*David W. Brown
Essas visitas mensais a uma prisão de segurança mínima são as únicas vezes que Lila, que tem dez anos e está no quinto ano, toca sua mãe. "Às vezes pergunto: 'Mãe, quando você vai voltar para casa?' Ela diz que vai ser logo e pede que eu reze mais, implorando isso a Deus. Rezo pela minha mãe todas as noites", contou Lila.
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Ela tinha poucos anos quando sua mãe, Lena Acosta, foi condenada por esfaquear até a morte uma mulher que também namorava o pai de Lila, e será uma adulta quando ela tiver a chance de liberdade condicional em 2030. Acosta diz que lamenta que suas ações de quase uma década atrás tenham deixado sua filha nessa posição hoje. "Eu era uma pessoa horrível", disse ela, acrescentando que sua fé a ajudou a mudar.

Quando a população carcerária dos Estados Unidos (EUA) começou a aumentar na década de 1980, o número de mulheres encarceradas cresceu mais de 750 por cento, uma taxa duas vezes maior que a dos homens. O aumento, de acordo com criminologistas, foi impulsionado pelo crescimento do número de prisões de mulheres brancas por crimes relacionados a propriedades e drogas. E, conforme a população aumenta, o mesmo acontece com o número de crianças crescendo com a mãe ou o pai atrás das grades.

Pelo menos cinco milhões de crianças – ou cerca de sete por cento dos jovens americanos – tiveram um pai encarcerado, com menores negros, pobres e de áreas rurais desproporcionalmente afetados, de acordo com um relatório de 2015 que analisou dados federais.
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As consequências são difíceis, desde lares instáveis até efeitos duradouros sobre o bem-estar. Estudos mostram que as crianças, em muitos aspectos, compartilham as sentenças com seus pais: elas enfrentam riscos aumentados de problemas psicológicos e comportamentais, não dormem o suficiente, são mal nutridas e têm maiores chances de entrar elas mesmas no sistema de justiça criminal.
Em geral, é muito pior para as crianças quando o interno é a mãe. Mais de 60 por cento das mulheres em prisões estaduais e quase 80 por cento das que estão na cadeia têm filhos menores, e a maioria delas é a cuidadora primária das crianças.

"Ter uma mãe na prisão é como uma ferida primordial", disse Brittany Barnett, fundadora da Girls Embracing Mothers, a organização que leva Lila para as visitas mensais à prisão. O programa, que começou há seis anos, já trabalhou com 52 mulheres encarceradas, todas elas mães solteiras, com exceção de duas. "Uma vez que a mãe vai para a prisão, a situação é devastadora para o lar e a família", disse Barnett, cuja mãe passou um tempo na prisão.
Nenhum estado prende mais mulheres que o Texas, onde quatro em cada cinco presidiárias são mães, de acordo com um relatório de 2017 da Coalizão de Justiça Criminal do Texas. Segundo a organização, a pena média é de nove anos por uma condenação relacionada a drogas e mais de oito anos por crimes de roubo – parcela significativa da vida de uma criança.
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Em resposta ao número de mães encarceradas, e em meio à crescente pressão pública sobre uma série de mortes de presos e escândalos envolvendo o tratamento das presas, os legisladores do Texas este ano aprovaram uma série de leis de dignidade para melhor acomodar as prisioneiras. Uma medida ordena que o Departamento de Justiça Criminal do Texas estude os efeitos de suas políticas de visitação nas relações entre os detentos e seus filhos.
Jeremy Desel, diretor de comunicações do departamento, disse que a política de visitação do sistema prisional permite que crianças pequenas sejam carregadas/abraçadas por seus pais durante as visitas de duas horas, diretrizes que "têm como objetivo proteger todos os envolvidos".
"A prioridade primeira e principal sempre tem de ser a segurança", disse ele, acrescentando: "Há espaço para discernimento nessa política." O departamento tem um programa que permite que as mães se relacionem com seus recém-nascidos por várias semanas, disse Desel, e está aberto a sugestões.

