Joinville se destaca pela força econômica de suas indústrias e por abrigar empresas que apostam em tecnologia. É o caso de corporações tradicionais, como a fabricante mundial de compressores Embraco e da Ciser Parafusos e Porcas, que utiliza nanotecnologia em seus produtos.

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Mas também é lugar de novos empreendedores, como os da ContaAzul, primeira startup brasileira selecionada pela aceleradora de negócios do Vale do Silício 500startups, em 2011.

A empresa, que já recebeu diversos prêmios, desenvolve softwares de gestão para micro e pequenas empresas e logo chamou a atenção pelo modelo de gestão interna diferenciado.

Prioriza o ambiente de trabalho informal e um processo criativo que começa na rua, com o briefing apurado com o cliente, e continua internamente em discussões em grupo, rodeadas por bilhetes adesivos coloridos, mostrando o status dos projetos.

– O aspecto visual é importante. Quanto mais explícita a informação e maior a interação humana, mais ágil será o processo – explica um dos fundadores e CEO da ContaAzul, Vinícius Roveda.

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Estes são alguns exemplos de empresas de Joinville bem-sucedidas. Tornar a cidade reconhecida nacionalmente como polo de inovação, no entanto, requer um caminho mais longo, constatam profissionais ligados à área. Algumas iniciativas em curso mostram que é possível chegar lá.

Uma das medidas mais importantes para construir a base de estímulo à inovação é criar uma legislação específica.

Joinville foi a primeira cidade do Brasil a ter uma lei de inovação (lei 7.170, de dezembro de 2011). Contudo, para que ela cumpra integralmente seu objetivo, falta regulamentar o artigo 10º, que trata da criação do fundo municipal de inovação tecnológica, ou seja, o instrumento de apoio financeiro às iniciativas inovadoras. A regulamentação deveria ter ocorrido no prazo de seis meses a partir da vigência da lei.

Diálogo avançou

De lá para cá, a lei permitiu avançar o diálogo sobre o tema, a partir da criação do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, constituído por seis representantes do poder público e 15 entidades de classe e instituições de ensino.

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A realização, em 2013, do primeiro Prêmio de Inovação de Joinville é fruto do conselho. Na primeira edição, houve 53 trabalhos inscritos em três categorias, com foco inicialmente em universidades.

– Queremos avaliar os melhores trabalhos, premiá-los e divulgá-los porque uma empresa pode se interessar pelo projeto – explica o presidente do conselho e diretor executivo da Secretaria de Integração e Desenvolvimento Econômico do município, Marcos de Oliveira Vieira.

Outra iniciativa do conselho foi a realização do Fórum de Inovação, que ampliou para o público externo um iniciativa realizada, em anos anteriores, dentro da Universidade da Região de Joinville (Univille).

Em 2013, o evento trouxe nove palestrantes nacionais. Outra iniciativa é a Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada pela Secretaria Municipal de Educação.

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Vieira diz que o perfil empreendedor faz parte do processo de inovação, só que em uma região de pleno emprego, os jovens desenvolvem a carreira nas indústrias.

Para fomentar o empreendedorismo, o conselho estuda mecanismos para introduzir o tema no ensino fundamental.

Confira algumas iniciativas que estimulam a inovação em Joinville

Inovaparq

O Parque de Inovação Tecnológica de Joinville e Região (Inovaparq), inaugurado em 2010, tem parceria com várias instituições de ensino e foco em sete plataformas: biotecnologia, design, químico-farmacêutico, meio ambiente, materiais, metalmecânico e tecnologia da informação e comunicação (TIC).

O local abriga 11 empresas, caso do centro de inovação da chilena Sonda, que desenvolve softwares de gestão de grande porte; da Buscapé, a plataforma de comércio digital; e da ContaAzul, que levou para o mercado um novo modelo de sistemas de gestão para micro e pequenas empresas. Companhias instaladas no Inovaparq coordenam pesquisas como a análise em tempo real da qualidade da água e da cadeia do leite.

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– Parques tecnológicos são os modelos que mais deram certo para a transferência de tecnologia – diz o diretor do Inovaparq, Marcelo Borba.

Um dos requisitos para se instalar no parque é ter pesquisa aplicada. O parque nasceu para intermediar o relacionamento da academia com o mercado, enxergando o que a empresa precisa e o que a universidade pode oferecer. Ao promoverem a pesquisa aplicada, as instituições de ensino parceiras poderão receber royalties pela inovação, conforme cada contrato de pesquisa, explica o diretor.

Instituto de Inovação

Em funcionamento desde abril de 2013 dentro do Senai Norte, o Instituto de Inovação em Sistemas de Manufatura faz parte de um pacote de investimentos que almeja tornar Joinville referência em inovação voltada ao processo produtivo. A estrutura contempla vários equipamentos, sendo que cinco deles são os únicos em funcionamento no Brasil. Até 2016, o Senai-SC vai investir R$ 32,7 milhões no projeto, parte com recursos do BNDES.

