Há quase 40 dias, Santa Catarina oscila em torno de 20 mil casos ativos, a ocupação de UTIs permanece acima de 93% desde fevereiro, ainda há fila de espera por vagas em terapia intensiva e mais de 50 pessoas morrem todos os dias por covid-19. A impressão de que a pandemia está sob controle no Estado é ilusão, alimentada pelo cenário de estagnação dos números. Santa Catarina estacionou no combate à pandemia em patamares elevados e às portas do inverno, quando costuma aumentar as internações por doenças respiratórias.

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Um cenário perigoso, sobre o qual o próprio secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro – que reassumiu o cargo nesta semana, após a absolvição do governador Carlos Moisés no processo de impeachment dos respiradores –, admitiu haver risco de novo agravamento da doença nas próximas semanas.

Para a epidemiologista que integra o Observatório Covid-19 BR, Alexandra Boing, Santa Catarina vivenciou um cenário catastrófico nos últimos meses e, por isso, existe uma falsa sensação de melhora. Ela lembra, no entanto, que isso não significa que o pior já passou.

O Estado continua convivendo com o colapso do serviço de saúde. Existem pessoas esperando por vagas tanto de UTI, como de leito clínico. Isso ocorre desde fevereiro e, até hoje, Santa Catarina continua com pessoas sem o atendimento que necessitam. Alexandra Boing, epidemiologista.

O superintendente da Diretoria da Vigilância Epidemiológica do Estado, Eduardo Macário, em entrevista ao Jornal do Almoço da NSC TV, atribuiu os encontros familiares e entre amigos como a principal causa do alto patamar de casos ativos neste momento.

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– As pessoas acabam se reunindo, no máximo 10, 15 pessoas para fazer almoço, jantares, churrascos e acaba que uma dessas pessoas pode estar infectada pelo coronavírus e, mesmo assintomática, pode transmitir para outras pessoas. Precisamos reduzir o número de casos antes do inverno – atesta.

Com exceção da Grande Florianópolis, que de maneira consistente tem conseguido achatar a curva de casos ativos de covid-19, as demais cinco grandes regiões apresentam aumento: Oeste, Norte, Vale do Itajaí, Sul e Serra. Nesta semana, a mais grave é a região Oeste, epicentro do colapso em março e que voltou a concentrar o maior número de pacientes com a doença no Estado.

A falsa melhora apontada pelos indicadores nas últimas semanas

A sensação de melhora é alimentada pelas notícias de gradual redução das mortes diárias e pela falta de aumento na fila de espera por leitos de UTIs, que desde o surgimento, no fim de fevereiro, nunca zerou totalmente. No início de abril, a média semanal de mortes era de 811, caindo para 375 no início de maio (53% de redução). Ainda que tenha apresentado redução, o patamar é elevado quando comparado até mesmo aos picos da pandemia em agosto e dezembro, que não atingiram 360 mortes semanais.

A fila de espera por vaga na terapia intensiva tinha 280 pacientes em 1º de abril, e a média em maio tem sido de 36 pacientes por dia, encolheu quase 8 vezes. Por outro lado, a má notícia é que desde 20 de fevereiro a taxa de ocupação das UTIs adulto do SUS é superior a 90%. É nos leitos adultos onde estão internados 99 em cada 100 pacientes com covid-19.

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Mas o que acende o alerta para o que vem pela frente é o fato de haver número elevado de casos ativos de covid-19 em Santa Catarina, de patamares superiores aos vivenciados no inverno passado. Apesar de o número ser 50,7% menor do que o pico da pandemia, alcançado há dois meses, entre 6 e 13 de março, o atual número ainda é bastante elevado. Principalmente se comparado a janeiro e fevereiro deste ano e ao primeiro ápice visto no Estado, em agosto, quando havia 13,3 mil pessoas em tratamento contra a covid-19 simultaneamente.

O comportamento do surto da doença no Estado é perceptível nos dados. Após um pico de casos ativos, leva-se em média 10 dias para que as UTIs também apontem aumento de ocupação. Dali em diante, bastam em média mais 5 dias para haver novo pico de mortes. Ocorre que desde o segundo ápice da pandemia, em dezembro, a situação das UTIs do Estado não é confortável. Além disso, um paciente com covid internado em terapia intensiva ocupa o leito por 14 dias, em média, até que se cure ou não resista à doença.

