A investigação do suposto esquema de propina na coleta de lixo de Florianópolis traz uma possível ligação entre o ex-secretário Ed Pereira e o doleiro Marcelo Lucena da Silva. A informação consta na representação do mandado de busca e apreensão apresentada pela polícia à Justiça no âmbito da Operação Presságio, realizada pela Polícia Civil de Santa Catarina na quinta-feira (19).

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Conforme o documento, o qual o NSC Total teve acesso, Ed Pereira teria recebido em 3 de maio — período da investigação — um pix no valor de R$ 6,6 mil de Marcelo. Este último teria ligação com organizações criminosas especializadas no tráfico internacional de drogas.

Imagens revelam ex-secretário com investigados de esquema do lixo em Florianópolis

Em abril de 2022, o doleiro foi alvo de um dos mandados de prisão da Operação Descobrimento, que tinha como objetivo desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína. Ele é apontado como “instrumento para pagamento de dívidas da organização na Europa”, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

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Ele também teria auxiliado outros dois envolvidos no esquema na lavagem do dinheiro proveniente do tráfico por meio de transferências bancárias com a compra de imóveis. Conforme informações do g1 MT, Marcelo foi denunciado em maio de 2022 pelos crimes de tráfico internacional de drogas, organização criminosa e remessa irregular de divisas ao exterior.

“Conforme notícias veiculadas na imprensa, Marcelo era responsável pela lavagem de dinheiro da Organização Criminosa, e também que parte da referida investigação se desenrolou no Estado de Rondônia, estado de origem da empresa AMAZON FORT. Assim, chama atenção que um Agente Político, ocupante de cargo público comissionado, residente no sul do país, suspeito de receber verbas indevidas, possua relacionamento com um doleiro residente no Estado de Pernambuco”, diz a investigação.

O processo, no entanto, não cita outras ligações do doleiro com o suposto esquema na coleta de lixo de Florianópolis ou os motivos para o repasse do dinheiro para Ed Pereira.

O NSC Total entrou em contato com a defesa do ex-secretário sobre a suposta ligação entre Marcelo e Ed Pereira, mas não teve retorno até a publicação. A reportagem também não conseguiu contato com a defesa do doleiro.

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ONG de ex-secretário investigado em esquema de lixo em Florianópolis já foi condenada pelo TCE

Entenda a investigação

A investigação teve início em janeiro de 2021 após a denúncia de crime ambiental em um terreno próximo à Passarela Nego Quirido. Na apuração, foi constatada que a empresa tercerizada, contratada para realizar a coleta de lixo durante a greve da Comcap, estava realizando o transbordo de resíduos no local de forma inapropriada e a poucos metros da Baía Sul, no Centro da capital catarinense.

Outro ponto investigado é o contrato entre a empresa e a prefeitura. Isto porque o estabelecimento, com sede em Porto Velho, Rondônia, foi contratado de maneira emergencial, sem processo licitatório, por conta da greve, que ocorreu em 20 de janeiro de 2021. No entanto, há anúncios em uma rede social, de 29 de dezembro de 2020, onde a empresa anuncia vagas de emprego relacionadas a coleta de resíduos para Florianópolis.

Ainda de acordo com a polícia, a empresa teria assinado o contrato com o município em 19 de janeiro, ou seja, um dia antes da greve.

“Segundo apurado, os investigados, supostamente orquestraram um esquema ilícito para contratar a empresa terceirizada durante a greve da COMCAP, entretanto, mesmo após o término da greve da autarquia, a empresa terceirizada permaneceu realizando os serviços de coleta, por, aproximadamente 02 anos, sem a devida licitação. A greve da COMCAP teve duração de 10 dias e o contrato vigorou por 17 meses”, diz a nota da polícia.

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Por fim, a investigação aponta a suspeita de outros arranjos ilícitos, envolvendo repasses de valores de uma Secretaria, por meio de contratos de fomento, para uma instituição não governamental.

Alvo em esquema do lixo em Florianópolis diz que prefeitura se preparava para greve

Na quinta-feira (18), 24 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Florianópolis e Porto Velho, além de quatro ordens de afastamento de cargo público de servidores comissionados da capital catarinense.

As buscas ocorreram na casa dos investigados, na Câmara de Vereadores de Florianópolis e em secretarias da prefeitura. Entre os alvos estão o agora ex-secretário de Turismo, Ed Pereira, e secretário de Meio Ambiente, Fábio Braga.

Foram apreendidos aparelhos eletrônicos, principalmente celulares, e documentos relacionados aos fatos investigados. O inquérito apura suposta prática de crime ambiental de poluição,  fraude à licitação, corrupção passiva, corrupção ativa, associação criminosa e lavagem de dinheiro, que teriam sido cometidos por agentes públicos em conluio com particulares.

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Veja imagens da operação

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