O processo de eleição para a nova reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) começa nesta terça-feira (22) com o primeiro turno da consulta à comunidade universitária. Três candidatos disputam a preferência de quase 50 mil estudantes, professores e servidores aptos a votar.
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Saiba como será a eleiçao da UFSC
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A escolha ocorre de forma virtual, das 8h às 21h, e terá um segundo turno no final de abril caso nenhuma das chapas obtenha mais de 50% dos votos nas três categorias que integram a universidade.
A atual vice-reitora da UFSC e outros dois professores que já disputaram eleições para a reitoria em anos anteriores participam do processo eleitoral neste ano. A escolha, no entanto, não termina com a votação desta terça. Após a consulta à comunidade universitária, caberá ao Conselho Universitário definir a lista tríplice que será enviada ao Ministério da Educação. A relação costuma acompanhar a decisão da consulta a estudantes e servidores. É esta lista que serve de base para o presidente Jair Bolsonaro indicar o novo reitor da UFSC, embora ele já tenha contrariado a tradição de nomear o primeiro nome das listas indicadas pelas instituições.
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Temas como a volta às atividades e às aulas presenciais após dois anos de suspensão por causa da pandemia de Covid-19 e os constantes cortes orçamentários que a UFSC sofreu nos últimos anos são alguns dos assuntos que têm pautado as discussões entre os candidatos. Quatro debates já foram feitos entre os concorrentes à cadeira de reitor.
A reportagem do Diário Catarinense questionou os concorrentes à reitoria sobre três destes assuntos ligados à universidade. Confira abaixo quem são os candidatos e o que pensam sobre estes temas:
Chapa UFSC Viva
Reitora: Cátia Carvalho Pinto
Vice-reitor: Rodrigo Moretti
Número: 84

Os candidatos
A candidata Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto é natural de Florianópolis, formada em Ciências Biológicas e mestre e doutora em Engenharia Ambiental, sempre pela UFSC.
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Por dois mandatos, foi diretora-geral do campus de Joinville da UFSC. No fim de 2020, com o fim do mandato da vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, eleita junto com o ex-reitor Luiz Carlos Cancellier, foi nomeada para ser vice-reitora temporária até o fim da atual gestão.
O candidato a vice, Rodrigo Otávio Moretti-Pires, é graduado em Odontologia, mestre em Saúde Pública e doutor em Ciências, pela USP. Também é graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia Política e atualmente é chefe do Departamento de Saúde Pública da UFSC.
Qual a expectativa para a retomada das atividades presenciais e como pretende conduzir esse processo a partir do início do mandato?
Cátia Carvalho Pinto – Uma coisa importante de ressaltar é que as atividades presenciais vão ser retomadas agora, dia 4 de abril para servidores, docentes e não docentes, e dia 18 de maio para a comunidade universitária como um todo. O que o mandato a partir de julho pode se comprometer é com os impactos, efeitos e algum tipo de análise dos desafios que possam surgir a partir deste retorno. Mas o retorno presencial é uma realidade já. Então, caso eleitos, a gente continua gerenciando as situações que forem aparecendo. Melhorou muito, em termos dos indicadores epidemiológicos, o panorama do Brasil e confiamos que o retorno seguro, como tem sido feito, terá um efeito muito positivo.
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Como o candidato avalia as dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFSC nos últimos anos e como pretende lidar com essa situação para evitar que esse quadro se repita durante seu mandato?
Há um estrangulamento dos recursos orçamentários da universidade ao longo dos anos, especialmente nestes últimos anos, que temos grande dificuldade com a necessidade, mas uma iniciativa muito forte para nós é melhorar o ressarcimento institucional através de captação de projetos, com outros setores, inclusive com setor privado, que efetivamente, além de melhorar a experiência dos nossos docentes, técnicos e estudantes, também gera um recurso importante a partir do que é chamado de ressarcimento institucional. E esse ressarcimento, obviamente, se você aumenta a entrada na universidade, a gente consegue gerir para outras necessidades que ainda não estão sendo atendidas. Além disso, a gente vai fazer um grande estudo sobre a alocação dos recursos atuais para ver onde é possível melhorar e tornar mais eficiente, para que a gente possa alocar em outras necessidades da universidade.
Qual deve ser o papel do ensino a distância na oferta de cursos, no contexto pós-pandemia da UFSC, e como deve ser a relação desta modalidade com o ensino presencial?
A gente aprendeu muito bem qual o potencial do ensino remoto. Ensino a distância é modalidade que não temos implantada na graduação nem na pós-graduação, mas se a pergunta se refere ao uso de tecnologia mediada e ao que a gente entende como educação remota, muita coisa foi aprendida e desenvolvida na universidade. A gente tem o setor Setic, que é muito importante, desenvolveu muitas ferramentas, soluções, que obviamente potencializam todo o ensino. O que pretendemos é continuar utilizando naquilo que for possível, mas ao mesmo tempo respeitando a vocação de cada curso e cada nível, porque há uma diferença significativa em lidar com graduação, mestrado, doutorado e as especializações. Pretendemos a partir do que já tem sido utilizado, melhorar, mas sabemos também que atividades presenciais são fundamentais. Houve uma alteração importante em termos de legislação e hoje a gente tem uma possibilidade maior de mesmo na modalidade presencial, utilizar esses formatos remotos que com certeza beneficiam a todos e todas.
