Com a balneabilidade prejudicada em diversas praias de Santa Catarina, os mares de São Francisco do Sul, Litoral Norte do estado, têm se destacado por ter aprovação na maioria dos pontos avaliados pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA).
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Em outubro do ano passado, a cidade foi reconhecida pela Organização Não Governamental (ONG) dinamarquesa “Foundation for Environmental Education” como a que mais tem o selo Bandeira Azul no Brasil, somando quatro.
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No relatório do IMA divulgado na última quarta-feira (4), a ilha de São Francisco do Sul tinha cinco dos sete pontos próprios para banho. As praias de Itaguaçu, Ubatuba e Prainha estão com aprovação completa. Reprovada está apenas a do Capri. Já na Enseada, são dois pontos positivos e um negativo, sendo este em frente ao posto salva-vidas.

A situação é diferente de outras regiões do estado. As praias de Bombinhas, Porto Belo e Itapema, por exemplo, estão impróprias para banho. A avaliação é predominantemente negativa também em Balneário Camboriú e na região Norte da Ilha, em Florianópolis, como em Canasvieiras, Jurerê Internacional e Ingleses.
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No fim de 2022, dos 207, 128 pontos do litoral de Santa Catarina foram considerados impróprios para banho. Ou seja, a maioria foi reprovado.

“Qualidade é resultado do esforço”, diz secretária de São Francisco do Sul
Com cenário positivo na balneabilidade e premiações pela qualidade dos mares, o secretário de Meio Ambiente de São Francisco do Sul, Renan da Silva Canuto, avalia que o resultado se dá pelo esforço da cidade em proporcionar um ambiente equilibrado e saudável para os moradores e turistas.
— Investimos em soluções, tecnologia, educação ambiental e fiscalização contínua para garantir e ampliar a qualidade — explica.

Canuto destaca que o município está com implantação de uma rede coletora de esgoto na região da Enseada e Ubatuba, evitando que efluentes sejam lançados nos rios e nas águas dos mares.
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Praias do Litoral Norte de SC recebem Bandeira Azul neste fim de semana
Com poucos prédios nas orlas das praias, o secretário diz que São Francisco do Sul já planeja o caminho para isso, porém, com uma rede coletora de esgoto adequada à estrutura urbana.
— Estar de acordo com os padrões legais de qualidade — diz.
Apesar da maioria das praias estarem próprias para banho, a cidade também registra problemas com saneamento. À NSC TV, o advogado Allan Ruschmann expôs uma corrente de esgoto sendo despejada na praia de Itaguaçu na manhã desta sexta-feira (6). Conforme ele, a água do mar estaria marrom por conta disso.
— Cadê o poder público? Há quanto tempo esse problema não é resolvido? O povo pede solução. Itaguaçu, precisamos cuidar da sua beleza — reclama.
Procurada pela reportagem, a prefeitura de São Francisco do Sul, por meio de nota, afirma que a denúncia de Ruschmann está relacionada à existência de ligações clandestinas de esgoto na rede de drenagem pluvial e que a cidade está atuando para identificar a origem do caso.
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Além disso, conforme o município, a praia de Itaguaçu ainda não é atendida pela rede pública de coleta e tratamento de esgoto, cabendo à cada proprietário a manutenção dos sistemas individuais de fossa séptica, filtro anaeróbio e clorador para realizar a desinfecção.
“O município está avançando na cobertura do esgotamento sanitário, principalmente nos balneários, e será ampliada para a região do Itaguacu já nas próximas etapas”, diz a nota.
Soluções para evitar esgotos nas praias
Para evitar danos e poluição nos mares, o supervisor do Laboratório Integrado de Meio Ambiente (Lima) da UFSC, Rodrigo de Almeida Mohedano, avalia ser fundamental pensar na capacidade que a praia tem de dispersar os efluentes (resíduo proveniente das atividades humanas). Em praias fechadas e com poucas ondas, por exemplo, a saída dos dejetos tem mais dificuldades.
Conforme o professor, priorizar o saneamento é outra solução, já que o esgoto não tratado, ao entrar em contato com a água, vai levar coliformes fecais para o mar, prejudicando a qualidade da praia e prejudicando os banhistas.
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— É sobre organismos que causam doenças. O saneamento é fundamental — finaliza.
De acordo com Mohedano, o impacto nas praias acontece desde o momento da ocupação habitacional, já que o desmatamento está diretamente ligado à piora nas águas. Outros processos de urbanização também atingem a área.
— Tem a água das ruas, de quintais e telhados que, com a impermeabilização do solo, passa a não ter tempo de filtragem. Além de fezes de animais, contaminação de metais pelos veículos, óleos. Tudo cai na rede de drenagem pluvial e vai parar nos rios e praias — explica.
Para ele, além de esgoto e lixo, é fundamental que o saneamento tenha um planejamento maior para evitar a poluição dos mares. O professor ainda critica a falta de fiscalização para impedir que produtos contaminantes cheguem nas praias.
— O alto uso de remédio sai na urina, nas fezes e, muitas vezes, mesmo que passe por tratamento, não são totalmente removidos. Metais pesados, presentes em cosméticos. Agrotóxicos são usados para matar o mato, em vez de ser roçado. Isso gera contaminação dos nossos afluentes — analisa.
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Conforme o professor, a atual drenagem das cidades está acompanhada da poluição. Além disso, há problemas de ligações irregulares de esgoto sanitário. O sistema não consegue filtrar e despeja nas praias. A situação piora ainda mais no verão.
— Casas com centenas de turistas impactam na quantidade de esgoto gerado. Os sistemas biológicos de tratamento não são adaptados para esses choques — pontua.
Mohedano destaca também o crescimento do mercado imobiliário no litoral catarinense, com o surgimento de mais prédios e, consequentemente, mais moradores perto das praias. Ele ressalta que a construção civil é uma atividade com grandes impulsos econômicos, mas diversas praias não suportam mais casas, pois não têm mais para onde destinar os dejetos.
— O esgoto não vai sumir, não vai evaporar. É necessário um estudo para saber a capacidade de suporte da área, saber quantas pessoas podem habitar aquela região, principalmente na época de temporada. Hoje não se tem esse controle — completa.
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