Desde sexta-feira, o Diário Catarinense publica uma série de reportagens que tem pelo menos três valores. O principal deles, a meu ver, é o serviço de utilidade pública à sociedade, ao informar detalhes sórdidos da atuação de uma organização criminosa que decide sobre a vida e a morte de seus integrantes ou de seus adversários. Outro valor fundamental é o alerta às próprias autoridades, algumas delas ainda desconhecedoras da real dimensão e perigo da facção criminosa que se forjou nas cadeias catarinenses nos últimos 10 anos. E um terceiro valor, talvez menor, mas tema desta conversa dominical, o significado jornalístico da série A Máfia das Cadeias.
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Costuma-se dizer que o jornalismo está morrendo. Ou melhor, que já faleceu. Essa frase pulula em algumas cadeiras da Academia, em comunicadores que preferem considerar que o passado era melhor ou mesmo em algumas Redações onde a descrença ainda viceja. É provável que até no Diário Catarinense essa visão se instale na alma de alguns profissionais vez que outra, em especial no intervalo daqueles grandes momentos em que a adrenalina se instala. O trabalho conduzido pelos repórteres Diogo Vargas e Felipe Pereira é mais uma prova cabal de que o bom jornalismo está mais vivo do que nunca.
O tsunami de informações que chega a nós todos os dias pelos diversos meios está servindo para uma depuração natural. Vão sobreviver nesse mundo em que a grande reportagem muitas vezes se confunde com uma tuitada na rede social os veículos e os profissionais que apostarem no planejamento, na seriedade da apuração, na lapidação da pedra bruta da primeira informação. Os que apostarem na análise, na interpretação e no aprofundamento das investigações.
É o que Diogo e Felipe estão fazendo desde a virada do ano quando, em uma reunião, decretamos que o DC tinha a obrigação de explicar o que estava por trás dos atentados que, em novembro passado, sacudiram o Estado, colocando Santa Catarina na infeliz rota dos atos terroristas.
Uma segunda onda, nascida duas semanas após aquela reunião, reforçou a necessidade de colocarmos energia na elucidação do crime organizado. A dupla de repórteres, sempre com brilho nos olhos, trouxe muito mais do que se imaginava, conforme podemos constatar com a leitura do material que invade a semana. Conduzidos pela mão serena do editor Ivan Rodrigues, os dois repórteres estão trazendo pedras preciosas à luz, como o capítulo publicado neste domingo, que mostra o papel nefasto de advogados que resolveram desonrar o juramento profissional e se colocar a serviço da empresa do mal.
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O dia a dia impõe a uma Redação uma série de desafios estressantes, que exigem fortalezas de corpo e espírito. Como se aprofundar se as agendas não cessam? Como ir além se o noticiário se impõe e atropela? Como fugir à superficialidade se os fatos se sucedem e deixam as equipes sem fôlego? Como respirar em meio à avalanche da rotina? Como? Como?
Colocar energia no que merece ser energizado é tão subjetivo quanto necessário para a sobrevivência. E tenho predileção especial pelo foco, pela aposta, pela clara definição do horizonte almejado. A Máfia das Cadeias tem foco, tem aposta, tem energia de uma equipe disposta a tentar enxergar, à distância, aonde quer chegar. E, quando alcança, faz reluzir o velho e bom jornalismo, que nada mais é do que contar – e bem – uma história que mereça ser contada.
Diogo e Felipe estão fazendo Jornalismo. E história.