Há algo mais em jogo nas eleições de São Paulo, além da definição do nome que governará a maior cidade da América do Sul pelos próximos quatro anos. Nos meandros da disputa travada entre o PT de Fernando Haddad e o PSDB de José Serra, está em gestação o rearranjo de forças que comporá o cenário eleitoral em 2014.

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Na avaliação de cientistas políticos, a decisão na capital paulista será o ponto de partida da briga pela Presidência. Se vencer, como indicam as pesquisas, o PT não só retomará o posto perdido em 2004 para Serra, como também sairá fortalecido em um cenário em que os adversários imaginavam sua derrota, influenciada pelo julgamento do mensalão.

Uma eventual vitória será a prova da influência de Lula e da popularidade da presidente Dilma Rousseff, cujas chances de reeleição se multiplicam.

– A situação é dramática para o PSDB, porque o PT está praticamente conquistando a rainha para depois dar xeque-mate no rei – projeta o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp.

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A rainha é a prefeitura de São Paulo. O rei será o governo do Estado em 2014. À oposição, resta tentar virar o cenário previsto nas sondagens eleitorais em São Paulo ou apostar no futuro. Diante da debilidade da oposição, um antigo aliado petista, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), se tornou a maior ameaça à reeleição da atual presidente. Cada vez mais próximo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ele pode ser fundamental na criação de uma chapa de oposição competitiva.

Entre o mensalão e a força de Lula

Forjado pelo ex-presidente Lula, o ex-ministro Fernando Haddad surgiu como uma incógnita no cenário eleitoral, quando a candidata natural do PT à prefeitura de São Paulo era a hoje ministra Marta Suplicy. Lula bateu pé, o partido disse amém e Haddad chegou ao segundo turno. Começou a disputa com 3% das intenções de voto. Agora tem 49%.

Tudo indica que a estratégia deu certo. Ao escolher um nome novo, sem o velho ranço petista, Lula conseguiu vaciná-lo contra os efeitos do mensalão e do antipetismo. Por mais que os adversários tenham tentado associar Haddad ao julgamento que condenou os principais líderes do PT, não colou.

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– O empenho do ex-presidente Lula e da presidente Dilma nesta eleição sinaliza para os eleitores e para a sociedade que eles consideram muito importante para o PT ganhar em São Paulo. O objetivo é consolidar a hegemonia do partido no plano nacional e quebrar a capacidade de continuidade da oposição. É uma grande disputa de influência política – diz José Álvaro Moisés, cientista político da USP.

Entre a rejeição e o antipetismo

Ex-ministro, ex-governador e ex-prefeito, José Serra entrou na disputa como favorito no início do ano, caiu no meio da disputa, correu o risco de não chegar ao segundo turno e acabou como vitorioso no dia 7, com 30,7% dos votos válidos.

O tucano conseguiu superar o fenômeno Celso Russomano (PRB) apostando na classe média e na força do antipetismo. As projeções agora, porém, não são boas: além de estar atrás de Fernando Haddad nas pesquisas (o petista tem 13 pontos de vantagem no Ibope e 15 no Datafolha), Serra enfrenta alta rejeição do eleitorado, segundo os mesmos institutos.

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Com uma eventual derrota no domingo, os tucanos já avaliam o destino do ex-governador, que é cogitado para a presidência nacional do PSDB.

– A oposição vai enfrentar um enorme desafio nesses próximos anos. Se quiser sobreviver, precisa estabelecer laços de conexão mais consistentes com a sociedade. A segunda é apresentar uma proposta alternativa clara para o país, que seja percebida pelos eleitores. O desafio da oposição é se reinventar – diz José Álvaro Moisés, cientista político da USP.