No oceano, na terra, em produtos de beleza e até dentro do corpo humano. Nos últimos anos, a ciência vem descobrindo microplásticos em todos os lugares. Essas minúsculas partículas de plástico, geralmente menores do que 5 milímetros, vêm causando cada vez mais preocupação na comunidade científica e na população. Ainda não se sabe ao certo, porém, quais os riscos à saúde humana.

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Os microplásticos têm origens distintas. Alguns já são produzidos em tamanho micro e podem ser encontrados, por exemplo, nas “bolinhas” presentes em cosméticos esfoliantes. Outros são microplásticos secundários; ou seja, se formam a partir da degradação de plásticos maiores, como garrafas PET, sacolas de supermercado, tecidos e pneus. O segundo tipo é, de longe, o mais comum.

Isso porque, nos últimos anos, o mundo vem produzindo cada vez mais plásticos: em 1950, o mundo produzia 2 milhões de toneladas de plásticos e, em 2019, esse número aumentou quase 200 vezes, chegando a 396 milhões de toneladas, de acordo com uma pesquisa do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Do total já produzido, 43,6% foi descartado em aterros sanitários ou na natureza.

Desse montante, uma parte acaba virando microplástico. A ciência já encontrou essas substâncias na areia da praia e na água engarrafada, nos peixes e nas aves, na corrente sanguínea e na placenta de humanos, no pico do Monte Everest e no fundo da Fossa das Marianas. Os microplásticos são onipresentes.

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Como os microplásticos afetam a saúde humana

Estudos específicos sobre os impactos dos microplásticos à saúde humana ainda estão no início, devido à complexidade dos diferentes tipos de plásticos e sua diversidade de compostos. O que sabemos é que há três formas possíveis de contaminação: pelo contato com a pele, pela respiração e pela ingestão.

O contato pela pele geralmente ocorre com cosméticos e produtos de higiene. Já a inalação acontece porque muitas dessas partículas flutuam no ar — em ambientes urbanos, resquícios de pneus desgastados pelo asfalto, por exemplo, são comuns. A ingestão, por outro lado, ocorre porque a água e muitos alimentos, como peixes, frutas e aves, estão contaminados.

Os perigos do microplástico

— Na pele, o estrato córneo (camada mais externa) vai atuar como uma barreira de proteção. Mas o sistema digestivo e respiratório podem permitir que essas partículas penetrem a circulação sanguínea e, daí, elas podem ir para qualquer parte do corpo — explica Roberta Urban, pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que atua na área de química ambiental.

Na circulação sanguínea, os microplásticos causam morte celular e respostas inflamatórias em diferentes órgãos. Pesquisas já comprovam que essas substâncias podem causar danos no DNA e modificações genéticas.

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— A gente ainda tem muitas dúvidas em relação às concentrações de microplásticos na atmosfera, então até o momento a ingestão parece ser a via de exposição mais importante, em termos de quantidade. A princípio, a gente ingere mais do que inala ou tem contato dérmico — diz Roberta.

Microplásticos em Santa Catarina

Se o risco maior é a ingestão de microplásticos, os catarinenses devem ficar atentos a alimentos de origem marinha. Um estudo feito pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) encontrou essas substâncias em 100% dos mariscos de cultivo (como ostras e mexilhões) coletados no Litoral Norte. O Estado, vale lembrar, é o maior produtor de moluscos do Brasil.

— Nosso projeto encontrou muitas fibras sintéticas, vindas de tecidos, nesses animais filtradores. A principal hipótese é de que essa contaminação esteja associada não com esgoto de banheiro, mas da máquina de lavar roupa, que sai da lavanderia e acaba chegando no oceano — explica o coordenador da pesquisa, Thiago Pereira Alves.

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De acordo com o cientista, os resultados indicam que há uma menor contaminação aqui do que em regiões mais povoadas.

— Quando a gente compara nosso resultado com os de outras regiões produtoras de mexilhões, como a Austrália, Indonésia e o Equador, nosso grau de contaminação ainda é pequeno. Isso quer dizer que nós temos um problema que ainda tá no começo. Ainda podemos fazer com que esse problema não aumente.

Entretanto, segundo pesquisa feita pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP, foi encontrada grande quantidade de lixo entre 200 e 1.500 metros de profundidade, a cerca de 200 km de distância da costa nos Estados de São Paulo e Santa Catarina, durante as expedições do projeto Deep-Ocean, financiado pela Fapesp. Dos 31 locais selecionados para a coleta — 16 a sudeste de Ilhabela (SP) e 15 próximos a Florianópolis (SC) —, em apenas três deles os peixes não vieram acompanhados de lixo. O plástico representou mais da metade da quantidade desses itens e esteve presente em todos os locais pesquisados.

Além da presença de microplásticos no oceano, que pode ser ingerido por animais comercialmente importantes como a merluza, por exemplo, algumas espécies que migram verticalmente nos oceanos também podem ser uma fonte de microplástico para o mar profundo.

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“Algumas espécies de peixes ficam em regiões mais profundas durante o dia e à noite sobem para regiões mais rasas para se alimentarem. Eles servem como uma fonte de plástico para o mar profundo, porque podem comer o plástico da superfície e descer. Uma vez que são predados, esse material plástico pode passar na cadeia alimentar”, diz o estudo.

Um indício de que os animais de mar profundo também consomem o que é despejado no oceano são grãos de milho e de soja encontrados no estômago de uma espécie de peixe-granadeiro coletada. A próxima etapa do projeto vai investigar a possibilidade de contaminação nos invertebrados encontrados em algumas amostras, como esponjas-do-mar, poliquetas e pequenos crustáceos.

Como evitar a contaminação por microplásticos?

De acordo com Roberta Urban, como os microplásticos estão em toda a parte, é quase impossível não estar expostos a eles. Há, porém, alguns cuidados que podem ajudar:

  • Consumir água de fontes confiáveis – Optar por água de torneira sempre que possível, pois estudos indicam menor presença de microplásticos em comparação com água engarrafada.
  • Optar por embalagens de vidro – Escolher embalagens de vidro em vez de plástico, quando viável, para reduzir a exposição aos microplásticos presentes em alguns plásticos.
  • Atenção à origem dos alimentos – Lavar bem frutas, vegetais e outros alimentos antes do consumo, pois eles podem conter microplásticos provenientes do ambiente.
  • Avalie o uso de máscaras faciais – Estudos demonstraram que máscaras diminuem exposição a microplásticos do ar.
  • Evitar cosméticos com microplásticos -Escolher cosméticos e produtos de higiene pessoal que sejam livres de microplásticos, verificando os rótulos.
  • Faça sua parte – Considerar alternativas para reduzir o uso de produtos plásticos descartáveis, como garrafas e sacolas plásticas.

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Infográfico mostra a origem do plástico e a transformação em microplástico

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