Foi com oito meses de governo, em agosto de 2019, que Carlos Moisés da Silva, então no PSL, implodiu uma estrutura. À época, ele chamou o “pessoal da arminha” de “sandice”, em uma entrevista à Folha de S.Paulo. Ironicamente, o mesmo “pessoal da arminha” foi quem lhe deu sustentação menos de um ano antes para sair do anonimato para ser o inquilino da Casa D’Agronômica por, pelo menos, quatro anos. 

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A manifestação veio acompanhada, nos meses seguintes, de um distanciamento nítido do presidente Jair Bolsonaro, responsável pela onda que levou o coronel da reserva do Corpo de Bombeiros à vitória no Estado. A partir de então, Moisés tornou-se persona non grata entre os “seus”, um fator decisivo para o resultado do último domingo (2), em Santa Catarina. 

Antes mesmo de a candidatura à reeleição de Moisés ser uma realidade, pessoas próximas a ele temiam o rótulo de “traidor de Bolsonaro”. O rumoroso caso dos respiradores era tratado como um problema menor para a campanha. O que preocupava mesmo era o guarda-chuva bolsonarista que havia sido abandonado pelo governador. Os números do primeiro turno dão razão à preocupação. Com uma polarização nacional de impactos diretos em SC, foram para o segundo turno os candidatos ligados a Bolsonaro e Lula. Moisés foi o terceiro que mais recebeu votos, 16,99% do total. Assim, Moisés termina a disputa como maior derrotado da eleição catarinense. 

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Uma derrota que, obviamente, não se explica apenas pelo distanciamento do governador de suas origens. Sem tato político desde os primeiros dias de gestão, Moisés enfrentou processos de impeachment e um desgaste de imagem sem precedentes. Entre idas e vindas, ele preferiu seguir as próprias convicções, como dizem pessoas próximas a ele. Mesmo nas negociações feitas após o primeiro processo de impeachment, Moisés decidiu manter-se protegido por nomes escolhidos a dedo em secretarias. Ao mesmo tempo, cedeu espaços até para os que haviam articulado uma mudança no governo com a saída dele do cargo. 

As concessões, porém, tinham limite. E o limite eram as convicções de Moisés. Quando procurado por partidos tradicionais, no começo de 2022, o governador rejeitou articulações ou filiações que o deixassem preso a outros projetos políticos. Ele escolheu seguir o próprio rumo e se filiar ao Republicanos, até então com pouca expressão no Estado. Com base nas emendas milionárias liberadas para os deputados, conseguiu atrair o maior partido de Santa Catarina para o projeto. Moisés teve Udo Döhler, do MDB, como vice. Um vice praticamente inoperante na campanha, assim como esteve a maior parte dos emedebistas. 

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Por fim, Moisés terminou o domingo de 1º turno como um derrotado sem arrependimentos. Ele chegou ao limite pessoal e político, afirmam fontes. Ainda nas horas iniciais após a divulgação do resultado, chamou a atenção de assessores a frieza e um discurso leve de Moisés, um sinal de que as convicções dele não permitiam mais do que havia sido feito.

Correto ou não, o azarão que virou governador em um piscar de olhos sai de cena agarrado nas próprias ideias. O candidato que em 2018 falava em “nova política”, teve que aderir ao que chamava de “velha política” para governar, mas terminou sem se reeleger porque resolveu fazer a própria política. 

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“A conta veio”, diz vice-governadora

Assim como a relação de Moisés e Bolsonaro durou pouco tempo, o bom trato entre o governador e a vice, Daniela Reinehr, também tiveram vida curta. Ambos se distanciaram ainda em 2019. A própria vice descreve que o posicionamento de Moisés em relação à taxação dos agrotóxicos, em um projeto polêmico que morreu na casca dentro da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), foi um dos pontos de divergência. 

Para ela, mais do que se distanciar de Bolsonaro, Moisés acabou se distanciando das propostas que elegeram a chapa do PSL ao governo do Estado em 2018: 

– Ele se afastou de tudo que prometemos em 2018, e agora a conta veio. 

Daniela foi eleita deputada federal no último dia 2, agora pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Segundo ela, com o novo cargo, será possível executar ações e projetos que ela tinha como proposta. No entanto, no governo, Daniela diz que foi colocada “na gaveta”.

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Eleito deputado federal pelo MDB em SC, Valdir Cobalchini tem um diagnóstico próprio do que motivou a derrota de Carlos Moisés da Silva (Republicanos). Para o parlamentar, a “eventual traição do governador Moisés ao presidente Bolsonaro” impactou diretamente no resultado das urnas. 

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O emedebista diz que esta rejeição não estava clara antes, após as convenções partidárias que confirmaram o MDB como vice da chapa de reeleição. Porém, com o passar da campanha o eleitor passou a demonstrar a rejeição de forma mais intensa. 

– A mesma onda que o beneficiou em 2018 foi a onda que o engoliu desta vez – afirma Cobalchini. 

O deputado ainda confirma que o fato de Moisés não ter o apoio de Bolsonaro foi decisivo para o resultado.

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