Se a campeã ainda não tiver passado, em um domingo tão forte, a decisão do Grupo Especial acontece hoje, nos detalhes. Há muito não acontecia, em uma só noite, o encontro de gigantes desta segunda-feira. Portela e Mangueira em sequência, o Salgueiro no mesmo desfile e mais a Imperatriz.
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Os sorteios para organização da programação eram dirigidos para evitar que se tivesse as melhores em um só dia. Era o tempo das quatro grandes: Império Serrano, Portela, Mangueira e Salgueiro. Vieram as fases de vitórias da Beija-Flor, Mocidade e Imperatriz, mudou o ranking, hoje liderado pela Beija-Flor, que também ganhou torcedores e se coloca ao lado das tradicionais em popularidade e envolvimento com as arquibancadas. Mas, Portela e Mangueira ainda parece Fla-Flu ou Gre-Nal.
Esta será uma segunda-feira de luxo, para se cuidar de cada pedaço de chão em que as escolas pisarem. O giro da porta-bandeira, o avanço da comissão de frente, a entrada e saída da bateria no segundo recuo, a chegada na Apoteose, tudo vai contar. A campeã terá poucos pontos de vantagem, ou décimos, como nos últimos anos.
Confira os destaques das escolas abaixo e veja a programação da noite:
Curiar é o verbo
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Eu curio, tu curias, ele curia. A ordem é todo mundo curiar. O enredo do carnavalesco Max Lopes para o Porto da Pedra vai festejar a curiosidade. A mente humana, curiosa, retira de suas indagações o progresso da ciência, as descobertas, os sonhos, façanhas e pesadelos. O refrão do samba de Fábio Costa, David de Souza e André Félix é um dos caminhos para chegar ao desfile das campeãs. “Sou Porto da Pedra e não vou me calar/ Eu sou curioso e quero saber/ Se é bom para o mundo, se vai melhorar/ É proibido por quê?” Se a galera entrar no embalo do intérprete Luizinho Andanças, pode acontecer uma boa classificação, mas a escola de São Gonçalo não é candidata ao título.
Lá vem Salgueiro
Arrepia…arreda que lá vem Salgueiro! O grito de guerra do excelente Quinho faz furor na Sapucaí. Tem sido assim desde Explode Coração, em 1993. A vermelho e branco tem chances de sacudir o Sambódromo outra vez. O enredo vai ser puro Carnaval. Uma homenagem às baterias e ao Mestre Louro, falecido em 2008, depois de comandar o Salgueiro por 25 anos. O tema se amplia e exalta a presença do tambor nas diversas fases da história da humanidade, como instrumento musical, meio de comunicação entre homens e destes com os deuses, ou como peça de folguedos e manifestações folclóricas. Se considerarmos ainda a qualidade do carnavalesco Renato Lage e a força de sua comunidade, o Salgueiro é candidatíssimo.
O dom de versar
Para festejar seu cinquentenário, a Imperatriz Leopoldinense vai falar do bairro de Ramos, mostrando-o como um berço do samba. Fala-se em Madureira, Vila Isabel e no Estácio como redutos de bambas, mas a verde e branco da Leopoldina vai mostrar que faz samba também. O Cacique de Ramos, o grupo Fundo de Quintal e os grandes compositores do lugar estão no enredo de Rosa Magalhães. O samba afirma: “Quem é do bairro nasceu com o dom de versar”. Para cantá-lo, Paulinho Mocidade, um colecionador de títulos, cantando muito. Da competência do barracão e da categoria para desfilar nem se fala. Nos ensaios técnicos deu para ver a perfeita evolução de todas as alas. E, se isso é pouco, ainda tem Luiza Brunet em fase dourada. Não se espantem se a Imperatriz estiver no pódio, talvez no alto.
Portela amada
Cheia de amor pra dar e muito amada por seus torcedores, a Portela quer falar do amor que o mundo esqueceu. Contando histórias de amores célebres que enriqueceram o folclore medieval, a Portela se inspira e faz uma reflexão sobre a distância e o isolamento que existem entre as pessoas. Como exemplo, mostra como dura pouco um amor de carnaval. Um culto à própria tradição encerra o tema. A Portela sempre sabe cantar suas glórias e vai fazê-lo hoje à noite, com o bom samba de Diogo Nogueira, Ciraninho, Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo e Júnior Escafura. Gilsinho é certeza de canto forte, a evolução sempre é boa, fantasias também. Alguma fragilidade pode vir do barracão, porque nos outros quesitos a águia de Madureira se segura. Luma de Oliveira? Tem de se ver primeiro. Há quem diga que ela não combine com a Portela.
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Povo brasileiro
A carnavalização e dramatização da obra de Darcy Ribeiro sobre a formação do povo brasileiro fazem o enredo da Mangueira, que promete mergulhar em nossas origens, a começar por dez mil anos de cultura indígena, passando pela chegada dos europeus, a escravização dos negros e a miscigenação. Parece que você já viu isso, não é mesmo? Com certeza, todos vimos. Várias vezes. O diferencial é a tese mangueirense de que, apesar da diversidade de culturas, o povo brasileiro se mantém unido e orgulhoso de suas tradições. Com facilidade, a Mangueira pode escorregar para um ufanismo fora de moda. A verde e rosa lutou com alguma dificuldade para completar seu barracão e perdeu alguns patrocínios. Superar isso exigirá muito da nação mangueirense, mas ela pode. Tem povo e tem história, tanto quanto o povo brasileiro inteiro.
Bahia, orixás, axé!
O Salgueiro já cantou a velha Bahia com o antológico Bahia de todos os deuses. O Viradouro pensou em uma reedição, mas tomou o rumo de fazer uma recriação. O encontro de Orum com Ayê, Olorum mandando cuidar seu jardim e o sincretismo religioso que leva Oxalá a ser homenageado nas escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim são cenas de muitos carnavais. Faltará ao Viradouro a força do inédito, do jamais visto, do surpreendente. Bateria de Mestre Ciça tem um 10 garantido, Milton Cunha é carnavalesco competente e David do Pandeiro tem como sua marca o jeito entusiasmado de cantar. São possibilidades de um resultado razoável, mas nada acima disso.