Dezenas de milhares de nepaleses assustados e sem abrigo aguardavam, nesta segunda-feira, em barracas a ajuda dos voluntários procedentes de todo o mundo, após o violento terremoto que deixou mais de 5 mil mortos no país. De tão forte, fez vítimas também na Índia e na China.
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Com equipamentos especiais e auxiliados por cães farejadores, as equipes humanitárias internacionais desembarcavam com regularidade no aeroporto de Katmandu, a capital nepalesa, que foi devastada no sábado pelo tremor.
O terremoto de 7,8 graus de magnitude é o tremor mais violento dos últimos 80 anos no Nepal, segundo o balanço mais recente do departamento de gestão de catástrofes do ministério nepalês do Interior.
População ao relento e dificuldade de comunicação na segunda noite após terremoto
Veja o que se sabe sobre o terremoto e qual é a situação do país:
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> Causas do terremoto
O terremoto pode estar ligado a um tremor ocorrido em 1934, que matou 8,5 mil pessoas na mesma região, por ter deixado grande pressão acumulada no subsolo. Cientistas acreditam que essa pressão foi sendo transferida ao longo de uma falha geológica e liberada, 81 anos depois, no último sábado.
Estudiosos haviam identificado há um mês a possibilidade de um grande abalo sísmico ocorrer no exato epicentro deste último tremor, após um estudo revelar um padrão histórico de terremotos na região do Nepal. Eles identificaram que é comum um grande terremoto gerar outro, vários anos mais tarde, em uma mesma região.
O mais preocupante é que os pesquisadores acreditam que novos tremores podem estar por vir. Cálculos sugerem que a magnitude 7,8 do terremoto de sábado não foi forte o suficiente para gerar uma ruptura até a superfície, então, é possível que mais pressão ainda esteja acumulada. Por isso, pode-se esperar um novo grande terremoto ao leste e ao sul nas próximas décadas.
Vídeos mostram pânico em terremoto e avalanche
> Por que o Nepal é vulnerável a terremotos
O Nepal está localizado em uma das regiões de maior atividade sísmica do mundo, pois fica no encontro de duas placas tectônicas, a eurasiana e a indiana, na Ásia Central.
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Estas duas porções da crosta terrestre estão convergindo a um ritmo de 4 a 5 centímetros por ano. E, conforme o Monte Everest e suas montanhas-irmãs se erguem, ocorrem inúmeros tremores. Uma acomodação destas placas tectônicas provavelmente criou este terremoto mais recente no Nepal.
> Número de vítimas
O número de mortos em razão do terremoto sobe a cada hora desde sábado. A última atualização, por volta das 10h desta terça, indica que pelo menos 5.057 pessoas morreram, incluindo 18 na avalanche ocorrida no Monte Everest. Na Índia, o balanço de mortos chega a 56 e, na China, mais de 20. O número total de feridos passa de 10 mil.
> Por que número de mortos deve aumentar
O número de vítimas é alto e deve aumentar devido (1) à magnitude do principal tremor, de 7,8 graus na escala Richter, e porque ocorreu bem próximo da superfície, a meros 10 ou 15 quilômetros de profundidade, fazendo a terra tremer muito; (2) ocorreram mais de cem tremores secundários; (3) muitos edifícios estão danificados e com risco de desabar a qualquer novo tremor; (4) possibilidade de deslizamentos em áreas de montanha; (5) em locais de terrenos montanhosos, vilarejos podem ficar isolados, o que pode aumentar a conta.
Em vídeo, diretor da ONU fala a colunista de ZH sobre o atendimento a vítimas:
> Brasileiros no Nepal
Até as 13h desta segunda-feira, o Itamaraty já havia recebido informações sobre 96 brasileiros que estavam no Nepal durante o terremoto. Segundo o ministério, os cidadãos localizados pela embaixada em Katmandu não sofreram ferimentos e estão recebendo assistência consular.
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Um deles, o alpinista brasileiro Rosier Alexandre, que estava no Everest no momento do terremoto que atingiu o Nepal junto com o filho, foi resgatado de helicóptero nesta segunda-feira. Ambos passam bem.
Neste domingo, Rafael Freitas, de 26 anos, encerrou um dia de angústia de sua família em Porto Alegre. Ele estava em Katmandu e trocou poucas sequências de mensagens pelo celular com a mãe. Há seis anos morando em Dee Why, na Austrália, Rafael viajou no dia 12 de abril para o Nepal com os amigos, os também brasileiros Fabiano Fortes e Gabriel Ludwig. A ideia era participar de um festival de música chamado Universal Religion, no interior do país. Quando o primeiro tremor aconteceu, eles estavam a caminho do evento, que ocorreria no pé de uma montanha a duas horas de Katmandu. A distância da cidade pode ter salvado os brasileiros.
> Situação do Nepal
Muitas das ruas foram transformadas em abrigos improvisados com bambu e lençóis para dezenas de milhares de pessoas que tiveram suas casas destruídas ou estavam com medo de voltar diante de novos tremores. Na noite deste domingo, funcionários alertaram, com alto-falantes nas ruas, que não é seguro dormir em casa.
O fornecimento de eletricidade é intermitente na capital Katmandu e quase inexistente em outras partes do Nepal. Água potável também é escassa em parte da capital. Devido às réplicas, o aeroporto da cidade foi fechado várias vezes durante o dia, dificultando a chegada de ajuda e a saída dos estrangeiros.
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A comunicação por telefone ainda é precária e muitos não conseguem contato com parentes em outras vilas. A ONU alertou que os hospitais do vale do Katmandu, área mais populosa do país, estão lotados e ficando sem suprimentos médicos ou espaço para abrigar os corpos. A maioria das lojas de Katmandu ficaram fechadas, apenas vendedores de frutas e farmácias abriram as portas.
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> Trabalho de resgate
Equipes de resgate cavam os destroços de prédios em busca de sobreviventes. Com o ar carregado de pó branco de concreto, muitos usam máscaras para cobrir o rosto. Em outros pontos da cidade, uma fumaça branca cobre o cenário, oriunda dos centenas de corpos cremados. O ritual é tradição da religião hindu, que é majoritária no país.
Os EUA enviaram equipes de resgate ao país, além de US$ 1 milhão. A China enviou times com cães farejadores. Reino Unido, Índia, Sri Lanka, Japão, Rússia e a União Europeia prometeram doações. O auxílio deve financiar tanques de água potável, medicamentos e abrigos provisórios. A Índia enviou 13 aviões militares carregados com toneladas de alimentos e cobertores.
O Unicef anunciou que enviará a Katmandu dois aviões de carga com 120 toneladas de ajuda humanitária, incluindo remédios, barracas e cobertores.
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> Reconstrução do país
O custo da reconstrução das áreas atingidas no Nepal após o terremoto de sábado poderá ultrapassar US$ 5 bilhões, ou cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo com a consultoria de serviços IHS, com sede no Colorado, Estados Unidos.
O devastador terremoto ainda deve prejudicar a indústria de turismo do Nepal e pesar na economia por muitos meses, segundo Biswas. O turismo corresponde por cerca de 4% do PIB e contribui com cerca de 8% do PIB. Cerca de 800 mil turistas estrangeiros visitam Nepal a cada ano.
Veja fotos da tragédia:
* ZH com agências