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Catracas e passaporte da vacina: como será a volta às aulas na UFSC
Chapa Universidade Presente
Reitor: Irineu Manoel de Souza
Vice-reitora: Joana Célia dos Passos
Número: 58

Os candidatos
O candidato a reitor, Irineu Manoel de Souza, é atual diretor do Centro Socioeconômico da universidade. Iniciou na UFSC como servidor público na área administrativa em 1974 e dirigiu departamentos de Administração Escolar e Recursos Humanos. Em 2010, se tornou professor da instituição, lecionando nos cursos de graduação e pós-graduação de Administração. É mestre em Administração e doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento, ambos pela UFSC. Foi candidato à reitoria em 2011, 2015 e 2018, quando ficou em segundo lugar.
A candidata a vice da chapa, Joana Célia dos Passos, é professora há 39 anos, mestre e doutora em Educação pela UFSC, com pós-doutorado na Universidad Nacional Autónoma do México (UNAM). É a atual diretora do Centro de Ciências da Educação da universidade. Atuou como consultora da Unesco e do PNUD em políticas de educação de jovens e adultos.
Qual a expectativa para a retomada das atividades presenciais e como pretende conduzir esse processo a partir do início do mandato?
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Irineu Manoel de Souza – As atividades presenciais de pós-graduação e graduação retornarão plenamente a partir de abril e a nova administração central da UFSC tomará posse apenas em julho. A atual gestão deixará muitas responsabilidades à próxima reitoria. Entre elas, uma enorme lista de serviços de manutenção básica para a infraestrutura, depois de dois anos de pandemia. Além de acelerar a realização de licitações e assinaturas de contratos para dar conta desses serviços, nossa prioridade é garantir o retorno e a permanência de estudantes – quase 9 mil têm atualmente vínculos precários com a universidade. Sabemos que o regime presencial favorece o ensino-aprendizagem, mas as condições de vida em Santa Catarina são diferentes de dois anos atrás: os custos estão mais altos e muitas pessoas sentiram os impactos psicológicos da pandemia e estão em sofrimento. Será um período muito desafiador, mas a universidade está à altura dos problemas mais complexos.
Como o candidato avalia as dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFSC nos últimos anos e como pretende lidar com essa situação para evitar que esse quadro se repita durante seu mandato?
A redução de orçamento é uma política da atual gestão do governo federal. Pretendemos agir em todas as frentes para obter mais recursos públicos para a UFSC, incluindo a retomada da atuação da nossa reitoria na Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) e a atuação coordenada junto à bancada federal de Santa Catarina. É necessário também lutar pelo reajuste no valor das bolsas de pesquisa, principalmente das Agências Federais (CAPES e CNPQ), defasadas há muitos anos. Por fim, vamos intensificar as parcerias entre universidade e sociedade para produzir tanto resultados para os problemas enfrentados pela população brasileira e catarinense quanto recursos para projetos de pesquisa e extensão.
Qual deve ser o papel do ensino a distância na oferta de cursos, no contexto pós-pandemia da UFSC, e como deve ser a relação desta modalidade com o ensino presencial?
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A universidade aprendeu muito com os desafios da pandemia. Cada docente precisou ampliar seu repertório de recursos pedagógicos e cada estudante encontrou maneiras de seguir aprendendo, apesar das inúmeras dificuldades. Estamos mais preparados hoje para ofertar ensino a distância, modalidade importante para muitas áreas (como a formação de docentes em territórios muito distantes dos grandes centros urbanos). O EaD, contudo, não substitui a riqueza da experiência presencial. A UFSC continuará discutindo os limites para combinar aprendizagem presencial e a distância, do ensino básico à pós-graduação – a qualidade da oferta e do aproveitamento devem ser condições para tanto.
Chapa UFSC Sempre
Reitor: Edson de Pieri
Vice-reitora: Marcela Boro Veiros
Número: 66

Os candidatos
O candidato a reitor Edson de Pieri é professor do Departamento de Automação e Sistemas da UFSC desde 1992. É graduado em Matemática de Sistemas e Estatística e mestre em Engenharia Elétrica, todos pela Unicamp. É também doutor em Processamento Automático e de Sinal. É o atual diretor do Centro Tecnológico da UFSC e diretor administrativo da Fundação de Ensino e Engenharia de SC (Feesc). Foi candidato a reitor em 2018, mas ficou em terceiro lugar.
A candidata a vice da chapa, Marcela Boro Veiros, é formada em Nutrição, mestre em Engenharia de Produção e doutora em Nutrição Humana. Atua como professora efetiva da UFSC.
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Qual a expectativa para a retomada das atividades presenciais e como pretende conduzir esse processo a partir do início do mandato?
