A cidade de Corupá, a 19 quilômetros de Jaraguá do Sul, é cercada por morros cobertos de mata atlântica e cortados por diversos rios e ribeirões que formam cachoeiras e piscinas naturais. Há locais para prática de rapel junto a quedas da água como no parque do Braço Esquerdo, trilhas como a do Morro do Boi com 920 metros de altitude e muitos lugares para banho de rio. Nada contra os passeios românticos com gastronomia farta e hotéis cinco estrelas, mas eu e minha namorada tínhamos a proposta de nos aproximarmos da natureza.

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Depois de um café na pousada, montamos nossos sanduíches, pegamos algumas frutas e partimos rumo à Rota das Cachoeiras, onde o Rio Novo forma – em um trecho de 2,9 mil metros de extensão e 600 metros de desnível -14 cachoeiras.

Todas as quedas estão guardadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Emílio Fiorentino Battistella. Até lá são 14 quilômetros de estrada de terra, rodeada por gigantescas plantações de banana – a cidade de Corupá é a maior produtora de Santa Catarina e a segundo maior do Brasil.

Algumas cachoeiras impressionam pelo tamanho, outras pela beleza da paisagem com mata ao redor das águas. Confira as fotos

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Ainda no caminho, paramos para observar uma cachoeira ao longe, além do bananal e da mata, na encosta do morro. Era um risco branco em meio ao verde e pensamos que poderia ser a última cachoeira da trilha que estávamos por fazer. Alguns quilômetros depois compramos os ingressos na comunidade de Rio Novo (os tickets não são vendidos na entrada) e logo chegamos à reserva. Mesmo no estacionamento é possível ouvir o som da água correndo no rio, e basta caminhar cerca de 100 metros para conhecer a origem daquele turbilhão.

A primeira cachoeira se chama Suspiro e fica a apenas alguns metros da trilha, o que dificulta qualquer foto, pois os respingos e a umidade molham tudo que está próximo. Bastou abrir os braços para se refrescar do calor de 31º C.

A trilha segue por uma ponte pênsil, que cruza o rio, e entra na mata. Todo o percurso é bem sinalizado com placas indicando o acesso, o nome da cachoeira e se o banho é proibido por causa do risco de afogamento. Em diversos trechos da trilha há pontes pequenas de madeira sobre riachos e escadas com corrimão para apoio. O maior risco é escorregar em alguma pedra molhada e levar um belo tombo.

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Debaixo d´água

Seguimos trilha acima, parando em todas as cachoeiras. Nem todas são grandes quedas da água como as três primeiras. É o caso do Repouso, Remanso Grande e Tombo. Na sétima, chamada de Confluência, a trilha passa ao lado de um riacho que corre para o Rio Novo. Não resisto e vou para debaixo da água. Água gelada que alivia o calor. A 12º cachoeira é umas das maiores e mais bonitas. Com grande volume, ela tem duas quedas da água e dá para vê-la bem de frente, pois nesse ponto cruzamos novamente o rio.

A umidade do ar deixa o piso de madeira molhado e escorregadio. Mas é preciso ter cuidado ao colocar a mão nos corrimões, há lagartas que caem das árvores e que têm pelos venenosos que causam irritação na pele. Discretas com suas cores escuras, só percebi que estavam por toda a parte quando minha namorada colocou a mão sobre uma delas. Enquanto ainda conversávamos sobre a lagarta, um senhor nos interrompe e pergunta se entendo inglês. Respondo que sim e ele logo diz.

– There?s a snake on the trail.

Pergunto se a cobra que estava na trilha era grande e ele responde que tinha o tamanho de um braço, com cores amarelas e pretas. O senhor norte-americano se chama Tim Lindsey, 48, e veio com um amigo brasileiro de São Paulo conhecer a região.

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– Édifícil fazer toda a trilha, estou fora de forma – assume Lindsey.

Também encontramos a cobra, que logo saiu da trilha antes que pudéssemos chegar perto para vê-la melhor. A partir da 12ª cachoeira, o caminho passa por uma área de mata mais fechada e úmida com alguns pontos de barro. A trilha fica coberta de folhas secas, os troncos das ávores apresentam musgo verde e algumas broméias nos galhos mais altos. Encontramos també rãs e as lagartas, é claro.

Envolvidos pelo verde da natureza, paramos para descansar e escutar o ambiente ao nosso redor. O som do rio correndo veloz alguns metros abaixo, o assovio de alguns pásaros e os pingos dispersos e constantes de água sobre as folhas. Lembrei das primeiras vezes que acampei à beira do rio. De manhã, ao acordar, achava que tinha chovido a noite inteira.

O acesso para a 13ªcachoeira, chamada de Boqueirão, está fechado devido a um deslizamento que bloqueou a trilha. Nem percebemos essa entrada e seguimos direto até a 14ª, a Salto Grande. A mata se abre e se vê o rio abaixo, logo em seguida a trilha vira à direita e a cachoeira recebe nossa atenção.

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Última é a maior

Era a mesma cachoeira que paramos para ver na estrada a caminho da reserva. Incrível que depois de 13 quedas da água, a última seja a maior. A partir do topo do morro, a água despenca avassaladora por 125 metros. O local é como uma cavidade em formato de “U”. Ao redor, os paredões úmidos esverdeados pelos musgos.

Cruzamos o rio em mais uma ponte pênsil e subimos a trilha que leva até próximo da base da cachoeira. O ar úmido que vem da cascata forma uma nuvem de partículas de áqua, como uma neblina espessa, que encharca o chão, as plantas, as pedras, antes de sumir em direção ao vale. Depois de alguns minutos nesse lugar, também estamos molhados, repletos de gotíulas frias pelo corpo, como tudo naquele ambiente. Foram quase três horas de caminhada até a 14ºcachoeira, mas a beleza é tão gratificante que o cansaço desaparece como a névoa criada pela queda da áqua.

*Essa reportagem faz parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo na UFSC, produzido por Erich em 2012.

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