedro Avelino, no bairro Barra do Trombudo, em Rio do Sul, nesta terça-feira de manhã, quando dois bombeiros mergulhadores encontraram o corpo de Lucas Nunes, de 21 anos, que se afogou depois que a canoa em que ele estava com amigo atravessando uma área alagada no bairro virou na tarde de segunda-feira. No momento em que os dois mergulhadores voltaram à superfície e sinalizaram ao colega que estava no barco, a família teve uma certeza: sofreu a maior perda entre todas as outras registradas no Alto Vale do Itajaí desde que as chuvas começaram, algo que não se recupera com limpeza ou com a descida do nível do rio.
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A morte de Lucas foi a quarta registrada em Santa Catarina desde que as chuvas intensas se iniciaram, no dia 8 de outubro. As buscas que haviam sido interrompidas na segunda-feira à noite foram retomadas pelo Corpo de Bombeiros por volta das 9h30min desta terça. Cerca de 15 minutos depois os dois mergulhadores de Lages que davam apoio à operação encontraram o corpo de Lucas, que estava a cerca de três centenas de metros distante da própria casa.
A localização precisa do acidente foi informada por Elias Martins, 20 anos, que também estava na embarcação quando ela virou e os dois caíram na água. Ele conseguiu sobreviver nadando em meio à enchente e contou que ainda tentou ajudar o amigo a se salvar, mas que tudo aconteceu muito rápido:
– A gente foi dar uma volta. Tinha uma rachadura no barco, mas não entrava muita água. Quando a gente viu o barco estava enchendo de água e virando. Aí entrou mais água e de repente virou. Ele não sabia nadar muito, só (estilo) cachorrinho, mas ele estava muito cansado e não conseguiu sair da correnteza.
Jovem se preparava para voltar a estudar e sonhava em ser policial federal
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O corpo foi encontrado exatamente no local do acidente, mas no fundo das águas, na parte onde inicia um campo de plantação de arroz. Quando os bombeiros confirmaram que o rapaz havia sido encontrado a mãe, Margarete, precisou ser amparada pela família. Na ânsia de abraçar o filho uma última vez ela quis entrar na água barrenta e foi contida pelos outros filhos.
O irmão mais velho, Maicon Nunes de Souza, 28 anos, contou que Lucas era um jovem feliz e que ajudava as outras pessoas da comunidade sempre que era preciso. Ele trabalhava em um frigorífico na cidade de Laurentino e se preparava para voltar para a escola.
– Faltavam três matérias pra ele terminar o segundo grau. Ele era muito bom, ia se dedicar e sempre dizia que o sonho dele era ser policial federal. Isso aconteceu numa brincadeira. Eles foram brincar na água e o barco virou. Ele nadava pouquinho, achava que sabia nadar, mas não sabia, e agora aconteceu isso – desabafou Maicon.
Segundo ele, a família mora no local há 15 anos e já foi vítima de várias cheias em Rio do Sul, mas acredita que depois da morte do irmão precisarão buscar outra morada:
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– Agora vamos ver, mas acho que ninguém mais vai querer ficar aqui.