Em 2023, Joinville registrou o maior número de mortes por dengue da história. Com 26 óbitos até o momento, em um ano a cidade aumentou em 36% o número de vítimas fatais da doença. O município também se aproxima dos mais de 21 mil casos confirmados no ano passado, o que coloca a cidade em contexto de epidemia.

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A dengue junto de outras doenças respiratórias criou um contexto de superlotação, demora no atendimento e filas em unidades de saúde. A fim de desafogar o sistema público, a prefeitura montou uma central exclusiva de atendimento a pacientes adultos com dengue, algo inédito na cidade.

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Agora com a entrada do inverno, é natural que os casos diminuam, já que o Aedes aegypti é um mosquito de verão. Mesmo assim, o município pretende continuar com ações para impedir a proliferação da doença. O A Notícia conversou com a diretora da Secretaria da Saúde de Joinville, Fabiana Almeida, e com a infectologista Sabrina Sabino para entender este aumento no número de mortes e buscar uma explicação para a intensificação nos sintomas da doença.

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Aumento no número de mortes e agravamento de sintomas

Fabiana Almeida destaca que a dengue, atualmente, não possui um tratamento específico e, somado a isso, até então, havia uma dificuldade em identificar que as complicações do quadro do paciente se davam pela doença, ainda considerada “nova” e com poucas notificações no Estado.

Agora, com mais pessoas procurando o sistema de saúde e melhorias nos processo de investigação, os sinais são mais facilmente mapeados, assim como as mortes. Por isso, a falta de notificações em anos anteriores pode explicar o aumento no número de casos e óbitos neste 2023.

— Quanto maior número de doentes, isso pra qualquer doença, maior o número de óbitos — diz Fabiana.

A diretora também cita a “evolução benigna” da doença, que faz que com os infectados passem a tratar a doença em casa. Em muitos casos, segundo ela, esta “automedicação” pode até piorar o quadro, que, no com relação à dengue, evolui muito rapidamente.

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Além disso, ela cita que a população tende a subestimar a doença ou até mesmo, por ter sintomas parecidos, confundi-la com outras e, quando vai em busca de atendimento, a situação pode ser irreversível.

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— A gente faz muito isso. Tem uma dorzinha no corpo e toma remédio em casa. E a dengue tem uma virada de gravidade, uma evolução muito rápida. Aí quando a pessoa busca atendimento e se automedicou, às vezes com medicamento errado que piora a doença, pode ser tarde. A gente não consegue mais fazer manobras, que não é um tratamento específico, mas manobras que possam evitar o agravamento — alerta.

Segunda onda de dengue e agravamentos

A infectologista Sabrina Sabino ainda reforça que o aumento na letalidade da dengue pode se dar também por esta segunda onda da doença mais agravada no Estado, já que uma reinfecção pode, também, levar à morte.

— Geralmente, quando a gente pega uma segunda vez é mais grave, e mais fatal. Então, nós tivemos lá em 2021 a dengue e aí, possivelmente, essas mesmas pessoas foram expostas novamente ao vírus e por isso teve este aumento no óbito. E na segunda vez é mais perigoso porque o corpo faz a formação de um anticorpo específico contra a dengue e quando a pessoa contrai novamente, os sintomas são mais leves, mas a gravidade é maior — explica.

Conforme a diretora da Secretaria de Saúde de Joinville, com base no histórico de pacientes que evoluíram quadro para óbito no município, “não 100% que já tinha pegado, mas alguns sim”.

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— Como a dengue tem vindo com mais força agora e muita gente ainda não conhece ou acredita que pode ser letal. E mesmo que ocorram os óbitos, a evolução da doença é considerada benigna, infelizmente, mesmo matando e não tendo tratamento — complementa Fabiana Almeida.

Bactéria para conter o mosquito, mídia e vacina

Segundo a diretora da Secretaria de Saúde, “Joinville não se preocupa com a dengue apenas no verão” e que ações e projetos continuam mesmo com a chegada do inverno e primavera, quando a doença tende a estagnar.

Fabiana diz que o município tem estudado tecnologias e também buscado parcerias com Estado e União para que sejam implementadas estratégias de prevenção à doença, não apenas de combate. A prefeitura trabalha, atualmente, com duas formas de monitoramento: o semanal da evolução do mosquito, com armadilhas colocadas estrategicamente nos bairros, e o de infectados, por meio do monitor da dengue.

Tratamento para dengue exige busca por atendimento médico e hidratação

Além disso, o município tem reforçado, por meio de publicidade, a importância de os moradores, mesmo com sintomas “tratáveis”, buscar atendimento no sistema de saúde, porque, quanto antes medicar da forma correta, menor será o risco de agravamento.

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— É uma doença que existe no Brasil desde a década de 1990 e até hoje ninguém teve uma solução mágica, digamos assim, ninguém resolveu 100% o problema da dengue. Mas a gente não se dá por vencido. A gente não cansa de estudar tecnologias, estratégias e parcerias dentro do que o Ministério da Saúde traz como base. Mas só com o poder público não vamos conseguir, precisamos de ajuda do público — reforça.

Com relação à bactéria Wolbachia, que impede que o vírus da dengue se desenvolvam no mosquito, Fabiana comenta que uma equipe técnica foi a Belo Horizonte conhecer o projeto da Fiocruz e “estuda” a possibilidade de adequá-lo na cidade, avaliando se a cidade terá recurso e equipe para isso. Antes disso, Joinville ainda precisa ser aceita como elegível para ação.

Com relação à vacina da dengue, Fabiana comenta que as duas empresas que atualmente possuem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar o imunizante já entraram em contato, conforme havia dito a secretária de Saúde Tânia Eberhardt semanas atrás. No entanto, mesmo com cenário mais agravado da doença, a pasta irá aguardar posicionamento do Ministério da Saúde.

— Vacina hoje, pela legislação, é um componente relacionado às obrigações do Ministério da Saúde. Queremos receber [a vacina], mas estamos aguardando o Ministério da Saúde — ressalta.

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