A situação atual é sensível porque um repentino aumento nos casos ativos terá impacto quase imediato no sistema hospitalar, já saturado há quase seis meses consecutivos. E, mais uma vez, o Estado pode assistir às tristes cenas de hospitais lotados, pacientes sem acesso à terapia intensiva e transferência às pressas para outros Estados.

– Ter uma taxa de ocupação acima de 90% e um alto número de casos ativos é extremamente crítico. Normalizar este tipo de cenário nos dá a impressão de que o apreço pela vida humana, pela saúde da população não é prioridade da gestão. É possível evitar uma próxima onda, mas para isso é preciso agir, implementando medidas que são sabidamente eficazes – defende a epidemiologista Alexandra Boing.

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O que fazer para controlar o surto nos próximos meses

Falha no sistema de vigilância é o que explica o alto número de casos ativos de coronavírus, na avaliação do professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Menegon. E é esse controle de rastreamento dos infectados que precisa ser colocado em prática.

Não fomos capazes de fazer o monitoramento dos casos ativos e de seus contatos. Assim, o vírus se espalhou de forma descontrolada, infectando pessoas e levando a curva de casos ativos sempre para cima. Se olharmos as curvas nas três ondas que tivemos no Estado, vamos notar que em nenhuma das vezes conseguimos baixar a curva para o número de casos no início da onda. Na próxima, portanto, já partiremos de um saldo elevado de casos. Fabrício Menegon, professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC

Mesmo diante da possibilidade de uma nova onda, o secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, enfatiza que as regras atuais de enfrentamento à pandemia serão mantidas e que não haverá restrições mais rígidas na circulação de pessoas, nem na ocupação dos estabelecimentos.

Na avaliação dos especialistas, as ações ao alcance para controlar os níveis de transmissão do coronavírus precisam funcionar simultaneamente: controlar o avanço de casos ativos e aumentar o ritmo de vacinação.

– Enquanto não conseguirmos acelerar a vacinação, são necessárias medidas para diminuir a circulação de pessoas, como foi feito em outros países para conter a circulação do vírus. Já existem conhecimento científico e vacinas, então não é tolerável que medidas restritivas não sejam implementadas – sentencia Alexandra Boing.

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Quando a vacinação dava os primeiros sinais de eficácia, ritmo diminuiu

No fim de abril, reportagem da NSC constatou que a proporção de idosos entre o total de internados e mortes a cada semana caiu gradativamente desde que a vacinação começou, em janeiro. Os impactos foram vistos principalmente entre as pessoas com mais de 80 anos, os primeiros atendidos pela campanha.

Veja os detalhes no gráfico abaixo, em que as faixas em cinza representam o percentual de mortes de pessoas de 0 a 59 anos na semana em questão, e as demais, em cores, representam faixas etárias que já estão recebendo a vacina.

Abril foi o melhor mês da vacinação, quando até 40 mil doses diárias foram aplicadas no Estado. Mas em maio a situação se retraiu, para um patamar de 24 mil ao dia, em média, nesta semana, segundo o Monitor da Vacina, do NSC Total.

Em entrevista ao programa CBN Hub, da Rádio CBN Diário, o secretário da Saúde informou que o ministério não tem cumprido a agenda de distribuição de vacinas. André Motta Ribeiro também admitiu que o calendário de imunização em Santa Catarina está atrasado.

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Apenas 9,31% da população catarinense está completamente imunizada, com duas doses da vacina contra a covid-19. O percentual está distante dos 80%, estimados por epidemiologistas como o seguro para a desaceleração do contágio.

A pouco mais de um mês do início do inverno, a estação é mais um agravante. Com as temperaturas mais baixas, as pessoas tendem a ficar em locais com menos ventilação, em ambientes fechados e com maior probabilidade de aglomeração. Somam-se a isso, os riscos de outras doenças respiratórias que são mais frequentes nesta época do ano e que também costumam conduzir às UTIs os casos mais severos.

– Todas as pessoas que puderem se vacinar contra a influenza, que o façam, pois a prevenção da gripe ajuda os serviços de saúde a reduzirem o atendimento de casos por complicações respiratórias – reforça Menegon, da UFSC.

Além disso, medidas já conhecidas, como distanciamento social, higienização das mãos, uso de máscara e ventilação dos ambientes, mesmo em dias mais frios, são fundamentais.

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