Uma cobra caninana foi flagrada na padaria de um supermercado em Florianópolis na última terça-feira (22), registro que, apesar de inusitado, não é o único em Santa Catarina. As equipes especializadas em resgate de fauna silvestre no estado já se mobilizaram recentemente diante de serpentes encontradas dentro de caixa de correio, enroladas em cadeira de restaurante ou mesmo ao lado de um berço.

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O professor universitário e doutor em biologia Jackson Preuss afirma que destruição do habitat natural e a busca por alimento e abrigo, além de fatores climáticos, podem aumentar a incidência de cobras em áreas urbanas. Esses registros têm se distribuído ao longo do ano “numa constância muito grande”.

— Até um tempo atrás, eles estavam diretamente relacionados a condições climáticas, [com aparições] em períodos mais chuvosos ou de temperaturas mais elevadas — contextualizou, ao g1 SC.

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Habitat, alimentação e clima

A perda ou fragmentação do habitat dessas serpentes, que costumam viver em ambientes florestais, é o principal fator para os registros que Preuss considera cada vez mais frequentes. Muitas construções urbanas se sobrepõem aos espaços em que os animais viviam até então.

— Então, quando precisam se deslocar de um ambiente florestal até outro, encontram essas barreiras físicas: pode ser uma padaria, uma casa, uma cidade — explicou o biólogo.

Ele diz que muitos desses espaços urbanizados costumavam ser importantes para a manutenção das espécies. Já outras intervenções obrigam as cobras a procurar construções ou objetos para se proteger.

— No ambiente natural também há uma pressão muito grande. Pode ser através da caça, de queimadas, do desmatamento. Por esse motivo esses animais são acuados, ameaçados e forçados a buscar outros locais em busca de abrigo — complementou o biólogo, ainda em entrevista ao g1 SC.

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Veja vídeo de cobra recém-resgatada em Florianópolis

Também especialista no tema, o biólogo da Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama) Christian Raboch avalia que esses registros inusitados não querem dizer que as serpentes desejam interagir com seres humanos. Os episódios indicam, na verdade, a busca dos animais por alimento.

— Em Jaraguá do Sul [no Norte de Santa Catarina], onde cerca de 40% do território tem Mata Atlântica, nossas construções estão praticamente inseridas no meio de uma floresta. Isso torna o aparecimento das serpentes mais frequente — afirmou Raboch também ao g1 SC.

Os dois especialistas explicam que as cobras são animais de sangue frio, que normalmente ficam mais inativos durante o outono e inverno, passando a maior parte do tempo em suas tocas.

Quando a temperatura aumenta, as serpentes saem então em busca de alimento. Conforme Preuss, isso ocorre porque o metabolismo desses répteis é diretamente influenciado pela temperatura do ambiente.

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Importância das cobras

Os especialistas ainda lembram que, apesar do susto de cada aparição inusitada, as cobras são importantes predadores no ecossistema e fazem o controle de roedores.

A eliminação das serpentes, segundo os biólogos, causaria um impacto muito negativo na dinâmica dos ecossistemas. Além disso, elas também são reconhecidas como importantes fontes de pesquisa.

— Foi criada do veneno das jararacas o remédio mais utilizado no mundo de combate à hipertensão. A partir do veneno da cascavel foi criada uma cola biológica usada em cirurgia e um anestésico dez vezes mais potente que a morfina — exemplificou Raboch.

O que fazer ao encontrar uma cobra?

  • Entre em contato com os Bombeiros (193) ou com a Polícia Ambiental da sua cidade (190);
  • Em caso de acidente com serpente, entre em contato com o Samu (192), os Bombeiros (193) ou se dirija ao hospital público mais próximo;
  • Em caso de dúvidas ou orientações sobre procedimentos de primeiros socorros, ligue para o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina (0800 643 5252).

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