Felipe Francisco, 39 anos, é o coach dono de duas clínicas de luxo preso na última terça-feira (15). Os estabelecimentos ficam em Balneário Camboriú e Joinville. No momento da prisão, o empresário estava na maior cidade do Estado e segue detido preventivamente no presídio da cidade, segundo o delegado regional Rafaello Ross.
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Nas redes sociais da F. Coaching, há publicações sobre emagrecimento, além de fotos com supostos resultados de clientes que adquiriram os serviços da rede e promessas de “transformação”. No perfil pessoal, Felipe se intitulava “mestre/doutor” em neurociência especializada em fisioterapia e também como psicanalista.
Segundo a promotora de Justiça Elaine Rita Auerbach apontou em coletiva de imprensa no dia da prisão, o empresário obteve em 2021 um diploma de nutrição, mas há a suspeita de que o documento seja falso, já que ele apresentava diversos atestados médicos na instituição de ensino e não participava de trabalhos universitários.
Após a prisão em 2017 e a condenação em 2019, a primeira clínica de Felipe foi fechada, mas ele abriu um novo negócio em outro endereço, na região central de Joinville, onde, conforme o Ministério Público, teria atuado com tornozeleira eletrônica. Para conseguir uma brecha para o trabalho, passou a atuar como coach, função que não exige formação ou registro profissional.
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O que a polícia investiga
A Operação Venefica é da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Joinville e investiga as práticas de falsificação e adulteração de produtos medicinais, exercício ilegal da profissão, falsidade ideológica, lavagem de capitais e organização criminosa.
Além de prisões em Joinville, Blumenau e Garuva de suspeitos de integrarem o esquema, foram cumpridos outros 50 mandados de busca e apreensão no Paraná e em São Paulo. Felipe Francisco foi apontado pelo Ministério Público como chefe de uma organização criminosa que receitava medicamentos com prescrição médica falsa e fórmulas alteradas.
Perícia investiga mais de 50 substâncias apreendidas com coach de emagrecimento de SC
Até o momento, conforme a última atualização da polícia, a Operação Venefica chegou a 10 presos e 29 investigados. Todos supostamente atuam nos estabelecimentos. As clínicas de Balneário Camboriú e Joinville foram fechadas temporariamente, assim como farmácias de manipulação em Itapema e Balneário Camboriú, que foram apontadas como parte do esquema.
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Agora, as investigações seguem com o objetivo de analisar documentos, aparelhos telefônicos, substâncias e medicamentos de receita controlada e sem procedência que foram apreendidos, a fim de identificar outros possíveis parceiros do esquema.
A Justiça também determinou o bloqueio de bens como veículos e dinheiro, e a suspensão de perfis e contas em redes sociais.
Como funciona o esquema
De acordo com o delegado Ross, após a prisão em 2017, Felipe teria sofisticado o esquema criminoso para fugir do radar da Justiça. Para não levantar suspeitas, portanto, começou a fazer parcerias com nutricionistas, médicos e biomédicos para conseguir as prescrições indevidas de anabolizantes, emagrecedores e fitoterápicos. Ele também contava com esses profissionais para fazer a aplicação de injetáveis dentro da própria clínica.
A promotora Elaine ainda acrescentou que, em muitas ocasiões, o coach criava as próprias fórmulas sem base científica, visto que não possuía formação na área.
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— Ele contratava e pagava médicos para prescrever medicamentos, sempre com documentos falsificados. Ele fez aliança com farmácias de manipulação pra fazer a venda casada de medicamentos superfaturados, enganando os compradores — explicou a promotora.
Preguiça de ir ao mercado faz joinvilense montar negócio de vendas online com amigos
Esses medicamentos, segundo o Ministério Público, eram conseguidos, principalmente, de forma clandestina de outros países. As investigações apontam que as farmácias de manipulação sabiam que o medicamento era modificado.
Inclusive, a maior parte dos lucros da organização criminosa vinha da venda desses produtos. Para faturar mais, as receitas eram prescritas por um preço e se cobrava um valor mais alto por determinado remédio, porém nem sempre era utilizado o rótulo da receita, ou o composto era adicionado em menor quantidade.
Na maioria das vezes, os clientes não tinham acesso a essas prescrições e, portanto, não tinham direito a escolher onde comprar o produto, já que as guias eram enviadas pela própria clínica aos envolvidos no esquema. Além das clínicas em Balneário e Joinville, segundo a promotoria, Felipe tinha filiais em Pirabeiraba, Brusque e o objetivo era expandir ainda mais.
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Sonegação de impostos, laranjas e criptomoedas
O delegado Rafaello Ross citou que o coach começou o esquema com a ex-esposa, no entanto, após a separação, ele colocou amigos e parentes na organização, incluindo a própria mãe. Os bens raramente estavam no nome do suspeito e essas pessoas teriam sido utilizadas como laranjas pelo empresário, que passou carros de luxo e imóveis no CPF delas.
Após a ação, os veículos e as contas bancárias com os CPFs e CNPJs presentes na investigação foram bloqueados pela Justiça, incluindo valores em criptomoeda.
A apuração inicial mostra que a empresa lucrava, pelo menos, R$ 200 mil mensais. Porém, de acordo com o delegado Neto Gattaz, responsável pelo caso, Felipe sonegava impostos.
— Esse valor era o que ele lançava, mas acredita-se que o faturamento era muito maior — destacou o investigador.
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Remédios fora de validade
A Polícia Civil diz que ainda não é possível saber quantas pessoas foram lesadas, mas clientes que denunciaram o empresário ao longo das investigações relataram taquicardia, disfunção erétil e manchas pelo corpo após consumirem os medicamentos prescritos no estabelecimento do coach.
Além de remédios irregulares, a polícia diz que eram comercializados medicamentos vencidos e não refrigerados corretamente. A Polícia Científica de Joinville trabalha na análise de mais de 50 substâncias apreendidas nas clínicas do empresário, que visam identificar o medicamento e comparar com a descrição do rótulo. Nos casos de adulteração e falsificação de medicamento, por exemplo, o produto pode conter princípio ativo diverso, concentração incorreta ou não conter nenhum ativo.
Ainda há casos de medicamentos ditos naturais que possuem substâncias sintéticas, muitas vezes controladas ou até mesmo proibidas. Nesses casos, o paciente que utiliza esses produtos corre sérios riscos, pois pode nem saber o que está utilizando e sofrer com efeitos adversos e interações medicamentosas.
A F Coaching, inclusive, funcionava sem licença sanitária, segundo o Ministério Público, e foi interditada pela vigilância municipal. Só nesta tarde, em uma das unidades do coach, havia 112 pacientes agendados para atendimento.
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Coach já foi preso e condenado anteriormente
Esta é pelo menos a segunda vez que Felipe é preso. Em 2017, ele foi detido e, dois anos depois, condenado a oito anos de prisão pela Justiça do Paraná por atuar como nutricionista sem ter formação na área e vender medicamentos sem registro.
À época, o homem tinha uma clínica com outro CNPJ e, quando detido, a Polícia Civil informou que pacientes de Ponta Grossa (PR) passaram mal após usar os medicamentos.
Na ocasião, ele cumpriu poucos meses de prisão e foi solto em medida cautelar. Já em Joinville, abriu outro negócio em uma área nobre, que ocupa uma esquina da cidade e possui uma fachada de vidro. No local, chegou a atuar usando tornozeleira eletrônica e conseguiu abrir o novo espaço com a função de coach, sem a necessidade de formação ou registro profissional.
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