A carta psicografada é feita a partir de um médium sob a influência de um espírito desencarnado. Trata-se de uma importante forma de comunicação, só que escrita.
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No entanto, existem diferentes tipos de médiuns psicográficos. O mecânico é aquele que movimenta a mão e escreve sob influência direta do espírito, sem qualquer tipo de interrupção enquanto há comunicação.
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Francisco Cândido Xavier, ou Chico Xavier, foi o médium brasileiro mais conhecido que utilizou essa técnica.
Já o médium intuitivo atua como um intérprete, transmitindo o pensamento do espírito. O semi-mecânico escreve, mas com consciência do que está sendo passado para o papel.
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E o médium inspirado recebe as mensagens estando em êxtase. Pode exibir diversas características do espírito de maneira espontânea.
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Dando início ao trabalho de psicografia
O médium só precisa de um lápis e papel. O codificador Allan Kardec, importante propagador da doutrina espírita, documentou algumas recomendações.
A prece de abertura, por exemplo, deve ser feita em nome de Deus e dos bons espíritos. A ponta do lápis deve ser mantida apoiada no papel, sem resistência aos movimentos.
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Outra recomendação é que o médium não tenha outros acessórios na mão, como anéis e pulseiras, pois estes podem oferecer obstáculo ao movimento. E quem está em treinamento deve exercitar a psicografia diariamente.
O espírito se manifesta em algum momento. Nos médiuns semimecânicos, a mão reage com alguns pequenos movimentos involuntários.
Como se trata de uma prática aprimorada com o tempo, é comum que os escritos melhorem e se tornem mais consistentes. Contudo, alguns espíritos se manifestam apenas com desenhos ou rabiscos.
O médium, nesse processo de treinamento, deve formular perguntas de forma simples ao espírito, de preferência que possam ser respondidas com “sim” ou “não”. Nesse caso, as perguntas objetivas são as ideias. Respostas mais completas vêm com o tempo.
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Importantes cartas psicografadas ao longo da história
Por mais de 60 anos, Chico Xavier praticou a técnica da psicografia e se comunicou com milhares de espíritos. As mensagens têm muitas informações íntimas, como nomes de parentes e detalhes da morte — detalhes que somente a família sabia.
Uma dessas cartas trazia a mensagem de despedida do menino Rangel, de 3 anos, que faleceu depois de um acidente de bicicleta.
A carta de Rangel, o menino de 3 anos
A carta psicografada foi escrita um ano após a morte e trazia uma caligrafia de traços infantis, parecidos com os de uma criança que estava aprendendo a desenhar as letras.
Aqui estão alguns trechos:
Querido papai Aguinaldo e querida mamãe Célia, com vovó Lia. Sou eu o Tetéo. Estou com o meu avô Lico e com a minha tia Gilda. Vovô me auxilia a escrever porque estou aprendendo. Estou vendo a tia Lé.
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Eu estou vivo e vou crescer. Estou aprendendo a escrever só para dizer ao seu carinho e ao carinho da mamãe Célia que não morri.
Vou aprender muitas coisas e muitas lições para saber escrever melhor. Mas já estou mais adiantado que a Mariana e creio que o Aguinaldinho ficará satisfeito. Papai, mamãe, Vó Lia e Tia Lé, não posso escrever mais porque fiquei cansado de fazer letras. Mas quando eu puder, voltarei. Estou com muitas saudades (…)
Chico Xavier, no entanto, não sabia que o apelido de Rangel era Tetéo. Muito menos que Vô Lico era como a criança chamava o seu avô materno, Manoel Diniz, morto em 1979 e que presidiu o Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado por Chico, na cidade mineira de Pedro Leopoldo.
Ainda tem mais: Gilda era tia do pai de Rangel, Aguinaldo, e até ele se lembrava pouco dela. Tetéo nem chegou a conhecê-la! Já a Tia Lé era uma amiga da família.
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Mesmo Chico conhecendo a família, a carta psicografada trouxe mais informações íntimas. Uma delas era de que Mariana, irmã de Tetéo, não gostava tanto de estudar e que Aguinaldinho, o irmão mais velho, era muito aplicado nos estudos e fonte de inspiração do mais novo.
Joviano, o professor influente
Arthur Joviano nasceu em 1862 e foi um conhecido educador brasileiro no final do século 19, por ter liderado a primeira reforma no ensino primário no Estado de Minas Gerais. Faleceu em 1934.
Professor de Português e autor de livros pedagógicos, teria feito contato com a família por meio de Chico Xavier na época em que ele trabalhava para o seu filho, Rômulo, no Ministério da Agricultura.