Edson de Pieri – Há uma grande expectativa, principalmente por parte dos estudantes, muitos deles por quase dois anos sem frequentar a universidade. Deveria ter havido uma melhor preparação para esse retorno, uma vez que muito da estrutura da universidade nesses dois últimos anos precisava ter sido revitalizada, e tivemos muito problema com contratos, com a gestão de maneira geral, que não foi feita. Entendemos que haverá problemas de vários níveis, inclusive no Restaurante Universitário, onde há problemas no ar-condicionado. E estamos em processo bastante complicado, que é o retorno presencial ainda com casos de contaminação e possibilidades de variantes. A partir de julho, quando se eleitos vamos assumir a gestão da universidade, queremos tornar mais eficiente esses processos de manutenção porque são pontos nevrálgicos no dia a dia da comunidade acadêmico, e essa falta de cuidado com a coisa pública vai trazer problemas e precisamos estar preparados para isso. Estamos estudando toda a legislação, a forma de fazer os contratos, para que isso possa ser adequadamente tocado, para que possamos ajustar às atividades de ensino. Principalmente se houver contaminações, como a gente vai fazer para quando precisar deixar durante alguns dias uma sala toda fora do ambiente universitário porque não pode contaminar os demais estudantes… Então, esse planejamento vai ter que ser feito urgentemente.
Como o candidato avalia as dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFSC nos últimos anos e como pretende lidar com essa situação para evitar que esse quadro se repita durante seu mandato?
Estamos em uma asfixia orçamentária nas instituições de ensino superior mantidas pelo governo federal. E temos tido uma redução, principalmente na verba de custeio, que é bastante significativa na manutenção da universidade, uma universidade com 50 mil alunos, cinco campi, se a gente conta os quatro fora de Florianópolis e mais o de Florianópolis. Então a manutenção de toda essa estrutura exige muitos recursos e os cerca de R$ 130 milhões que estão vindo este ano são insuficientes. Mas a universidade é muito reconhecida pelo que faz, pela interação com a sociedade, pelo financiamento que recebe, inclusive dos ministérios, e isso faz com que a gente receba um aporte de verbas para projetos de pesquisa, extensão, inovação, ensino, que rende para a universidade cerca de R$ 40 milhões em taxas, ressarcimento por uso de instalações. E com isso nós chegamos a quase R$ 170 milhões. Ainda é insuficiente, mas está melhorando um pouco. Enquanto reitor de uma universidade do porte da UFSC, que está entre as cinco melhores universidades do Brasil, precisamos agir junto ao governo federal, aos ministérios, à bancada parlamentar, à sociedade, para que essa situação de penúria orçamentária não persista, uma vez que a universidade é um bem, um patrimônio do Brasil. E nossa missão social é formar os melhores quadros, fazer as melhores pesquisas. Temos casos de sucesso em pesquisa, desenvolvimento, formação de pessoas. Temos ex-alunos em praticamente todas as localidades do Brasil e no exterior. E isso tem que ser valorizado. O governo federal, na sua responsabilidade em construir uma nação que seja de ponta, que respeite a cidadania, precisa dar condição às pessoas se formarem. Então essa é a função do reitor, temos que fazer esse trabalho.
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Qual deve ser o papel do ensino a distância na oferta de cursos, no contexto pós-pandemia da UFSC, e como deve ser a relação desta modalidade com o ensino presencial?
Na universidade de maneira geral, a partir de março de 2020, fizemos um trabalho enorme para o ensino remoto. Não é a melhor condição de ensino, o ensino em sala de aula ainda tem um significado muito grande para os alunos, principalmente das primeiras fases, mas o que o ensino remoto nos ensinou, desculpe o trocadilho, é que temos muitas ferramentas que podem ser de ajuda essencial na formação dos alunos e no aprendizado. As federais de maneira geral sofrem com uma dificuldade que são as fases iniciais. Os alunos têm uma dificuldade grande da passagem do ensino médio, que é um aprendizado baseado na figura do professor, para o ensino superior, que é um aprendizado baseado no estudante. Essa passagem não é muito simples, então o aluno precisa de muito material extra para que possa acompanhar isso. Essa fase do remoto nos ajudou a desenvolver esse material.
Precisa também ser muito estudado, dimensionado o quanto podemos fazer de ensino remoto na graduação, hoje a legislação nos permite até 20%, mas precisa estar previsto no ano anterior para ser executado no ano seguinte. Na pós-graduação já temos legislação que permite chegar a até 49%, e isso tem sido, vai ser usado. E tem outra forma, porque a pós-graduação é um trabalho mais individualizado, é a capacidade do aluno, da aluna, são trabalhos orientados, mas não necessariamente que precisam estar presencial, na sala de aula. Então, até 50%, isso abre perspectiva para professores de escolas de ensino médio, primário, fazerem pós-graduação, para engenheiros, profissionais de TI, de todas as áreas, para fazerem uma parte da formação usando o ensino remoto e depois fazer a complementação no ensino presencial. Vale também para estudantes do exterior. Então, há inúmeras possibilidades. Precisa ter um dosamento bastante cuidadoso para que a gente não cometa exageros, mas isso com certeza vai ser incorporado às práticas de ensino, porque tem uma inovação em termos de ensino que foi testada nessa época de pandemia e que tem resultados bastante satisfatórios.
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