O “se” não joga. A frase é antiga no mundo do futebol. É também uma espécie de mantra que impede torcedores de culpar o que não se materializou ou sofrer pelo imponderável – que com Nelson Rodrigues ganhou até o sobrenome de Almeida para personificar as situações em que o acaso entra em campo. Mesmo assim o futebol é cheio de “ses”. E o Metropolitano vivenciou isso nas 17 rodadas do Campeonato Catarinense até aqui. Se Thiago Cristian não perdesse o pênalti no empate em casa contra o Tubarão, se o time não tomasse o empate do Inter de Lages na Serra, se Jean Moser não desperdiçasse gol contra o Barroso, se a bola de Trípodi no último segundo sábado contra o Criciúma entrasse.
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Agora não tem mais jeito. Se o Metrô não vencer o Figueirense, se Almirante Barroso e Inter de Lages não tropeçarem, o rebaixamento inédito do Verdão não terá mais uma conjunção subordinativa condicional de distância e será a nova realidade do clube. Isso vai representar menos dinheiro no caixa do clube, menos visibilidade, mais incerteza política e pode até afetar o trabalho da categoria de base. Confira seis fatores que podem ser impactados diretamente se (olha ele aí) o Metrô cair:
1 – PATROCÍNIOS
Hoje o Metropolitano tem sete principais patrocinadores que estampam a marca na camisa e em banners. Os contratos acabam ao final do Catarinense. A diretoria se diz confiante para renová-los até dezembro, garantindo verba para a disputa da Série D (que começa em 21 de maio) e Copa Santa Catarina (entre outubro e novembro).
O problema é que caindo para a Série B do Catarinense, disputada só a partir de julho, o time ficaria sem calendário no primeiro semestre de 2018. Renovar os acordos em janeiro seria mais difícil porque a competição não tem transmissões pela TV e a mesma cobertura da Série A, e com isso a visibilidade
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aos anunciantes é bem menor. Em razão disso, os valores das renovações também devem sofrer alguma redução.
2 – RECEITAS
Mas a grande preocupação no clube é com o dinheiro dos direitos de transmissão do campeonato. São cerca de R$ 430 mil ao ano que custeiam cerca de 70% dos gastos durante os meses do Estadual. Segundo o diretor-financeiro do clube, Evaristo Martins, todos os gastos do clube hoje giram entre R$ 200 mil e R$ 250 mil
mensais. Para a Série B, ele estima que seja possível manter orçamento de R$ 100 mil. Outras formas de geração e receitas, como o Projeto Metropolitano 100, que hoje está em ritmo lento segundo a diretoria, poderiam sofrer ainda mais. O clube atualmente gera 70 empregos diretos e movimenta outros serviços de forma indireta como ambulantes, restaurantes, transporte e espaços esportivos.
3 – ELEIÇÕES
A política do clube é talvez a maior incógnita no Metropolitano. O presidente, Pedro Nascimento, assumiu mandato tampão após a renúncia de Ivan Kuhnen em maio de 2016. A próxima eleição não tem data definida, mas ocorre em maio. É possível afirmar que pela primeira vez há uma divisão entre grupos de atuais e ex-diretores do clube. Nascimento diz que não decidiu se vai querer buscar a reeleição. Ex-dirigentes evitam falar sobre o tema, admitem possibilidade de se reaproximar “se existir um grupo de trabalho interessado”. Assembleia dia 9 de maio deve começar a esclarecer cenários e interessados. Tudo influenciado pelas dificuldades ou possibilidades que virão com a permanência ou rebaixamento do clube.
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4 – SÓCIOS E BILHETERIAS
O programa de sócio-torcedor hoje tem apenas 170 ativos segundo o presidente Pedro Nascimento e não faz muito peso nas receitas do clube. Sem grandes benefícios e com o time na segunda divisão, não é difícil projetar um afastamento maior. A diretoria defende que os números caíram após os últimos campeonatos ruins, mas que podem voltar a subir junto com ascensão do time em campo. A bilheteria, segundo o presidente, interfere pouco e só cobre os custos dos jogos. No entanto, dados dos borderôs mostram que nas nove partidas em casa neste estadual o Metrô teve 11.285 torcedores e uma renda líquida de R$ 100 mil. Em 2016, mandando jogos em Jaraguá do Sul, foram apenas 4.216 torcedores e prejuízo de R$ 9,9 mil descontadas despesas de jogo. Em 2015, último ano no Sesi, foram 11.445 torcedores e novamente um revés financeiro de R$ 9,9 mil. Com um campeonato menos atrativo ao torcedor como a Série B do Estadual, a queda pode refletir em arquibancadas vazias e onerosas.
5 – CATEGORIAS DE BASE
O Catarinense das categorias Sub-15 e Sub-17 começa no fim deste mês, mas mesmo que os times façam excelentes campanhas, terão que jogar a Série B do Estadual caso a equipe profissional do Metrô seja rebaixada. É o que determina a Federação. E aí, os juniores passariam pelo mesmo dilema de enfrentar um campeonato com baixa visibilidade e pouco atrativo aos jovens e a investidores. A base tem projeto aprovado no governo federal que permite captar até R$ 1,8 milhão com desconto no imposto de renda. Ano passado, esse modo rendeu R$ 450 mil e evitou dores de cabeça com custos de viagem e estrutura. O gasto médio nas categorias menores hoje é estimado em R$ 45 mil/mês. A ideia é repetir a dose este ano e em 2018. Caso contrário, surgirá o desafio de buscar patrocinadores para competições de menor expressão. Hoje cerca de 300 jovens entre 8 e 20 anos integram a base do Metrô. É possível que haja dificuldade em trazer jovens de outras cidades para os times em caso de descenso.
5 – ESTÁDIO MUNICIPAL
Embora o futuro estádio municipal fique ao lado do atual CT do Metropolitano, o empresário e vice-presidente da Federação Catarinense de Futebol (FCF), Ericsson Luef, articulador do projeto junto ao governo federal, afirma que uma eventual queda não interfere em nada nas etapas do estádio. Atualmente esse projeto aguarda cadastro em sistema do Ministério do Esporte para liberação de R$ 2 milhões e abertura de licitação. Mais R$ 10 milhões teriam sido prometidos para o próximo ano.
– O estádio é municipal, para o município de Blumenau, não para o Metropolitano – pontua.
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Apesar disso, a possibilidade de ter um estádio para sediar jogos e também um CT é vista por diretores como aliados para atrair patrocinadores interessados em expor as marcas nesses espaços, fortalecer o clube e também diminuir custos – no Sesi, são R$ 10 mil por jogo. Só o alojamento já teria rendido economia de R$ 30 mil mensais com hospedagens de jogadores.