Nasci na cidade de Moscou, capital da Rússia, que tem cerca 12 milhões de habitantes. Não vou esconder que no começo foi bastante complicado viver numa cidade tão menor. Nas minhas primeiras folgas de fim de semana, frequentemente eu ia para São Paulo a fim de compensar essa falta de barulho, de som, de agito.
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Hoje acontece o contrário. Penso que, se não fosse Santa Catarina, se não fosse Joinville, eu jamais ficaria no Brasil por mais que três ou quatro meses. Joinville combina comigo – adoro andar de bicicleta, gosto da comida alemã, gosto da cidade acordando cedo e dormindo cedo. Gosto da tradição, do total foco no trabalho e de outros atributos da cidade. Gosto até da chuva.
Além de tudo isso, gosto muito da hospitalidade geral dos brasileiros – morei anteriormente na Áustria, e sei muito bem a diferença entre o tratamento dado ao estrangeiro aqui e na Europa. Sei como lá fora as pessoas evitam quem vem de fora, e sei que no Brasil o “gringo” causa, no mínimo, curiosidade. Admito que as perguntas básicas ao russo ainda irritam um pouco – “Já foi para a Sibéria? Já pegou quantos graus abaixo do zero? Gosta de vodca? As mulheres russas são lindas, né?” -, no entanto foi justamente respondendo a essas perguntas, várias vezes, que pude exercitar meu português.
Foi assim, falando com os estranhos e amigos dos amigos, que eu aprendi a falar o português. O futebol e a música também ajudaram bastante a me enturmar com o povo daqui e, sinceramente, com exceção das piadinhas bobas e clichês sobre europeus, não sinto nenhum incômodo de ser estrangeiro.
Apesar de estar aqui há mais de 10 anos, eu ainda mantenho vários hábitos do meu povo. Infelizmente, o brasileiro ainda tem uma noção muito distorcida sobre a Rússia, e vice-versa. Minha mãe, quando conheceu Santa Catarina, particularmente Florianópolis, ficou absolutamente apaixonada. Ela jamais imaginava o Brasil tão desenvolvido, tão moderno e tão belo. Mar, praia, serra, cachoeiras, rios, baías, montanhas, florestas, ilhas – Santa Catarina tem mais atrações do que muitos países europeus.
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Os problemas aqui existem, sim; acredito que, nisso, nós estrangeiros podemos ajudar, e muito, o Brasil. Queira ou não, em algumas áreas temos uma experiência maior, temos um olhar diferente, um olhar de fora. Assim, conhecendo a realidade, respeitando história e a cultura do país, podemos ajudar a alcançar soluções viáveis.
Sinto-me honrado em participar desse processo de desenvolvimento por intermédio do trabalho na Escola do Teatro Bolshoi em Joinville. Fico feliz em ver o crescimento do Brasil em várias frentes – um gigante da América Latina avançando na discussão das questões contemporâneas, com economia forte e sustentável. Um país que eu aprendi a amar e que, um dia, se eu tiver que voltar para a Rússia, vai deixar muitas saudades.
* Diretor geral da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, natural da capital russa Moscou