O Texas está entre os oito estados onde a população carcerária feminina aumentou – com mais de 12 mil mulheres cumprindo pena, a maioria por crimes não violentos –, enquanto o número de homens encarcerados caiu, de acordo com um estudo da Iniciativa de Política Prisional, grupo de pesquisa de Massachusetts.
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Muitas dessas mulheres estão presas em Gatesville, cidade rural cerca de 40 quilômetros a oeste de Waco, onde há quase 16 mil pessoas e cinco dos oito presídios femininos e estaduais operados pelo Departamento de Justiça Criminal do Texas.
Em uma manhã recente, burros pastavam em um campo ao lado da Prisão Estadual Linda Woodman quando 22 meninas desceram do ônibus da Girls Embracing Mothers. A maioria de suas mães tinha sido trazida de uma prisão próxima.
Para participar do programa, as detentas não devem ter tido infrações por pelo menos seis meses. Além das visitas mensais, as mães recebem conselhos sobre maneiras de se relacionar com suas filhas, incluindo como falar abertamente sobre o que as levou à prisão. Nessa visita recente, as mulheres e suas filhas comeram cupcakes e tiveram aulas sobre a construção da autoestima.

Malishia Booker, que está cumprindo uma sentença de 20 anos por agressão agravada a um funcionário público e outros crimes, tentou dar à sua filha Jessicah conselhos sobre o preenchimento de formulários de ajuda financeira da faculdade. Mas ela não podia oferecer muito mais que encorajamento.
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"Eu me sinto tão impotente", disse Booker, de 46 anos, mãe de sete filhos, quatro dos quais vivem juntos em um apartamento na periferia de Dallas. Jessicah, de 19 anos, descreveu os últimos conflitos entre os irmãos em casa e o vestido cor de vinho que usou para o baile de formatura.
"Minha mãe está perdendo todos esses marcos. Não estamos mais bravos com ela, apenas tristes", disse Jessicah, em lágrimas, enquanto sua irmã Ja'Bria, de 18 anos, se sentava desleixadamente em uma cadeira do outro lado da mesa, com um olhar tristonho.

As ramificações de longas penas de prisão muitas vezes seguem as mães muito tempo depois de serem libertadas, desde dificuldades financeiras até relacionamentos complicados com os filhos.
Desde sua liberação em 2015, Karen Keith – que passou quase três anos em prisões do Texas por não ter pagado US$ 1.200 mensais de restituição por uma acusação de peculato – enfrenta dificuldades para encontrar habitação, porque, segundo ela, muitos proprietários rejeitam pessoas com antecedentes criminais. Ainda mais doloroso, disse ela, é o fato de que sua família cortou todo o contato com ela.
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"Não vejo meus três filhos e meus três netos há seis anos", disse Keith, de 62 anos. Ela roubou US$ 143 mil para pagar o tratamento médico de seu filho, que havia ultrapassado sua cobertura de seguro de saúde, disse ela. "Eles não querem mais saber de mim."

Maggie Luna, de 39 anos, mãe solteira cuja primeira pena de prisão começou em 2011 depois que foi condenada por passar cheques sem fundos, perdeu a custódia de seus três filhos. Um juiz do Texas rescindiu seus direitos parentais em 2014 depois que ela foi pega em um teste de drogas, disse ela. Ela conta que, por não conseguir pagar um advogado para apresentar um recurso, a sentença a fez entrar em uma espiral descendente de dependência de drogas, que a levou a outra sentença de prisão.
Sua filha mais nova foi adotada, seu filho de nove anos está em um hospital psiquiátrico e sua mais velha, Delilah, de 13 anos, está morando com a mãe de Luna. Delilah estava no jardim de infância quando sua mãe foi condenada pela primeira vez. Por um tempo, ela e seus irmãos viveram com o pai de Delilah, que ocasionalmente os levava para visitar a mãe. Mãe e filha ainda se lembram da dor dessas visitas.

"Os guardas não permitiam toque. Tínhamos de nos sentar em lados opostos. Para mim, foi muito difícil entender", disse Delilah, que na época tinha cinco anos e era velha demais para se sentar no colo da mãe. Desde 2016, o encarceramento de um dos pais afeta quase 20 mil crianças que entram no sistema de adoção do estado todos os anos, de acordo com o Departamento de Família e Serviços de Proteção do Texas.
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"Nem sei dizer quantas vezes ouvi os gritos de mulheres quando ficaram sabendo que tinham perdido seus direitos parentais", disse Lauren Johnson, coordenadora da União Americana de Liberdades Civis do Texas, que foi presa três vezes por crimes relacionados à dependência de drogas. "Perder seus filhos é o preço mais alto a ser pago."
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