A baixa incidência de crimes violentos em Jaraguá da Sul é de chamar a atenção. O município de 160 mil habitantes registrou apenas dois assassinatos no ano passado – um homicídio e um latrocínio (roubo seguido de morte). Na esfera dos crimes violentos, somando roubos no comércio, residências, veículos e pedestres, foram 80 casos. Cidades catarinenses do mesmo porte, como Criciúma, na região Sul, referência na indústria têxtil e cerâmica, e Chapecó, no Oeste, conhecida pela agroindústria, registraram 57 e 40 assassinatos, respectivamente, considerando homicídios, latrocínios e mortos por policiais.

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Segundo a polícia, a maioria das mortes em Criciúma está relacionada ao tráfico de drogas. Já em Chapecó, o cenário é um pouco diferente. Na cidade do Oeste, a incidência de motivações passionais ou acerto de contas por vingança predomina. O número de assassinatos em Jaraguá foi pelo menos 2.000% menor que nas duas cidades catarinenses com população semelhante.

Para entender o fenômeno de Jaraguá do Sul, a reportagem de “A Notícia” conversou com moradores, policiais, assistentes sociais e educadores. A explicação para a baixa incidência de crimes violentos pode estar relacionada a uma série de fatores que, juntos, fortalecem a segurança.

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Para a polícia, Jaraguá é geograficamente uma cidade com poucos acessos de fuga. Embora existam consumidores de drogas, a polícia não identifica o domínio de grandes traficantes, por exemplo. O tráfico é o pano de fundo de outros delitos, mas a quantidade de droga apreendida no município normalmente é pequena e os traficantes presos revelam que trazem a mercadoria de cidades maiores, como Joinville e Florianópolis.

– O tráfico é controlado exatamente pela qualidade de vida, questões geográficas e culturais e atuação integrada das polícias – afirma o delegado titular, Adriano Spolaor.

Embora o efetivo de ambas as polícias (Civil e Militar) esteja abaixo do ideal, a aproximação da comunidade é um dos fatores que amenizam a escassez de recursos humanos, avaliam as autoridades.

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– A comunidade é participativa tanto na denúncia quanto na ação social. É envolvida nos conselhos de segurança, organiza grupos de vizinhos, que trocam informações e protegem a casa um do outro. Isso tem nos ajudado bastante – avalia o comandante do 14º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Rogério Vonk.

Projetos preventivos das polícias e da sociedade civil são destacados como possíveis elementos que contribuem para o controle da criminalidade. Um deles é a ronda policial nas residências dos apenados do regime aberto. Se a polícia identifica que o cidadão não está cumprindo o horário de recolhimento noturno, por exemplo, comunica o Poder Judiciário para que aplique uma medida mais rígida. Consumir bebida alcoólica em via pública também é proibido em Jaraguá do Sul.

Além disso, segundo a diretora de ensino Marcilene Canpregher, as empresas da região têm o hábito de se envolver com a comunidade. As parcerias público-privadas ofertam projetos de esporte e cursos técnicos. São atividades que ocupam o tempo ocioso e complementam a educação. A presença familiar na escola é mais um aliado.

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– Quando a família participa na escola, a escola é outra e a sociedade é outra -observa a diretora.

Moradores avaliam sensação de segurança

A reportagem conversou com moradores de dois bairros mais afastados do Centro, para verificar se a sensação de segurança não é apenas um privilégio da região central. Os vizinhos Alonso Flor da Silva, de 73 anos, e José Maria da Silva, 57, que moram no bairro Jaraguá 84, não se preocupam em viver próximos ao presídio. O maior problema que perceberam até hoje na vila foi uma ou outra desavença por perturbação do sossego em função de som alto. Na avaliação dos moradores, o segredo da harmonia é o respeito que os vizinhos têm uns com os outros.

– Aqui matam pouco porque tem que respeitar (o outro). Isso já vem desde aquelas épocas (antigas) — destacou Alonso.

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– Ali tem o presídio, qualquer coisa leva para lá – brincou José.

Outro morador mais jovem, de 35 anos, percebe que a qualidade de vida da cidade contribui para o sossego. Ele trabalha há dez anos como metalúrgico em uma empresa próxima de casa.

– Eu adoro morar aqui, sempre gostei. Quando tem alguém apavorando por causa de som ou briga, chamam a polícia. Mas, fora isso, é sossegado. A maioria das pessoas trabalha. Só não trabalha quem não quer.

Em Jaraguá do Sul não existe uma única zona industrial, as empresas estão espalhadas por todos os bairros, próximas à população. Uma delas dá as boas-vindas a quem chega ao bairro Ribeirão Cavalo. Durante o dia, é difícil encontrar alguém na rua. Por sorte, a reportagem se deparou com Carla Valéria, de 35 anos, que saiu de casa para visitar um familiar na companhia do filho caçula. Ela é natural de Pernambuco e mora há dez anos em Jaraguá. Carla e o marido vieram em busca de oportunidade. Ele trabalha como pedreiro e ela, como diarista. Outros parentes também mudaram-se para a cidade quando perceberam o progresso da família. Muitos conseguiram emprego.

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– A tranquilidade desse bairro é porque a maioria das pessoas trabalha. Não temos problema com violência. Ali na minha rua, algumas casas não têm nem muro. Isso não acontece num bairro violento, certo? – avalia.