Foram as muitas cartas de Arthur Joviano que marcaram o início da psicografia do médium mineiro e resultaram no livro Sementeira de Luz, com mais de 600 páginas.
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Em uma das mensagens, de 13 de janeiro de 1941, Arthur Joviano teria dito:
Meus caros filhos e queridos netos, seja a paz de Deus a alegria de vocês todos. Na visita afetuosa de sempre, renovo-lhes minha dedicação de cada dia.
Durante quase todo o dia em que se comemorou seu aniversário, minha bondosa Maria, estive ao seu lado com os votos paternais de muito amor, pedindo a Deus por sua saúde e tranquilidade.
À noite, sua e nossa amiga Helena trouxe muitas flores. Você não as viu, mas recebeu-lhes o perfume no coração.
Maria é nora de Arthur, a esposa de Rômulo e mãe de seus filhos Roberto e Wanda. Já Helena era amiga de Maria e de suas irmãs, mas faleceu muito jovem.
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Agora que vocês se dispõem a viagens novas, fiquem convencidos de que repartirei o tempo disponível entre as duas zonas opostas – norte e sul. Lembram nossa troca de ideias quando se organizavam para a primeira viagem à Fortaleza?
Como veem, as experiências se repetem, apenas com a renovação dos detalhes. Estimo que Roberto aproveite bastante.
Maria e Rômulo viviam em Pedro Leopoldo, no entanto estavam planejando uma ida ao Rio de Janeiro para visitar familiares que eram mais próximos de Joviano.
O fim da carta ficou marcada pela assinatura feita por Chico Xavier, idêntica a de Arthur Joviano em documentos oficiais.
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William, o filho que não queria partir
William Figueiredo era o quarto filho de Aníbal e Adélia. Nasceu em Belo Horizonte, em 1924, mas aos 17 anos, após ingressar no Exército, adoeceu por causa de um calo infeccionado.
Foram meses de internação no hospital, entretanto a infecção progrediu para uma gangrena sem chances de cura. Esse foi o motivo de sua morte, no mês de setembro de 1941.
Um mês depois, Chico Xavier começou a psicografar as cartas de William Figueiredo e enviá-las para sua mãe. Isso ocorreu até a década de 1980!
Querida mamãe, peço ao seu bom coração que me abençoe e, por minha vez, rogo a Deus que nos ajude a vencer suas lutas de sempre.
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Sua alma sensível continua atravessando o perigoso mar das provas e prossigo ao seu lado, somando, quando lhe faltam, forças no leme para a condução do barco, sei como lhe dói a tempestade dos últimos dias.
Para o espírito materno, as nuvens do horizonte dos filhos são sempre mais pesadas e mais tristes. Multiplicam-se as dores, os receios, as aflições.
As dores, receios e aflições eram uma referência à preocupação de Adélia em relação ao irmão mais velho de William, Wilson, que era muito boêmio e gostava de jogos.
Entretanto, nesse pedido, eu desejo apelar para o Wilson para que ele transforme o caminho, melhorando-o. Diga-lhe, em nome de minha dedicação fraternal, que a vida humana é um eterno aprendizado divino do qual não nos desviaremos sem graves consequências. Ele agora é casado, é esposo e é pai.
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O Divino Senhor, que eu percebo melhor presentemente, conferiu-lhe deveres verdadeiramente sagrados. Lourdes e o filhinho constituem-lhe agora um sublime propósito ao qual está preso por laços sacrossantos.
Não é justo que se perca, através de aventuras, complicando o futuro e perdendo os melhores anos da existência. (…) Como lhe acontece, estou também preocupado com ele. Quisera voltar aos nossos com a experiência que hoje possuo a fim de despertá-los para a senda leal do espírito (…)
Na carta psicografada de William Figueiredo, há o nome da esposa do irmão mais velho, Lourdes, e a confirmação de que sabia que ele estava se perdendo em aventuras.
O mais surpreendente vem no trecho a seguir:
Estou ajudando na procura do caderno perdido (E). De qualquer forma, não se incomode. A maior mensagem que eu lhe posso dar é a do meu coração e esse está constantemente ao lado do seu. Agradeço pelas maravilhosas lembranças (…)
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O caderno perdido a que William se refere é de Chico Xavier, onde há mensagens de uma tia da família, Margarida. É nele que consta a primeira carta à Adélia, psicografada pelo médium durante a madrugada do dia 25 de setembro de 1942, no primeiro ano da morte do jovem.
Há o registro de cartas psicografadas de celebridades que já faleceram. Uma delas, em 2015, foi atribuída à Cássia Eller e divulgada nas redes sociais.
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