Além de trabalhar com sistemas de manufatura, haverá um instituto de inovação voltado para aplicações em laser. Ambos vão funcionar em novo prédio, próximo ao Senai Norte, a ser inaugurado no ano de 2016.

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Os projetos vão ser desenvolvidos em parceria com as indústrias interessadas, onde o foco será a melhoria de processos, de fabricação ou de produtos. Os dois institutos de Joinville terão abrangência nacional, servindo a qualquer empresa que necessite de conhecimentos e serviços em sua especialidade.

Para isso, o Senai Norte vai investir na capacitação dos profissionais e na busca de mestrandos e doutorandos em instituições parceiras. A intenção é reforçar o time, aumentando de três para 12 o número de doutores até final de 2015.

Universidades

A UniSociesc ficou em primeiro lugar na região Sul na categoria instituição de ciência e tecnologia do Prêmio Finep de Inovação 2013, um dos mais conceituados do País. A instituição coordena no Brasil uma das redes do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), a rede de laboratórios para o setor de transformados plásticos e participa da rede nacional de laboratórios de metrologia de apoio ao setor metalmecânico.

O Sibratec funciona com base no conceito de economia de redes e oferece serviços de pesquisa e desenvolvimento às empresas.

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Já a Universidade da Região de Joinville (Univille) foi a precursora na região de um núcleo de inovação e propriedade intelectual, em 2006. Ali também nasceu o Inovaparq. A instituição tem pesquisas em várias áreas do conhecimento, mas se caracteriza por ser forte em saúde e meio ambiente.

Um dos destaques é a pesquisa sobre a incidência de acidente vascular cerebral (AVC) em Joinville. A pesquisa é inédita no Brasil e neste ano foi aprovada pelo Ministério da Educação. Vai ser ampliada para todo o País. Outra pesquisa na área da saúde é a criação de um aplicativo para diagnóstico e tratamento rápido e preciso da dengue.

Na área ambiental, o Projeto Toninhas, de conservação e monitoramento desta espécie de golfinho ameaçada de extinção, foi selecionado pelo Programa Petrobras Ambiental 2010.

A Udesc, por sua vez, foi destaque no 1º Prêmio de Inovação de Joinville, arrebatando os três primeiros lugares na categoria Inovação em Produtos. Nessa categoria, os vencedores foram Alessandro Diogo Bruckheimer e Emanuel Henrique Farias, do curso de Ciência da Computação da Udesc. Eles venceram com o projeto Dance 2 Rehab 2D, um jogo criado primeiramente para ajudar na reabilitação motora de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral.

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O jogo foi adaptado e hoje é utilizado por pessoas com síndrome de down atendidas no Núcleo de Atenção Integral à Pacientes Especiais (Naipe) da Secretaria Municipal da Saúde de Joinville. Alessandro também levou o segundo lugar nesta mesma categoria com uma versão 3D do jogo.

O que é preciso para avançar

– Pessoas e instituições com currículos suficientemente sólidos são grandes alavancadores da inovação. Joinville, por ser uma cidade com multiplicidade de indústrias grandes, está bem posicionada, as escolas estão se solidificando. Se isso é suficiente para sermos competitivos com empresas da Alemanha, diria que em alguns casos sim, em outros não. Vejo um espaço muito grande para crescimento.

Lainor Driessen

Vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento e operações da Embraco

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Joinville tem característica inovadora, que é de seu próprio povo. No entanto, a indústria do conhecimento está se desenvolvendo mais em Florianópolis do que em Joinville. É preciso oferecer incentivos para atrair empresas de fora e criar empresas que inovam.

Sandra Furlan

Reitora da Univille

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– O que falta é uma conexão entre as pessoas e corporações. Conhecer quem está fazendo trabalhos inovadores. As empresas de software trocam pouca informação. Existem entidades e grupos que discutem alguns assuntos e compartilham o que está dando certo e os desafios, As pessoas estão acostumadas a falar mais sobre o que acontece de bom, mas o mais importante são os erros, e quando se compartilha isso acontece o aprendizado.

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Vinícius Roveda

CEO da ContaAzul

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– Para a cidade avançar, deve ter foco em educação, em universidades. Do ponto de vista da atuação das empresas, é fundamental ter um objetivo estratégico, definindo o percentual de produtos lançados que serão classificados como inovadores. Outro passo importante é fazer parcerias com universidades e, quando se trata de longo prazo, o suporte vindo de fundos governamentais também ajuda muito.

Carlos Tadeu Silva

Diretor de tecnologia, refrigeração e ar-condicionado

Whirlpool Latin America