*Por Benedict Carey

Em quatro dias, no meio de março, Cindy Hansen, uma professora de inglês do 11º ano da Timpanogos High School, em Orem, no estado de Utah, teve de passar a dar aulas virtualmente para seus cerca de 30 alunos que estavam estudando “O Grande Gatsby”.

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Hansen não tinha experiência com cursos virtuais e, como outros professores do país, teve de fazer experimentos. Ela decidiu criar videoaulas, em que apresentava o texto de “Gatsby” e lia em voz alta, em uma pequena janela no canto da tela, as principais passagens e as tarefas que havia dado.

A transição parecia estar se realizando sem problemas até que, depois de várias aulas, ela recebeu uma mensagem de um aluno que raramente falava nas aulas.

“Ele é um dos meus alunos mais queridos e escreveu: ‘Sra. Hansen, os vídeos estão com falhas – não consigo ver o texto.’ Acabei assumindo que eles estavam bons. Bem, estavam horríveis, e o pobre garoto se sentiu frustrado. Fico feliz por ele ter dito algo”, disse a professora em uma entrevista por telefone. Ela rapidamente resolveu o problema, regravando os vídeos diretamente no site da escola, em vez de fazer o upload.

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Após o experimento desta primavera de aulas on-line criadas em tempo real, professores e distritos escolares de todo o país estão se preparando para o semestre de outono, que será tudo, exceto normal. Alguns distritos tropeçaram na transição, com as aulas via Zoom interrompidas porque foram invadidas por hackers, e muitos se esforçaram para resolver sérias desigualdades no acesso a computadores. Pesquisas recentes apontaram que a maioria dos alunos ficou meses atrasada em relação ao calendário das aulas durante o último período do ano, sendo que os alunos de baixa renda foram os mais impactados. Outras escolas, como a Timpanogos, fizeram a transição com menos interrupções, em parte porque mobilizaram facilitadores, instrutores e outros funcionários para oferecer apoio aos professores e aos alunos que corriam o risco de se desconectar e sair, de acordo com um relatório dos pesquisadores.

Agora, a maioria dos distritos enfrenta um futuro no qual os cursos on-line provavelmente farão parte do currículo, quer isso implique que os alunos retornem em turnos ou que as salas de aula continuem fechadas por conta de surtos locais. E por baixo desse ajuste há uma pergunta ainda mais fundamental: com que eficiência os alunos aprendem usando lições virtuais? “O que descobrimos na pesquisa, até agora, é que geralmente é mais difícil manter os alunos envolvidos com lições virtuais, independentemente do conteúdo. No geral, porém, essa não é a característica distintiva aqui. Pelo contrário, é o apoio que o aluno recebe ao estudar de forma virtual. Isso faz toda a diferença”, afirmou Jered Borup, professor associado de tecnologias de aprendizado na Universidade George Mason, em Fairfax, na Virgínia.

As pesquisas que comparam o aprendizado presencial com o on-line provêm de muitas disciplinas e não se beneficiam dos tipos de controle que os cientistas preferem; cursos, professores, alunos e composição das turmas variam muito para fazer comparações fáceis.

A presença física é importante, de maneiras não capturadas pelo método científico. “Olha, fui bem na aula da sra. Hansen – acabei de comprar os audiolivros e ler ‘Gatsby’ sozinho. Mas, em outras aulas, nem tanto. Costumo procrastinar demais e, sem um lembrete físico, sentado na sala de aula, com os professores me dizendo: ‘Ethan, o prazo é sexta-feira’, acabei ficado para trás. Essa foi a parte difícil”, disse o aluno Ethan Avery, em entrevista por telefone.

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As duas revisões mais oficiais da pesquisa até o momento, que examinaram os resultados de quase 300 estudos, chegaram a uma conclusão semelhante. Os alunos tendem a aprender de maneira menos eficiente do que o habitual em cursos on-line, como regra, e isso também depende do curso. Mas, se têm um facilitador ou um mentor à disposição, para ajudar com a tecnologia e concentrar sua atenção – uma abordagem às vezes chamada de blended learning (ou aprendizado híbrido) –, eles apresentam um desempenho semelhante em muitas aulas virtuais, às vezes até melhor.

