– Você viu que nasceu o bebê da Felícia?
– Não me diz! Será que foi tudo bem? Ela estava com tanto medo do parto!
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– Acho que sim. Fiquei sabendo pelo Face.
Vi a foto dela com o gurizinho. Ele é muito fofinho.
– Ah, vou entrar no Face depois e mandar os parabéns pra ela.
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– Já sabe que o Paulinho baixou hospital ontem?
– Nossa! Coitado do nosso amigo. Mas o que aconteceu?
– Não sei bem, porque só vi no Face. Tinha uma foto dele deitado na cama no quarto do hospital. Parece que amanhã ele passará por uma cirurgia.
– Tomara que não seja nada de mais grave. – Vou deixar um recado no Face, dizendo pra ele ficar tranquilo que vai dar tudo certo.
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– Juliana, por que a gente só janta sanduíche aqui em casa?
– Ué, Paulo. Nós sempre fizemos lanche à noite, e você nunca reclamou. O que houve agora? – É que todo mundo come bem, faz altos jantares toda noite. Só nós não saímos da mesmice. O Beto come salmão com alcaparras, o Juninho faz carne assada com batatas, a Carlinha inventou um bobó de camarão divino…
– Paulo, você está tão estranho. Como sabe disso tudo?
– Entra lá no Face e vê as fotos. Só comida boa!
– Fotografa o nosso sanduíche também, ora bolas…
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– Mãe, você sabe que a Amelinha, do terceiro andar, se separou?
– Não, não sabia. Tenho notado que ela anda um pouco triste, mas não achei que o casamento ia mal. Eles pareciam tão felizes. Quem te contou?
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– Ninguém. Eu vi no Face. Ela mudou o status de ” relacionamento sério com João Batista” para ” solteira”. E no Face do João já não tem mais nenhuma foto deles juntos.
– Puxa, então é sério mesmo… Que chato…
? ? ?
– Mãe, acho que eu sou a garota mais popular da cidade. Todo mundo é meu amigo.
– Que legal, filha. Convida a turma pra tua festa de aniversário no sábado.
– Impossível. Tu não tem noção, mãe. Cheguei a mil amigos no Face hoje. Não é legal demais?
– Ah, é no Face… Achei que eram amigos de verdade.
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É isso aí. A vida de todos está lá, escancarada no Facebook, para quem quiser ver, opinar, curtir e participar. A rede social pode ser legal e divertida, se bem usada. Mas o difícil é controlar o exagero. A vida virtual tem tomado mais tempo e se tornado mais importante do que a vida real, aqui fora. E as pessoas, me parece, estão cada vez mais solitárias, disfarçando a solidão em frente à tela do computador.