A vacinação de adolescentes contra Covid-19 voltou ao centro das discussões nesta quinta-feira (16). O assunto esteve em alta depois que o Ministério da Saúde recomendou a suspensão da aplicação de doses em pessoas desse grupo que não tiverem deficiência permanente, comorbidades ou forem privados de liberdade.

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Apesar da recomendação, Santa Catarina e outros estados anunciou que irá rejeitar a recomendação e que seguirá vacinando adolescentes sem comorbidades. Cidades como Florianópolis, Blumenau e Joinville também já sinalizaram que devem seguir a decisão do Estado.

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O governo justificou a decisão como medida de “cautela”. O ministro Marcelo Queiroga citou uma suposta “falta de evidências científicas” sobre os benefícios da vacinação desse grupo e chegou a colocar em xeque a segurança da imunização nesses grupos ao citar casos de “eventos adversos a serem investigados”. Segundo a pasta, dos 3,5 milhões de adolescentes já vacinados no país, 1,5 mil relataram alguma reação – 0,04% do total.

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Outro argumento citado pelo ministro da Saúde em coletiva é de que municípios estariam utilizando vacinas que ainda não tiveram aprovação específica de uso em adolescentes.

A autorização para vacinar jovens de 12 a 17 anos a partir de 15 de setembro foi divulgada no fim de agosto. Na ocasião, a orientação foi de que fossem usadas apenas imunizantes da Pfizer, o único utilizado no Brasil que já teve testes concluídos e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para imunizar adolescentes.

Segundo dados mostrados pelo ministério, no entanto, um total de 26,7 mil doses de outros imunizantes (Sinovac/Butantan, Astrazeneca/Fiocruz e Janssen) teriam sido usados na vacinação de adolescentes no país. O número equivale a 0,7% do total de doses aplicadas, de 3,5 milhões.

Em Santa Catarina, segundo os dados do ministério, quase 800 pessoas teriam tomado vacinas ainda não recomendadas para adolescentes até o momento.

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– O Ministério da Saúde pode rever a posição desde que haja evidência científica sólida. Por enquanto, por questão de cautela, temos eventos adversos a serem investigados, temos adolescentes que tomaram vacinas que não estavam recomendadas, temos que acompanhar – disse o ministro.

Entre os eventos adversos registrados, 93% ocorreram em pessoas que tomaram uma das três vacinas que ainda não têm autorização da Anvisa para uso em adolescentes, segundo informou o Ministério da Saúde.

Decisão recebe críticas de especialistas

A suspensão recomendada pelo ministério causou reações e críticas de especialistas. Uma hipótese levantada foi a de que o recuo na vacinação de adolescentes teria ocorrido por causa da baixa quantidade de doses disponíveis no país, já que nas últimas semanas municípios já registravam falta de doses.

O virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-doutor em Biologia, Flávio Fonseca, diz que as razões que levaram o ministério a suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades ainda são “obscuras” e que os efeitos adversos podem ocorrer em qualquer faixa etária, mas ocorre na minoria das pessoas.

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– Me parece extremamente incorreto voltar atrás (na decisão de vacinar adolescentes) sem uma explicação plausível clara. Isso gera dúvida, incerteza, municia grupos como os antivacinas a aumentar a histeria em relação ao uso de vacinas. Do ponto de vista científico não há nenhum efeito adverso indicado para essa faixa etária que seja estatisticamente importante (para suspender a vacinação) – avalia.

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Alerta do Ministério da Saúde gerou preocupação

Os questionamentos do Ministério da Saúde causaram preocupação em pais, especialmente porque o ministro chegou a fazer um apelo às mães, pedindo para que elas “não levem suas crianças para tomar vacinas sem autorização da Anvisa”.

Apesar disso, o professor da UFMG explica que outras farmacêuticas além da Pfizer não têm autorização para uso indiscriminado, mas que estão produzindo testes e que não haveria risco associado indicado até o momento.

– Não são todas as vacinas que já fizeram testes clínicos de fase 3 englobando crianças e adolescentes de 12 a 18. A Pfizer finalizou, e por isso já é autorizada para fazer imunização de jovens nessa faixa etária. Outras vacinas não foram autorizadas, não completaram esses estudos, mas (as farmacêuticas) estão realizando. Então não há nenhum risco associado a crianças e adolescentes de 12 a 18 anos, de acordo com os dados que já foram produzidos pelas empresas que fazem as vacinas – afirma.

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Segundo o Ministério da Saúde informou em coletiva, jovens que não têm comorbidade ou deficiência grave e já tomaram a primeira dose da vacina não deveriam tomar a segunda dose.

Em entrevista à rádio CBN, a bióloga Natália Pasternak afirmou que a fala do ministro questionando a segurança da vacinação de adolescentes “cria um meme” que alimentaria diretamente o movimento antivacina.

– A OMS disse que, por uma questão de solidariedade com países que ainda não conseguiram vacinar população adulta e de idosos, e que correm mais risco nesse momento, seria interessante priorizar as doses existentes no mundo para esses países, que precisariam dar, de repente, até primeira dose. Mas a OMS deu essa mesma recomendação na questão da terceira dose de idosos. É uma questão social, não uma questão de segurança da vacina – argumentou.

Adolescentes têm sintomas leves?

Outro argumento usado na suspensão da vacinação de adolescentes é a de que a maioria deles têm sintomas leves ou são assintomáticos quando infectados por Covid-19. Para o professor da UFMG, no entanto, essa justificativa desconsidera outro objetivo importante da vacinação, que é a proteção coletiva.

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– Ao não vacinar esse grupo, você permite que o vírus continue circulando nesse grupo, que é um percentual participativo da população. Você não impede que o vírus circule, que é outro objetivo crucial de uma campanha de vacinação – sustenta.

O que diz a OMS?

Na nota em que recuou sobre a vacinação de adolescentes, o Ministério da Saúde chegou a afirmar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) “não recomenda” a vacinação desse público.

Na verdade, a entidade não recomenda, mas também não faz contraindicação à vacinação de jovens. O site da entidade afirma apenas que grupos de pessoas mais velhas ou com problemas de saúde deveriam ser priorizadas em relação aos jovens.

“Crianças e adolescentes tendem a ter doença mais branda em comparação com adultos, portanto, a menos que façam parte de um grupo com maior risco de COVID-19 grave, é menos urgente vaciná-los do que pessoas mais velhas, com condições crônicas de saúde e profissionais de saúde”, escreve a OMS.

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Nessa mesma direção, ao menos 14 países já vacinam adolescentes de 12 a 17 anos. Na América Latina, Chile, Cuba, Argentina e México são países que já estão nessa fase de imunização.

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