O brutal ataque a creche em Blumenau sinalizou aos gestores públicos de todo o país que ações precisam ser traçadas com urgência para coibir que mais escolas sejam palco de tragédias. Imediatamente após a confirmação dos quatro mortos, o governo do Estado e dezenas de prefeituras catarinenses anunciaram a suspensão das aulas no dia seguinte e assim ganharam tempo para pensar e um ponto de partida. Na cabeça de todos ressoou a mesma pergunta: como deixar as escolas mais seguras?

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Em Florianópolis, o caminho planejado passa pela contratação de monitores escolares, instalação de câmeras e uma força-tarefa que leva agentes da Guarda Municipal para atuar por pelo menos uma semana na segurança das 124 unidades unidades do município. Especialistas dizem que esse tipo de iniciativa é válida, mas que deve se somar a outras medidas com impacto de médio e longo prazo.

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A prefeitura de Florianópolis é responsável por 85 creches e 39 escolas, que até esta segunda-feira (10), não tinham vigilantes em 100% das unidades. Ocupam provisoriamente essa função os guardas municipais, que foram deslocados das ruas para as portas das unidades. Em entrevista ao Bom dia Santa Catarina, da NSC TV, na manhã desta segunda, o secretário de Segurança e Ordem Pública da Capital, Araujo Gomes, disse que os guardas vão fiscalizar

— A Operação Curumim [como foi intitulada a ação da GM nas escolas] vai estar em todas as escolas e creches municipais com guardas municipais ou agentes da segurança municipal fazendo uma série de atividades. Primeiro tranquilizando e dando segurança ao momento de entrada e saída da escola, tranquilizando os pais a respeito disso, Junto com a comunidade escolar, [estaremos] fazendo uma vistoria da escola ou da creche como um todo indicando pontos de melhoria de segurança — disse o secretário.

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Jorginho anuncia reforço policial nas escolas estaduais de SC

Para viabilizar a segurança física e presencial após o período de atuação da Guarda Municipal, a prefeitura diz que vai enviar um projeto de lei em regime de urgência à Câmara de Vereadores para criar os cargos de monitor e inspetor escolar. A ideia da gestão Topazio é que ambos auxiliem na fiscalização de entrada dos alunos e na detecção de sinais suspeitos.

Ao todo, são 12 medidas anunciadas pela prefeitura de Florianópolis como resposta ao que houve em Blumenau. Pelo menos sete focam em segurança física (ou presencial) prevendo a instalação de câmeras de monitoramento nas escolas e um botão de emergência com alarme sonoro, por exemplo.

A ideia é que, em caso de necessidade, o dispositivo emita um som audível em toda a unidade que servirá para acionar um plano de emergência e evacuação da unidade. A melhoria de muros e portões também faz parte do pacote.

As demais tratam de ações que cuidam da psique. O número de profissionais que cuidam da saúde mental deve aumentar nas escolas para atender alunos, professores e a comunidade escolar.
É prevista também a capacitação de professores para lidar com situações de violência. O objetivo é aperfeiçoar as manobras de evacuação das unidades em caso de ataques. Um tópico também trata da criação de Comitê e grupo de trabalho para avaliar as medidas de segurança aplicadas.

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Escola tem que ser espaço de acolhimento, defendem especialistas

Especialistas ouvidos pelo NSC Total avaliam que medidas com foco na segurança física de unidades são importantes, mas que precisam ser complementadas por ações que tenham maior efetividade no médio e longo prazo. A pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Betina Barros, fala que a escola tem que ser um espaço de acolhimento.

Como evitar novas tragédias como o ataque a creche de Blumenau

A pesquisadora diz que é ilusório pensar que apenas a instalação de equipamentos como câmeras, detectores de metal ou a presença de monitores será suficiente para inibir novos ataques. Betina diz ainda que ambientes assim podem produzir o efeito contrário, e gerar insegurança nos estudantes.

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorando em Educação na mesma instituição, Simone de Melo, corrobora com o que defende e Betina e defende que o trabalho de combate à violência nas escolas deve passar por aspectos institucionais e curriculares.

Simone defende que o trabalho nas unidades deve promover o diálogo entre os alunos e também deles com os professores. Isso pode ser feito, exemplifica, por meio de assembleias estudantis ou aulas sobre temas como racismo e a violência.

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— Trabalhar por uma frente só não dá e a segurança é um dos aspectos, mas que precisa ser completa por outros caminhos — completa Simone.

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