Não fosse pela sonoridade das palavras ditas com a voz inconfundível, seria de se desconfiar estar conversando com um ídolo de tantas gerações. Dono de uma simplicidade louvável, Jair Rodrigues, que promete fazer um belo espetáculo neste sábado em Itajaí, atendeu a reportagem do Sol Diário para falar a expectativa de voltar a Santa Catarina.

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Aos 74 anos, ele conta com alegria e disposição de sobra para fazer o público dançar e cantar junto. A apresentação do músico, que conta com sucessos reunidos em 54 anos de carreira, está marcada para 19h, no Mercado Público.

Você já veio a Itajaí? Gosta do público daqui?

Já fui tantas vezes aí que acho que a primeira vez que fui aí você não era nem nascida. Acho que nem a sua mãe tinha nascido. Itajaí já é minha casa e cada vez que volto é sempre um amor a mais. O catarinense não tem o que dizer, em todo o Brasil sempre tem um cantinho acolhedor, principalmente em Itajaí.

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O que podemos esperar do show deste sábado?

Gosto de show alegre, gosto da satisfação do público. E o público já está acostumado comigo, sabe como eu sou, que gosto de cantar junto. O show é para todas as idades e graças a Deus não tenho problema nenhum em estar diante desse público de várias faixas etárias.

Qual das suas músicas marca sua carreira?

Meu primeiro grande sucesso foi Deixa Isso pra Lá, que é considerado o primeiro rap brasileiro. Sempre que eu canto essa molecada por onde eu passo todo mundo sabe. Depois eu tenho também grandes sambas como Tristeza, Festa Para Um Rei Negro, conhecidos no mundo inteiro, além de Majestade o Sabiá.

Graças a Deus em 54 anos de carreira eu pude fazer um repertório que não dá para saber qual a mais conhecida. Quando eu canto todo mundo sabe a letra e a música. Então tem Majestade o Sabiá e músicas que não acabam mais. Posso fazer um show de uma hora e meia ou duas, mas também posso fazer de três horas, cindo horas.

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Recentemente Martinho da Vila deu uma entrevista à Isto É dizendo que não sofreu com a ditadura militar porque serviu o exército, o senhor também. Isso lhe favoreceu?

Eu, na verdade servi no Tiros de Guerra, que era no interior, mas era como servir o Exército. Graças a Deus nunca tive problemas com a ditadura nem com a censura. Sempre fui sabedor das coisas, mas nunca fui censurado em nada. Tanto é que eu cantava as músicas do Chico Buarque, Geraldo Vandré, Gil e Caetano e nunca tive problema. Aliás, você sabe que quem lançou Martinho da Vila foi Jair Rodrigues?

Quem mais o senhor ajudou a lançar?

Alcione, Clara Nunes, Originais do Samba, Benito de Paula, Gilson de Souza, Jairzinho, Luciana Mello. Na época a gente tinha uma programação extensa na televisão e no rádio. Eu apresenta um programa com a saudosa e inesquecível Elis Regina, Filhos da Bossa, e também estava sempre nos programas da Jovem Guarda, o Roberto Carlos estava sempre no nosso programa. O Gilberto Gil e o Chico Buarque também começaram cantando no nosso programa.

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O senhor tem saudade dessa época?

Não sou saudosista, mas é uma coisa que fica aí na história da Música Popular Brasileira. Nós hoje somos consagrados graças a tudo aquilo que aconteceu conosco no passado.

O senhor acompanha os raps atuais, acha que eles tem um pouco da sua influência?

Eu não gosto de palavrão, eu gosto do rap no estilo do meu Deixa Isso Pra Lá, por exemplo, um rap mais maneiro. Não gosto de rap que fala de crime, fazendo apologia à droga, apologia ao palavrão.

Eu gosto desse menino, o Emicida, por exemplo, e gosto de outros que tem esse rap mais light. Não tem necessidade de ficar falando palavrão. O Brasil precisa de outros palavreados.

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Você foi autor de muitos sucessos, reeditou alguns com participação especial de amigos e já cantou com seus filhos, pensa em parar?

Só quando Deus me levar. A música a gente só para quando Deus leva. Quando ele me falar “chefe vamos embora, vem cantar aqui pra mim”, aí eu paro. Foi Ele que me deu esse dom, estou com muita saúde, agradeço todos os dias pela alegria, então só quando ele me levar.