Um estado que vem aplicando essa abordagem de forma ampla, por quase duas décadas, é o Michigan. Um instituto sem fins lucrativos, apoiado pelo estado, chamado Michigan Virtual, oferece vários cursos on-line de idiomas, de ciências, de história e de desenvolvimento profissional. Também oferece 23 cursos virtuais de Estágio Avançado, que geram créditos para a faculdade. “Descobrimos que, se os alunos recebem suporte e um cronograma – por exemplo, fazem a lição todos os dias da semana às nove da manhã –, eles tendem a se sair melhor do que apenas vir para cá ou ir para lá. O mantra do aprendizado on-line é: ‘Seu próprio tempo, seu próprio ritmo, seu próprio caminho.’ Na verdade, cada um desses fatores é muito importante e alguma estrutura parece ajudar”, declarou Joe Freidhoff, vice-presidente do Michigan Virtual.

Em 2012, o instituto adicionou um braço de pesquisa para acompanhar o progresso de seus alunos. No ano letivo de 2018-19, mais de 120 mil alunos fizeram pelo menos um de seus cursos virtuais; a grande maioria deles estava no ensino médio. A taxa de aprovação foi de 50 por cento para aqueles que vivem abaixo da linha de pobreza do estado e de 70 por cento para os que vivem acima dela, uma média muito próxima à das escolas públicas de ensino médio.

A história foi diferente para os alunos do Estágio Avançado do Michigan Virtual. No ano acadêmico de 2018-19, 807 alunos fizeram pelo menos uma de suas aulas virtuais de Estágio Avançado. As notas dos exames finais vão de 1 a 5, sendo que acima de 3 podem gerar crédito para a faculdade. A nota média geral dos alunos virtuais foi de 3,21, em comparação aos 3,04 dos colegas de Michigan que fizeram o curso presencialmente. A média nacional nesses mesmos exames foi de 2,89. “Nesses exames, nossos alunos têm notas consistentemente mais altas do que as médias estaduais e nacionais. É claro que os alunos de Estágio Avançado tendem a ser muito mais autônomos e motivados”, observou Freidhoff.

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Em seu desafio para migrar seus cursos para o ambiente on-line em meados de março, o distrito escolar de Timpanogos empregou facilitadores, para auxiliar tanto os professores quanto alguns alunos. Chromebooks foram emprestados a todos os alunos que não tinham computador em casa. E foi implementada uma política que, de modo geral, aliviou a pressão sobre a transição repentina: os alunos poderiam escolher a opção “P” para pular uma aula virtual, caso estivessem tendo dificuldade, sem prejudicar sua média geral.

“Foi um pouco sufocante no início. Minhas aulas de física e de ciência da computação estavam tomando quase todo o meu tempo, por isso acabei optando por pulá-las. Desde que haja uma boa comunicação com um professor, você entenderá a matéria. Caso contrário, leva muito tempo para descobrir o que deve fazer”, disse Briley Andersen, outra estudante de Hansen.

Michelle Jensen, contratada pelo distrito como instrutora de aprendizado, deu suporte aos professores e aos alunos sempre que possível. “A lógica era não atrapalhar. Esses estudantes estudarão por, pelo menos, 13 anos e nossa abordagem para esse período foi de ajudá-los a aprender a fazer esse ajuste.”

Em uma revisão da transição do distrito escolar de Timpanogos, uma equipe de pesquisa liderada por Borup e Jensen concluiu que, em grande parte, as medidas não digitais eram as que mais importavam. Os professores ofereciam horários de expediente virtual aos alunos e entravam em contato com eles quando o desempenho caía. Quando essas intervenções não surtiam efeito, os conselheiros trabalhavam com a família.

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O último período do ano letivo de 2020 foi, certamente, uma lição difícil para grande parte do sistema educacional a respeito do que as aulas virtuais poderiam ou não fornecer. O conteúdo está lá, e está acessível, em qualquer curso bem preparado. Mas, se as evidências servirem de guia, a educação virtual dependerá dos princípios da boa e velha escola para ser bem-sucedida: um ensino criativo e atencioso e o apoio paciente dos pais. Como “O Grande Gatsby” concluiu: “Então prosseguimos, barcos contra a corrente, voltando incessantemente ao passado.”

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