1 – O que é o Iraque?
O Iraque é um país de cerca de 26 milhões de habitantes, situado no norte da Península Arábica, e que compreende a Mesopotâmia histórica, entre os rios Tigre e Eufrates. A maioria dos iraquianos (73%) é constituída de árabes étnicos, mas há também em seu interior uma importante presença de curdos, caldeus, assírios, armênios, turcomenos e mandeus. Dos cerca de 140 mil judeus existentes no país até os anos 1940, a quase totalidade emigrou para Israel entre 1948 e 1951, fugindo à perseguição e às sucessivas leis antissemitas. O país detém 9% das reservas mundiais de petróleo. O atual Estado iraquiano foi criado em 1932, com o fim do mandato britânico surgido ao final da I Guerra Mundial, e tomou a forma de uma monarquia encabeçada pelo rei Farouq, da família real hashemita de Meca.
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O Iraque é um “Frankenstein político”
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2 – Como o país chegou à situação atual?
Em 1958, uma revolução popular estabeleceu a república. Dez anos depois, o partido Baath (Renascimento, em árabe) tomou o poder e estabeleceu um regime oligárquico-militar, tendo à frente Saddam Hussein. A princípio aliado dos EUA, Saddam tornou-se um fator de risco para o balanço de poder na região: invadiu o Irã em 1980, desencadeando uma guerra em que morreriam entre 500 mil e 1,5 milhão de pessoas, e 10 anos depois, em consequência de dívidas de guerra contraídas com o Kuweit, invadiu e anexou o pequeno emirado do Golfo Pérsico. Uma coalizão de 34 países, liderada pelos EUA, impôs a retirada iraquiana com base em resolução do Conselho de Segurança. Derrotado, Saddam permaneceu no poder. Após o 11 de Setembro, o governo americano de George W. Bush decretou a chamada “guerra global ao terror” e estabeleceu como prioridade a “mudança de regime” no Iraque, um eufemismo para a derrubada de Saddam. O pretexto foi a suspeita de que o regime iraquiano tivesse armas de destruição em massa. As operações militares estenderam-se de março a maio de 2003. Um Conselho Nacional Iraquiano foi empossado como organismo provisório de poder. Em dezembro, Saddam foi capturado.
3 – O que é o atual regime político iraquiano?
O novo regime, encabeçado pelo partido xiita Dawa, enfrenta uma insurgência na qual se destacam não os remanescentes do partido Baath, mas fundamentalistas muçulmanos que proclamam lealdade à rede terrorista Al-Qaeda. A guerra civil no Iraque se prolonga de 2003 a 2010, quando os Estados Unidos se retiraram do país. A violência religiosa e étnica perdurou. No final de 2013, a milícia árabe sunita Estado Islâmico (EI), que combatia o regime de Bashar al-Assad na vizinha Síria, passou a controlar áreas cada vez maiores no interior do Iraque e a avançar sobre Bagdá.
4 – Qual é o problema do Estado iraquiano?
O Iraque é uma construção política feita de acordo com as conveniências de sua antiga potência ocupante, a Grã-Bretanha. O próprio nome do país é derivado de uma região perto de Basra, no sul do país, e nada significa para a maioria de seus habitantes. No norte, os curdos _ grupo étnico persa, de maioria sunita e religião islâmica sunita ou xiita, presente também no Irã, na Síria e na Turquia _ sonham em estabelecer um Estado próprio, o Curdistão. Os árabes xiitas concentram-se nas regiões mais populosas do sul. Os árabes sunitas estão estabelecidos na região central do país. Do ponto de vista étnico e religioso, o atual regime é mais democrático do que o anterior, no qual predominavam os árabes sunitas do clã de Saddam. Ainda assim, poucos progressos foram feitos no sentido de incorporar todos os setores da população no governo e no Estado.
5 – Quem é o grupo que ameaça os cristãos e o governo iraquiano?
A atmosfera de extrema violência e falta de controle estatal da fronteira entre Síria e Iraque permitiu que os mais violentos combatentes formassem um grupo violento cuja brutalidade com os demais muçulmanos choca inclusive outros grupos radicais. O grupo ganhou repercussão internacional por crucificar os inimigos. O EI começou se infiltrando pelo noroeste do Iraque, insuflando o ressentimento sunita contra o regime de Maliki. Ao mesmo tempo, os antigos membros do governo de Saddam Hussein, que também são sunitas, começaram a ver no grupo radical uma chance de derrubar o governo iraquiano, o que criou uma base para cooperação entre os dois grupos. Como resultado, em vez de invadir um território inimigo, o EI passou a avançar nos espaços de uma população sunita não hostil, que simpatiza com a ideia da união entre Iraque e Síria.
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6 – O que fazer?
O principal temor é o de que o Estado iraquiano se fragmente em três pedaços: curdo, sunita e xiita. Essa colcha de retalhos política seria um fator a mais de instabilidade no Oriente Médio e poderia servir de território livre para grupos terroristas, como ocorreu com o Afeganistão nos anos 1990. Al-Maliki está enfraquecido, e as chances de que possa vir a formar um governo dependem do sucesso futuro do exército iraquiano contra os insurgentes, levando-se em conta que, nos primeiros embates, o desempenho das forças leais foi pífio. Os Estados Unidos, preocupados com a guerra civil síria, o Irã e o Afeganistão, não desejam a implosão do Iraque. Se Al-Maliki retiver o poder e a violência persistir, porém, a saída pode ser buscar uma solução política que contemple as reivindicações dos diferentes setores.
Nos EUA, o presidente Barack Obama vive um dilema: não pode parecer ainda mais fraco no sistema internacional e não quer se indispor com a opinião pública nacional. Setores mais bélicos argumentam que é preciso enviar tropas novamente ou ao menos drones (como o país faz no Iêmen), para conter a ameaça representada pelo EI. Ao mesmo tempo, se Obama apoiar demais o atual governo, perde a confiança dos outros dois terços do país. Outro elemento da equação é que a população americana é contra o retorno dos militares, mas as notícias das brutalidades cometidas pelos extremistas aumentam a pressão dos grupos humanitários, podem mudar a opinião pública e forçar o presidente americano tomar uma decisão por uma nova intervenção. Por enquanto, Obama autorizou dois bombardeios.