O incêndio de grandes proporções que atingiu uma região florestal no Morro Quiriri, em Garuva, foi completamente extinto por volta das 14h de quarta-feira (28). O fogo consumiu uma área equivalente a 50 campos de futebol e, por se tratar de um local de difícil acesso, em dois dias de trabalho as equipes precisaram atuar em revezamento e guarnições de outras cidades foram acionadas para prestar apoio.

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Segundo o comandante da força-tarefa, Douglas Tomaz Machado, o fator altitude dificultou o acesso de viaturas e o tempo também não favoreceu o combate incêndio. Por causa da neblina da manhã de quarta-feira, o Arcanjo do Corpo de Bombeiros Militar não pôde voar e o vento forte impediu que drones sobrevoassem para mapear a região.

Por ser local de difícil acesso, bombeiros precisaram combater as chamas com batedores (Foto: Corpo de Bombeiros Militar/Divulgação)

A ventania aliada ao tempo seco fez com que as chamas tomassem maiores proporções e, por este motivo, sem a possibilidade de utilizar o helicóptero pela baixa visibilidade, as equipes precisaram se deslocar por uma trilha com duração de duas horas de caminhada, o que atrasou a contenção do fogo.

— Houve outra dificuldade enfrentada, pois considerando que as viaturas não chegavam ao local e não havia um manancial para repor a água, os bombeiros também não conseguiram levar equipamentos, como bombas costais. Assim, o combate foi feito por meio de batedores para debelar as chamas — destaca o comandante da força-tarefa.

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Douglas Tomaz ainda reforçou que todo cuidado precisou ser tomado para preservar a vida das equipes, já que o combate a incêndios florestais são mais arriscados, principalmente por causa do calor e o ambiente seco que, aliados com a fumaças provocam extrema desidratação.

O incêndio foi criminoso?

O A Notícia conversou com órgãos responsáveis para entender as causas do incêndio. Iasmyn Rochadel Sapelli, diretora da Secretaria de Saneamento Ambiental (Sesa) de Garuva, diz que a área atingida é composta por propriedades privadas, mas que é comum que o público em geral acesse a região para fazer trilhas.

Veja imagens do grande incêndio que atinge área florestal em Garuva

Os próprios donos do terreno, segundo ela, organizam eventos e cobram um valor para que as pessoas possam entrar na local, que, além de Garuva, tem acesso por Campo Alegre e também pelo Paraná. A diretora da Sesa destaca que o local é um campo aberto e alguns proprietários até criam gado em alguns trechos.

Área afetada equivale a cerca de 50 campos de futebol (Foto: Corpo de Bombeiros Militar/Divulgação)

O que chama atenção na fala da diretora da Sesa é a sazonalidade com que ocorrem esses incêndios: “anualmente, e sempre no inverno”.

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— Por ser uma época de forte estiagem e ventos fortes, são diversos fatores favoráveis pra ocorrência de incêndio. É, também, uma época em que muitas pessoas fazem acampamentos e trilhas naquela região — diz Iasmyn, que não descarta a possibilidade de o fogo ter sido ateado de forma criminosa.

Assim como a Sesa, a Polícia Militar Ambiental (PMA) também trabalha com um eventual crime ambiental. A secretaria de Meio Ambiente vai abrir um inquérito para apurar se há possíveis responsáveis pelo ocorrido, assim como a PMA que, de acordo com o major Ruy Florêncio Teixeira Junior, deve sobrevoar a região nesta tarde de quinta-feira (29) e, em seguida, registrar um boletim de ocorrência.

Outros órgãos ambientais como Ibama, Instituto do Meio Ambiente (IMA) e Defesa Civil também foram alertados sobre o caso.

Quais são os danos ambientais?

Para entender quais os danos ambientais causados no local, a reportagem conversou com Fernando Joner, pesquisador em ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Joner reforça que na região há predominância de campos de altitude, ainda que o bioma seja de mata atlântica.

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O especialista diz ser raro que incêndios aconteçam neste período do ano, já que a maior incidência é no início da primavera. Nestes locais, o fogo pode ser causado tanto por ação humana quanto naturalmente e fatores relacionados à estação atual podem contribuir para a propagação das chamas.

— Naturalmente poderia ser causado porque o fogo faz parte de alguns ecossistemas, como no serrado, que pode ter chamas com descargas elétricas caso o solo esteja muito seco, podendo se espalhar. O clima agora está seco, muito quente, e interfere para o fogo se apagar — explica.

Com relação aos danos, Joner diz que a vegetação de campo se recupera rapidamente, levando em torno de cinco anos. Já no caso de região florestal, a mata pode levar até 400 anos para ser completamente resgatada.

No entanto, há a questão da fauna que, mesmo pequena, corre para onde não tem fogo. Mas, quando uma área de grande proporção é atingida, como no caso de Garuva, não tem para onde fugir, causando alta mortalidade de animais.

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— Apesar do local não ter registros de animais, nessa época de inverno, demora para espécies para cobrirem o campo. Na primeira, é mais rápido para se restituir. Nesse momento, vai demorar para isso acontecer, causando erosão e perda de matéria orgânica — informa.

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