Um incêndio registrado no começo da noite deste domingo (8) trouxe à tona, mais uma vez, o desafio da regularização fundiária em Blumenau. Uma casa teria sido destruída pelo fogo após um curto-circuito na fiação da bomba usada para captar água em poço, já que o imóvel não é abastecido pela rede pública. Na mesma comunidade, há menos de um ano, um morador morreu ao manipular os fios de uma bomba igual. A rede do Samae não chega à casa no Morro da Garuva, cerca de 6 quilômetros do Centro. A residência é considerada irregular e aguarda regularização da prefeitura para poder receber o abastecimento.

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Ana de Almeida conta que a família do marido mora na localidade há 27 anos e há cinco estava na casa destruída pelo fogo. Grávida de sete meses, ela relembra que um morador tinha chegado em casa e ligado a bomba para tomar banho e depois foi dormir. De repente, ela sentiu o cheiro forte de fumaça. Ao sair do quarto, as chamas já tinham destruído a varanda, por onde a fiação passava, e estavam chegando ao cômodo em que ela estava com o marido e os dois filhos pequenos, de quatro e nove anos

— Só pensei em salvar meus filhos e sair correndo — conta Ana.

Ela e o marido ainda tentaram usar panelas com água para conter as chamas, mas não conseguiram. O imóvel de madeira, com pouco mais de 30 metros quadrados, foi destruído em cerca de cinco minutos, diz a mulher. O marido tinha recentemente saído de um emprego, e o dinheiro da rescisão tinha sido usado para comprar móveis novos, como sofá, geladeira e guarda-roupas. Tudo foi perdido. O enxoval da menina que Ana espera também acabou consumido pelo fogo.

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— Foi por Deus que a gente está vivo. Se tivesse demorado mais dois minutos para levantar… — conta a moradora, antes de completar que algo pior poderia ter acontecido.

Casa destruída pelas chamas (Foto: Corpo de Bombeiros, Divulgação)

Problema antigo

Ana relembra o comentário do marido, motoboy, sobre a falta de abastecimento de água na região. A família, agora abrigada em um cômodo em uma casa vizinha, morava perto de onde Alexsander Lorran Figueiredo, de 27 anos, morreu em abril de 2022. Ele encostou em um fio energizado e levou um choque. A esposa tentou salvá-lo e também levou uma descarga elétrica, mas sobreviveu.

Na época, bastante abalado pela perda do vizinho, José Olavo da Conceição contou à reportagem que chegou a correr para socorrer Alexsander, mas não havia nada a ser feito. A bomba que a vítima iria instalar ajudaria a levar água para a casa dele também. Ao Santa, ele mostrou o lugar onde era para a água jorrar e falou não ter esperança de ver o abastecimento chegar por uma rede pública. 

Naquele episódio, a prefeitura informou que a regularização fundiária da região, necessária para permitir que o Samae leve água aos moradores, estava na lista de prioridades e que o município trabalhava no levantamento da documentação para poder seguir para as outras etapas do processo. Nesta segunda-feira (9), passados oito meses, a Secretaria de Desenvolvimento Social informou que segue trabalhando na coleta de documentos para avançar com a burocracia da regularização.

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