O desaparecimento da criança de dois anos em Santa Catarina, que foi encontrada em São Paulo após quase 10 dias, pode revelar a “ponta de um iceberg” de um esquema de tráfico de pessoas, de acordo com a Polícia Civil. O menino foi achado com um homem e uma mulher em um carro com placa adulterada, que afirmaram ter adotado a criança. Abaixo, veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre o caso.

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Quando o menino desapareceu?

A criança foi vista pela última vez com a mãe em 30 de abril na Grande Florianópolis.

A mulher foi internada após três dias, e o boletim de ocorrência foi registrado pela família em 4 de maio. Um inquérito foi instaurado um dia após o registro.

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Onde estava o menino?

O menino foi encontrado em um veículo da zona leste de São Paulo na segunda-feira (8) após quase 10 dias de desaparecimento. Conforme a Polícia Militar, no veículo com placa adulterada estava um casal, Roberta Porfírio e Marcelo Valverde, que afirmou ter adotado o bebê.

Na abordagem, os dois apresentaram a Certidão de Nascimento da criança e afirmaram estar indo ao fórum regularizar a adoção.

Como o menino chegou à dupla?

Segundo a delegada responsável pelo caso, Sandra Mara, a mãe teria entregado a criança por “livre e espontânea vontade” a um casal. Conforme o que disse em depoimento, ela teria sido “assediada” por Marcelo em tentativas insistentes, e por não ter rede de apoio e ser mãe solo acabou entregando o filho.

Desaparecimento de menino em SC pode revelar “ponta de iceberg” de esquema de tráfico de pessoas

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Em entrevista exclusiva ao Fantástico, a mãe disse que havia feito contato inicial com Marcelo Valverde Valezi, um dos suspeitos de tráfico humano no caso, em 2020, através de um grupo de apoio a mães de primeira viagem em uma rede social. Desde aquela época, ele teria mostrado interesse em ter filhos junto com a esposa e forçava propostas. Em abril deste ano, a mãe da criança e o aliciador teriam retomado contato, quando ele disse que uma outra mulher, Roberta Porfírio, poderia pegar a criança. A entrega, então, ocorreu em 30 de abril.

Houve dinheiro envolvido?

De acordo o delegado geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel, a mãe teria entregado o bebê por “livre e espontânea vontade”, e recebeu o valor de R$ 100 como ajuda de custo para levar o menino de casa até o “ponto de entrega” combinado. O envolvimento de mais dinheiro na ação será investigado após a quebra de sigilo bancário.

O que os suspeitos disseram à polícia?

Durante a abordagem, a mulher proprietária do veículo apresentou Certidão de Nascimento da criança e afirmou ter a adotado. Os dois, conforme a polícia, estariam indo ao Fórum regularizar a situação.

O artigo 242 do Código Penal descreve como crime o ato de registrar o filho de outra pessoa como próprio. A pena prevista é de dois a seis anos de reclusão.

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Qual a relação da dupla com a mãe?

Conforme a Polícia Civil de São Paulo, o homem e a mulher estariam “aliciando” a mãe da criança desde o nascimento dela, a fim de a convencer a entregar a criança sem procedimento legal. Todo o processo foi feito via internet, conforme a delegada, por mensagens e áudios.

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A dupla foi presa?

A dupla foi presa em flagrante. O delegado da 30º Delegacia de Polícia da capital paulista entendeu que houve o crime de adoção ilegal e que há indícios de tráfico de pessoas.

Outras pessoas estão envolvidas?

A Polícia Civil de Santa Catarina investiga o envolvimento de outras duas pessoas no desaparecimento. Uma delas é a esposa de Marcelo, identificada como Juliana, e que teria feito o depósito dos R$ 100 para a mãe do menino.

O que acontece com o menino agora?

A criança ficou aos cuidados do Conselho Tutelar de São Paulo desde o dia em que foi encontrado, 8 de maio, e retornou para Santa Catarina nesta segunda-feira (15).

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A volta do menino para Santa Catarina era um pedido do Ministério Público do Estado (MPSC) desde que ele foi encontrado, mas a decisão não havia sido favorável e a Justiça paulista manteve a criança no abrigo de São Paulo.

Uma autorização, porém, saiu na sexta-feira (12) e o governo de Santa Catarina se mobilizou para buscar o bebê de forma sigilosa. A decisão do Estado ocorreu para “garantir a segurança e evitar a exposição da criança”.

As informações preliminares eram de que o bebê ficaria com a avó materna no retorno a Santa Catarina, no entanto, a pedido do Ministério Público paulista, ele ficará em um abrigo de São José, cidade onde mora a família, até que a investigação seja concluída.

Onde está a mãe do bebê?

A mãe do bebê foi internada em um hospital da Grande Florianópolis, três dias após o desaparecimento do menino. A mulher narrou ao Fantástico que, arrependida de ter entregado o filho ao grupo, tentou tirar a própria vida dois dias depois.

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Conforme a Polícia Civil, ela esteve internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e teve alta no dia 8 de maio, data em que o menino também foi encontrado em São Paulo.

Investigação foi concluída?

A investigação segue em andamento. Conforme a Polícia Civil de SC. A polícia aguarda o depoimento do casal encontrado com a criança em São Paulo, assim como a família da vítima.

O inquérito deve ser finalizado em 30 dias.

O que a polícia investiga?

Adoção ilegal e tráfico de pessoas.

Entenda o caso

A investigação sobre desaparecimento do menino de dois anos em Santa Catarina teve início no dia 5 de maio, após o registro de boletim de ocorrência feito pela família da criança. O bebê teria sido visto pela última vez com a mãe, no dia 30 de abril em São José. Ela, porém, deu entrada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital da Grande Florianópolis, e teve alta no dia 8 de maio, data em que o menino foi encontrado em São Paulo.

O bebê foi achado com um homem e uma mulher em um carro com placa adulterada, que teria saído da Capital catarinense em direção a São Paulo. Na abordagem, os dois apresentaram a Certidão de Nascimento da criança e afirmaram estar indo ao fórum regularizar a adoção. Eles foram presos em flagrante e tiveram prisão convertida para preventiva após audiência de custódia. Eles são suspeitos de tráfico de pessoas.

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O menino foi deixado com o Conselho Tutelar até esta segunda-feira (15), quando chegou em Florianópolis. Ele ficará em um abrigo de São José, onde mora a família, até que a investigação seja concluída.

*Em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e seguindo nossos preceitos éticos e editoriais, a NSC não identificará a criança que foi levada de Santa Catarina e encontrada pelas autoridades em São Paulo no dia 8 de maio.

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