Santa Catarina vive uma escalada de dengue. Entre 2 de abril e 13 de maio, o total de casos mais do que dobrou, e o de mortes saltou de 51 para 182, de acordo com dados divulgados na última quarta-feira (15) pela Secretaria de Estado da Saúde (SES).

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Historicamente, o número de casos de dengue costuma aumentar entre abril e maio em Santa Catarina. Neste ano, porém, o Estado e o Brasil como um todo registram patamares muito altos da doença.

No ano passado, por exemplo, o pico de casos registrados no Estado em uma semana foi de 12,9 mil, em 22 de abril. Neste ano, o pico foi de 28,3 mil casos e ocorreu mais cedo, na primeira semana de abril.

— Esse aumento entre abril e maio tem a ver com o comportamento do vetor. O Aedes aegypti se reproduz muito no período do verão e, agora, com mais vetores no ambiente, a transmissão acaba acontecendo. Porém, neste ano, a curva de casos começou a subir em fevereiro, teve um pico em abril e vem se mantendo alta — explica Tharine Dal-Cim, bióloga da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) da SES.

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O número de mortes também vem batendo recordes. Até agora, o Estado já registra 182 óbitos pela doença, 84 a mais do que em todo o ano de 2023, quando foram contabilizadas 98 mortes. A maioria ocorreu em Joinville (44), Itajaí (30), Blumenau (23) e Florianópolis (11). As vítimas eram em maioria mulheres com mais de 80 anos e homens a partir dos 55 anos, segundo dados da SES.

Os números apontam que a alta de mortes está relacionada à alta de casos. As curvas de cada fator, contudo, sobem em intensidades diferentes: entre os dias 2 de abril e 13 de maio, o número de casos subiu 144%, enquanto o de mortes aumentou 256%.

A tempestade perfeita

A escalada de mortes é resultado de vários fatores, segundo a bióloga da Dive. Em primeiro lugar, a dengue enfrenta uma alta nunca vista antes na região Sul do Brasil, resultado das fortes temperaturas e chuvas causadas pelo El Niño, no ano passado, e intensificadas pelas mudanças climáticas. Isso fez com que o Aedes aegypti tivesse mais facilidade em se reproduzir e transmitir a doença.

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O atendimento de pacientes também enfrenta a superlotação dos hospitais. Dos 1.335 leitos públicos disponíveis no Estado, apenas 56 estão disponíveis. Na região Nordeste, a mais atingida pela dengue, a taxa de ocupação é de 98,3%, e na Grande Florianópolis, de 96,5%, segundo atualização da SES na última quinta-feira (16).

Além disso, o Estado enfrenta dificuldade de vacinar a população contra a dengue. A vacina está disponível apenas para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, nas regiões Nordeste, Grande Florianópolis e Médio Vale do Itajaí. A cobertura vacinal, porém, está estagnada na casa dos 20%.

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A Dive informou que ainda não pretende ampliar a faixa etária da vacina contra a dengue. A decisão é do governo estadual em conjunto com o Ministério da Saúde, que é responsável pela gestão do Programa Nacional de Imunizações.

— A vacinação é importante, mas a gente vai ver um impacto muito pequeno, por ora, na redução de casos, porque é uma faixa etária específica que está sendo vacinada — afirma a bióloga.

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Tharine afirma que a população tem que ser protagonista nesse cenário:

— A melhor maneira de prevenir a dengue é a eliminação dos criadouros do mosquito, e nisso todos são responsáveis. Aproximadamente 80% dos focos do mosquito Aedes aegypti estão nas residências, em ralos, calhas, caixa-d’água destampadas, plantas com água, e a maior concentração dos problemas encontrados pelos agentes de combate às endemias são resíduos sólidos (lixo) desprezados conscientemente pela população dentro de suas casas — conclui.

Recomendações da Dive contra a dengue

  • Evitar água parada, em qualquer época do ano, mantendo bem tampado tonéis, caixas e barris d’ água ou caixas d’água;
  • Acondicionar pneus em locais cobertos;
  • Remover galhos e folhas de calhas;
  • Não deixar água acumulada sobre a laje;
  • Encher pratinhos de vasos com areia até a borda ou lavá-los uma vez por semana;
  • Fazer sempre a manutenção de piscinas;
  • Fique atento aos sintomas: febre alta, dor de cabeça intensa, dor nas articulações, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas na pele;
  • Diante de dois ou mais desses sintomas, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima e beber muita água. A hidratação é a melhor forma de amenizar os sintomas da dengue.

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