Os olhos vão e vêm, acompanhando quem passa, sem perder o raciocínio da conversa ou causar qualquer tipo de constrangimento ao interlocutor.
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A visão de radar de Pasquale Rammairone não é desinteressada. É parte de seu trabalho. Está em Porto Alegre para um coolhunting – observação do que é tendência nas ruas – no intervalo do trabalho de consultoria para uma fábrica de acessórios de couro da serra gaúcha.
Observar é importantíssimo para o profissional de 30 anos que já acumula no currículo cinco anos como designer de acessórios para a maison Giorgio Armani. Antes, havia passado quatro numa das principais escolas de moda do mundo, o Instituto Marangoni, com sedes em Milão, Londres e Paris.
Italiano de Nápoles, ele se graduou em Milão. Não sem um certo sacrifício para manter-se na escola cara para o filho de uma secretária de escola e de um eletricista. É sem esquecer de onde saiu que ele enxerga o mundo da moda, cada vez mais cosmopolita, mas sempre luxuoso.
– Podem até dizer que é um mundo fútil, mas é um negócio de 360 graus, que tem um círculo virtuoso, que dá muitos empregos _ defende Pasquale.
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Na sua defesa do luxo, o designer não tem pudores para justificar o uso de peles nas coleções, uma tendência verificada nas últimas semanas de moda:
– O que seria da imagem icônica de Marilyn Monroe sem as peles? Não quero dizer com isso que se deve aceitar a matança de animais, mas eu adoro peles.
Desligado desde fevereiro da Armani, para a qual presta consultoria (agora como head of design do grupo Made in Italy Advisers), Pasquale resolveu ganhar o mundo num momento em que tinha uma posição confortável. Na empresa com mais de 5 mil funcionários e 500 lojas, ele se reportava diretamente ao criador da grife, a quem se derrama em elogios:
– Trabalhar com ele (Giorgio Armani) é uma experiência única. Tem uma postura de respeito e uma filosofia de permanente ensino-aprendizagem. Mas o principal é que ele transmite segurança e parece sempre dizer, quando alguém tem uma ideia ousada: ‘se você tem certeza, vai’!
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Ao contrário de outras maisons, onde as semanas de moda são antecedidas por ataques de nervos generalizados, na Armani, garante ele, ninguém excede o horário normal de trabalho nem há estresse nessas ocasiões, apenas o necessário. Qual o segredo?
– Tudo é cuidadosamente planejado, no tempo certo. Não tem como dar errado. Sem contar que ele nunca pede provas de roupas para os modelos. Ele sabe o que quer. É só vestir.
No mundo da moda, na opinião de Pasquale, não há espaço para improviso, da mesma forma como não há para a mesmice. É a esta última, principalmente, que ele atribui a demissão do estilista John Galliano da Dior, em março, após um polêmico episódio que envolveu acusações de antissemitismo:
– Foi um pretexto. A Dior já não queria Galliano, porque é preciso sempre renovar. O que ele fez foi reprovável, claro. Quando as pessoas ficam famosas demais, muitas vezes perdem as referências e põem para fora o que têm de pior.
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Voltando ao radar de Pasquale nas ruas e shoppings na Capital, o que ele vê não é muito alentador. Dos brasileiros, só lhe chama a atenção o estilista da Tufi Duek _ “por comunicar como comunicam as grandes marcas”. Das mulheres, não gostou nada, nada do jeito como se vestem _ “investem dinheiro demais em marcas e pagam caro por roupas de qualidade duvidosa ao mesmo tempo em que parecem não ter cuidado nenhum na hora de compor o figurino e ir para a rua”.
– Na Itália, as pessoas combinam as roupas íntimas por medo de acabar no hospital e constranger-se por ter colocado o sutiã de uma cor e a calcinha de outra. É um exagero, claro, mas acho interessante como mensagem de bom gosto e elegância _ compara.
Diz isso trajando um cardigã de malha de algodão pelo qual confessa ter pago 6 euros. Para um final de tarde num café, com a temperatura amena de um final de tarde verão/outono, ele considera mais do que adequado.
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